Não perca “Entre Facas e Segredos”

 

 

Este 2019 foi um ano de muitos filmes bons. Obras que ocuparam várias dimensões de possibilidades do Cinema. Teve declaração de relevância artística, teve hype, teve consistência da produção nacional, teve reflexão duríssima sobre o atual estado da humanidade e teve um número considerável de filmes ótimos, feitos apenas para a fruição, para a diversão. Filmes que, se fossem refeições, equivaleriam a um ótimo prato de comida italiana, numa cantina aconchegante, por um preço justo e na melhor companhia. Em certos momentos, nada vale mais que isso, certo? Pois este “Entre Facas e Segredos” é um bom exemplo deste Cinema de entretenimento feio com maestria, inteligência e resultado beirando a perfeição.

 

Escrito e dirigido por Rian Johnson (“O Último Jedi”, “Looper”), “Entre Facas…” é uma homenagem aos filmes de detetive, naquele esquema do “quem matou e por que” que, por sua vez, eram derivados dos livros escritos por gente como Agatha Christie e George Simenon. Johnson, que é um cara inventivo e talentoso, resolveu dar uma atualizada no gênero e se saiu com um dos longas mais bacanas de 2019. “Entre Facas…” tem estilo, ritmo, roteiro cheio de reviravoltas e um elenco de fazer inveja a muita superprodução por aí. Temos Toni Colette, Jamie Lee Curtis, Don Johnson, Michael Shannon, LaKeith Stanfield, Christopher Plummer, Chris Evans e duas ótimas atuações: Ana de Armas e Daniel Craig.

 

A história é a seguinte: o escritor milionário Harlan Thrombley (Plummer) é encontrado morto em sua mansão em Norfolk, Virginia, aparentemente, após cometer suicídio. As investigações têm início e, além da polícia, está presente o renomado detetive Benoit Blanc (magistralmente interpretado por Craig). Logo temos contato com a família de Harlam, um bando de picaretas interesseiros, com situações comprometedoras de todos os tipos. E também tomamos conhecimento da existência de Marta (de Armas), a enfermeira/cuidadora do morto, que era sua principal amiga e confidente. Aos poucos o roteiro vai convidando o espectador a se embrenhar numa trama de traições e contradições, que vão conduzindo as ações para falsos finais e conclusões. Nada é o que parece ser.

 

O grande barato do longa é a capacidade de Rian Johnson trazer novidades para o gênero detetivesco. Por exemplo, além do humor em vários momentos, temos alusões a xenofobia, conservadorismo, Internet, fake news e o roteiro vai mostrando que, no fim das contas, é cada um por si, na hora que a situação aperta. A ambientação é perfeita, a trilha funciona como um aditivo ao clima proposto e o roteiro é à prova de falhas. Não posso pensar em recomendação melhor para uma sessão de cinema desopiladora, que vai prender a atenção do espectador do início ao fim.

 

Uma dica: preste muita atenção aos detalhes para não se perder na hora que as explicações surgem na telona. Há reviravoltas constantes e, repito, nada é o que parece ser.

Outra diga: deleite-se com o “problema” que a personagem de Ana de Armas tem em … mentir. Poucas sacadas são tão legais quanto esta.

Conclusão: Daniel Craig – que, por coincidência, também contracena com de Armas em seu próximo filme de 007 – é ótimo ator e tem tudo para ganhar mais e melhores papéis longe da pele de Bond, James Bond.

 

 

Entre Facas e Segredos (Knives Out)

Estados Unidos, 2019

De: Rian Johnson

Com Daniel Craig, Ana de Armas, Jamie Lee Curtis, Chris Evans, Don Johnson, Michael Shannon, Toni Collette.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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