Maximo Park: guitarras e fraldas

 

 

Maximo Park – Nature Always Wins

Gênero: Rock alternativo

Duração: 44 min.
Faixas: 12
Produção: Ben Allen
Gravadora: Prolifica/PIAS

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Maximo Park é uma banda de Newcastle, norte da Inglaterra. É um desses grupos “à moda antiga”, no sentido do rock feito depois do ano 2000. Isso quer dizer: temos um toque de psicodelia pós-milênio, umas pitadas de guitarras pós-britpop e um punhado generoso de abordagem strokiana do que se tornou o tal “indie rock” a partir de então. Muitos dirão que não funciona, outros torcerão a cara e os fãs conservadores do estilo nem saberão de sua existência, mas este sétimo trabalho reafirma o talento dos caras, a saber, Tom English, Duncan Lloyd e o cérebro pensante, Paul Smith. É dele o sotaque carregado nas músicas, bem como a assinatura na autoria das composições. E nesses tempos de pandemia, as bandas e artistas estão soltando sua produção concebida durante o isolamento social. Assim é com o Maximo Park, mas este bom “Nature Always Wins” é um trabalho que tem na esperança o seu ponto de apoio. E por quê, ora, bolas?

 

A resposta é simples: todos os integrantes do grupo se tornaram pais quase ao mesmo
tempo e estão irremediavelmente apaixonados por suas crias e “vivendo este momento lindo”, como diria Roberto Carlos. Deste jeito, realmente, não dá pra pensar em ser pessimista e fazê-lo seria injusto. Por isso não dá pra cobrar do grupo uma outra postura que não seja a deste exuberante ramalhete de doze canções. A produção é de Ben Allen, que já assinou trabalhos do Animal Collective e do Deerhunter, duas bandas que têm pés fincados nesta psicodelia neo-millennial que mencionamos acima. Apesar disso, as canções de “Nature Always Wins” estão longe de qualquer viagem. É tudo muito bem feito, bem produzido e direto ao ponto. Algumas dessas faixas têm potencial para se tornarem hits em qualquer parada de indie rock que se preze.

 

O segundo single, “Baby, Sleep” salta aos ouvidos por ter uma batida muito próxima do que a gente entre por … forró. Não é novidade, já ouvimos isso antes em bandas e artistas gringos, mas é sempre legal dar de cara com ela. A letra e o andamento da canção têm algo de rap, tudo amarrado com muitas guitarras e a melodia é grudenta o bastante para a canção não ir embora da mente tão cedo. É tudo calcado nesta liberdade que o rock alternativo ganhou nos últimos 20 e tantos anos, quando incorporou uma série de influências e reprocessos, ficando quase impossível detectar influências e detalhes com mais precisão. O Maximo se insere nesta fornada, é tanta informação, tanta referência, que quase tudo – inclusive esse andamento de forró – cabe sem muito questionamento. E logo numa canção que enaltece a paternidade fala de suas agruras, como é o caso.

 

Há outros ótimos momentos. “Child Of The Flatlands”, outro single, surge no fim do álbum, com uma levada séria e dramática, que vai se transformando em narrativa sobre a sobrevivência na mesma Newcastle que serve de pano de fundo no longa de Ken Loach, “Você Não Estava Aqui”. E tem a majestade pianística e aerodinâmica que atende pelo nome de “Why Must A Building Burn”, que é um discreto e objetivo exercício de ourivesaria pop. Tudo funciona nos seus pouco mais de três minutos de duração. E tem a melhor canção do álbum, “The Acid Remark”, que exibe aquele efeito de “máquina do tempo”, soando, ao mesmo tempo, algo que poderia ter sido gravado em 1981 e em 2001. Tem guitarras strokianas em andamento que lembram a ótima “Reptilia” e um clima alegrinho que amarra tudo com lacinho para presente.

 

“Nature Always Wins” é um exemplo de disco de rock alternativo em 2021. Tem informação, conceito, pandemia, paternidade, guitarras, boa banda, conhecimento de causa e o mais importante de tudo: ótimos momentos. Não tem por que você não ouvir e amar.

Ouça primeiro: “Baby, sleep”, “The Acid Remark”, “Why Must A Building Burn?”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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