Imagine Dragons lança disco produzido por Rick Rubin

 

 

Imagine Dragons – Mercury Act.1

Gênero: Pop

Duração: 42:12 min.
Faixas: 13
Produção: Rick Rubin
Gravadora: Interscope

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

 

 

Até este quinto disco, eu gostava apenas de uma música do quarteto americano Imagine Dragons: “Radioactive”, presente no primeiro trabalho deles, “Night Visions”, de 2012. A sonoridade mutável do grupo e seu approach bombástico e “maior do que a vida” em shows, me irritava bastante e tudo parecia existir para distrair o público da pobreza da música dos caras. Os efeitos, as explosões, a figura do vocalista e líder Dan Reynolds, indo e vindo sem camisa pelo palco, deixava as canções com um papel quase secundário. Mas, mesmo assim, o Imagine Dragons provou ser eficiente o bastante para ter vida e existência próprias no mundo do pop multimarket mundial. Eles têm quase 40 milhões de ouvintes mensais só no Spotify e os dois singles deste novo álbum, “Mercury, Act.1” mais de 200 milhões de audições até agora. Sendo assim, quando uma banda como esta ressurge com um trabalho em que apresenta novas direções, é bom dar uma olhada para ver do que se trata. Neste caso, vale a olhada.

 

O Imagine Dragons convocou o veterano produtor Rick Rubin para pilotar o estúdio e dar a profundidade sonora que parecia faltar até agora. O resultado é promissor e, se não faz do grupo alto impressionantemente melhor, dá o tom de que podemos estar diante de uma nova fase na trajetória. Tanto os arranjos, os instrumentos, como os temas das letras apontam para uma redução nesta dimensão super-humana que o Imagine Dragons ostentava até agora. Tudo em sua música e shows apontava para explosões de refrãos, letras compostas por brados na beira de precipícios metafóricos, querendo voar, com trovões ao redor e domesticando furacões. Tudo era quase uma sessão daqueles raka-coachings bombásticos, o que era, como já disse, irritante. Por isso, ver os mesmos caras refletindo sobre as perdas de pessoas queridas, aceitando que está tudo bem se não formos perfeitos e que as coisas vêm e vão fácil demais nessa vida, dá uma certa sensação de que, sim, são humanos.

 

Rubin consegue colocar o grupo num sistema bem pensado de trilhos. Os instrumentais não abrem mão da contemporaneidade pop, ou seja, são cheios de beats, programações, teclados mas, ao mesmo tempo, não abrem mão de focar tudo na voz de Reynolds que mostra uma considerável habilidade no manuseio desses limites vocais. Ele se sai bem tanto em semi-baladas, como “Easy Come, Easy Go” – na qual cabem falsetes e sobreposições de camadas de vozes – como na explosiva “Cutthoat”, remanescente dos primeiros dias do Imagine Dragons, na qual as cordas vocais de Reynolds parecem prestes a se arrebentar. Ou seja, a mutabilidade sonora ainda está presente, mas sua dimensão é mais humana, menos bombástica e exagerada.

 

Algumas músicas mostram bons achados líricos e melódicos. O single “Wrecked” é uma prova desta nova dimensão humana. Fala da perda da cunhada de Dan Reynolds, com uma melodia bonita, ainda que o arranjo ainda vá muito alto na parte do refrão e isso não faça muito sentido numa canção sobre luto, mas tudo bem. A melhor canção é “Monday”, que parece uma demotape do Muse atual, sem muitas guitarras e se valendo de um Gameboy Nintendo para fazer as vezes de teclado, com resultado muito legal e surpreendente. “It’s OK”, sem trocadilho intencional, é OK, com melodia bacaninha e letra otimista. “Follow You”, o primeiro single, é a típica canção do grupo, com melodia com cara de dejá vu e potencial para virar hino de arenas e estádios por onde for executada. E o fecho vem com “No Time For Toxic People”, que também tem melodia bonitinha, ainda que o arranjo bombástico em excesso a sufoque além da conta.

 

 

Resumindo: talvez os fãs da banda achem que ela está muito introspectiva. Para o resto das pessoas, talvez este novo álbum mostre, de fato, que o Imagine Dragons está melhorando. Vamos acompanhar, ou não.

 

 

Ouça primeiro: “Monday”, “It’s OK”, “No Time For Toxic People”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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