Entrevista Mallu Magalhães

 

 

Há pouco mais de uma semana, Mallu Magalhães lançou seu último álbum, “Esperança”.  O disco é tão bonito e bem produzido que periga ser seu melhor trabalho. Mallu amadureceu como cantora, compositora e já tem uma marca sonora que é identificável. De menina precoce, transformou-se numa artista completa e mãe, sem falar que seu trabalho fora da música se espalha em outras áreas, como a literatura infantil e, como ela conta nesta entrevista por e-mail, na estamparia de roupas.

 

Simpática e cheia de encanto, ela respondeu a algumas perguntas sobre a vida em Portugal, a maternidade e como ela tem enfrentado a pandemia da covid-19, mantando-se criativa e presente. O resultado está aí embaixo.

 

 

– Mallu, parabéns pelo belo disco. Por que você escolheu “Esperança” para dar nome a ele? 

Muito obrigada! Fico feliz que o tenha achado belo! Bem, ele começou chamando “Felicidades”, ainda  antes da pandemia, porque faz parte da ideia dele o desejo de felicidade, o apreço por esse estado de ser, por esse sentimento. Mas com a pandemia realmente perdeu o sentido esse conceito, e passou a fazer sentido o ânimo da esperança, o ar da esperança, a vida que há nesse sentimento que anda de mãos dadas com as felicidades. 

 

 

– De uma forma geral, as canções do álbum seguem uma linha evolutiva nítida na tua carreira. Temos Tropicália, Jorge Ben, Bossa Nova e uma veia pop universal. Como você vê essa sua relação com as influências na hora de compor e gravar?

Realmente, olhando agora “de fora” faz todo o sentido essa análise. Não tenho o hábito de  usar referências pontuais ou específicas para compor ou gravar. Mas acho que elas acabam por ficar ali dentro da minha cabeça, à medida que as consumo e, na hora de fazer as escolhas estéticas, é como se fosse buscar, inconscientemente, essas fontes. Não é um processo cerebral, lógico ou pensado, é mais um processo sensitivo que também permite a experimentação, para justo encontrar essas novas receitas, mesmo que usemos os mesmos ingredientes.

 

 

– Além de cantora, você sempre foi compositora, tocou vários instrumentos e participa agora da produção. Como é coproduzir seu disco ao lado de um cara como o Mario Caldato, que produziu o teu primeiro trabalho?

Me sinto em casa com o Mario. Me sinto totalmente à vontade e segura, sei que ele fará tudo dar certo, permitindo as forças e elementos crescerem naturalmente. Ele é um profissional muito concentrado e trabalhador, mas também um amigo querido . Aprendo muito com ele e fico mesmo grata feliz em poder contar com ele na produção e na companhia. 

 

 

– Como a vida em Portugal influenciou a tua evolução musical e pessoal?

Lisboa costuma ser calma, muito embora agora esteja mais cheia e barulhenta, eu ainda a amo muito. O fato de ter ficado mais cheia trouxe também um dia a dia cheio de novos cafés, popupstores, livrarias, galerias, restaurantes e novos amigos. Fico muito agradecida por ter sido recebida pelo público português e fui criando grande carinho por eles. Mas claro, sinto, diariamente, falta do Brasil. Eu amo demais o meu país, meu povo e meu público brasileiro, sempre me apoiando tanto ao redor de todo o mundo, inclusive. Um amor que se renova e me sinto abençoada por tê-lo – e tento retribuir como posso.  Não passo meses seguidos sem passar um tempo bom pelo Brasil, não tenho nenhum desejo de me distanciar do meu país, apenas tenho o desejo de conhecer lugares e conhecer também a mim nesses lugares. É como se levasse o Brasil comigo. A pandemia tirou essa mobilidade (entre tantas outras perdas), mas num cenário mais “normal” do mundo, é um vôo de 8 ou 9 horas, não é longe… Consigo conciliar a saudade e o trabalho. 

 

 

– Tem uma música – “Deixa Menina” – dedicada à tua filha, Luisa. Conta pra gente sobre essa história?

A Luísa é bem decidida e corajosa, e sempre foi assim. Quando ela era bem pequenininha, ainda aprendendo a falar, uma das primeiras coisas que ela aprendeu foi “Deixa a menina!”, expressão que ela usava para pedir que a deixassem fazer o que quisesse. Saía correndo pro mar e a gente corria atrás, claro, e ela : ” deixa a menina!”, e viu que todo mundo achava bonitinho e, claro, acabávamos, sempre que seguro, claro, deixando. Na música também falo da dança dela, ela sempre dançou de um jeito muito próprio e livre, e está sempre em movimento, correndo atrás de alguma coisa, olhando para frente. Não tem medo de água fria. Grande Luísa! Vou parar de escrever porque se não me emociono.

 

 

– Outra canção interessante é “Barcelona”, que tem a participação do Nelson Motta. Como pintou a presença dele e, nas suas andanças pela Europa, qual sua cidade preferida?

Tirando Lisboa? Acho que Barcelona está realmente nas preferidas, acho uma cidade encantadora. Gosto muito de estar lá, da vida que a cidade e as pessoas tem. 

 

 

– Em “Fases da Lua” você entra num registro sombrio e à meia-voz. Como surgiu a ideia do arranjo, que lembra até alguma coisa de trip hop…

Ah,pois é! O arranjo surgiu muito natural e espontaneamente, no estúdio. Não sei se o pessoal começou a tocar outra música ou se não conheciam ainda música mas só sei que de repente estávamos tocando a base meio doidona. Já era de noite e estava escurinho, super clima, tudo muito lindo. É uma música que foi das mais emocionantes para mim do disco, por conta desse momento em que ela nasceu, como força da natureza, e foi muito bem vinda.

 

 

– Como foi pra vocês atravessar a pandemia num país que não fosse o Brasil? Porque aqui não é, definitivamente, o melhor lugar do mundo para se estar em meio à Covid…

Eu passei meses no Brasil na verdade. Por conta da perda de um familiar. Tanto durante nossa estadia no Brasil quanto quando voltamos, é muito sofrido perder amigos, familiares, e ver tantas vidas brasileiras sendo perdidas. Nem sei o que dizer, sinceramente… fico também muito triste e preocupada com as sequelas sociais de quem já estava vulnerável, agravamento este que já se vê.

 

 

– O que você tem ouvido atualmente? Alguma banda ou artista para recomendar pros leitores?

Tenho escutado muito Jungle e HNNY, agora que sem turnê , tenho andando bastante de longboard, e são excelentes trilhas sonoras. 

 

 

– Olhando pra seus discos, você tem algum preferido ou “filho é tudo igual”?

É bem isso na verdade! Cada um tem seu encanto e sua magia…

 

 

– Você só tem 28anos e já é uma cantora/compositora com cinco discos, mora no exterior, já integrou projeto paralelo, foi gravada por intérpretes consagrados, atuou, escreveu, ilustrou…O que você gostaria de realizar como artista que ainda não pintou?

Uau obrigada! Listando assim de fato parece incrível! Estou trabalhando na minha marca, começou como uma marca de roupas, mas me apaixonei pela estamparia e tenho feito experiências em outros objetos também. Sinto que os próximos sonhos talvez sejam por aí. 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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