Liam Gallagher – Why Me? Why Not.

 

Gênero: Rock alternativo
Duração: 51 minutos.
Faixas: 14
Produção: Greg Kurstin, Andrew Wyatt, Simon Aldred, Adam Noble
Gravadora: Warner

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Você anda procurando por um novo disco do Oasis? Sim, sei que é impossível, porque a banda acabou há mais de dez anos, mas, sério, dá pra matar as saudades com este novo disco de Liam Gallagher, “Why Me? Why Not”. São onze canções – quatorze na versão deluxe – que celebram as glórias e a musicalidade da velha banda dos irmãos Gallagher. Está tudo aqui: a voz característica, os arranjos guitarreiros harmoniosos, as ótimas canções – todas elas de Liam com parceiros – e um clima de revisionismo sincero, na onda do “eu só sei fazer isso, logo, vou fazer bem feito”. É um disco arejado, solar e cheio de belas canções. No fim das contas, é isso que a gente quer, né?

 

Liam vem com um time de produtores: Greg Kurstin, Andrew Wyatt, Simon Aldred e Adam Noble, todos motivados pela missão de configurar a musicalidade do sujeito para uma realidade em que o rock já não vai lá das pernas e que, muito provavelmente, a banda que tinha com o irmão foi o último baluarte incontestável do estilo a dominar o mundo, hoje sob a influência das mil tendências de pop. Greg Kurstin, inclusive, é o cara que assinou a produção dos últimos discos de Foo Fighters e Paul McCartney, só pra ficarmos nos mais relevantes. Enquanto Noel Gallagher aproveita seu tempo solo com os Flying Highbirds para polir sua veia psicodélica e infusionada de música eletrônica, Liam, como dissemos, vai na sua – como diriam os coaches – zona de conforto. E, não, ele não quer “pensar fora da caixa”. Ainda bem.

 

Assim como foi com o álbum anterior, “As You Were”, este novo trabalho, se comparado ao que Noel vem fazendo, vai conquistar os órfãos do Oasis com muito mais facilidade. Canções como a faixa-título e “One Of Us”, por exemplo, correspondem às variações da velha banda. A primeira tem aquele arranjo grandiloquente com cordas e detalhes de produtor, enquanto a outra tem a dinâmica de uma “Wonderwall” e umas mil passagens que parecem tiradas de várias gravações anteriores do Oasis. E nada disso soa como autoplágio ou algo no gênero, é apenas Liam fazendo liamices musicais, exatamente o que se espera dele. E tem um punhado de canções realmente legais por aqui, que nos fazem lembrar de como a matriz beatle de rock songs ainda é válida e dá caldo.

 

A baladaça “Once” é uma lindeza apoteótica e cheia de belas guitarras em crescendo. O single “Shockwave” é uma cacetada aerodinâmica na orelha, com rapidez e harmonia em doses exatas. “Now That I’ve Found You” é aquele tipo de canção “eu acordei feliz hoje e vou fazer um piquenique no parque com meu amor”. É exatamente isso. “Be Still” é mais invocada, pesada, com guitarras em timbres interessantes e a velha voz roufenha por cima de tudo, amarrando o produto com a velha classe. “Alright Now” é psicodélica na medida certa, cheia de viradas de bateria e a impressão de ter sido feita lá por 1968. Este também é o caso de “Meadow”, com aquela melodia e arranjo característicos, reciclados, revistos e, ainda assim, familiares. Pra fechar mais uma canção de estádio com guitarras invocadas (“The River”) e mais uma baladaça rock: “Gone”. Dentre as faixas-bônus da versão deluxe, “Misunderstood” é uma lindeza preguiçosa e nostálgica e “Glimmer” é, simplesmente, a melhor coisa que leva a voz de Liam desde, sei lá, 1995.

 

Fica a curiosidade de ver como os irmãos trabalhariam em conjunto hoje. Ambos cresceram em termos artísticos, mas, se um deles aumentou de tamanho e relevância, este é, sem dúvida, Liam Gallagher. E ele entregou mais um disco sensacional.  Noel, segue o líder.

 

Ouça primeiro: “Glimmer”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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