Considerações sobre o Baby Yoda

 

 

Por absoluta falta de tempo eu ainda não vi um episódio sequer de “The Mandalorian”, a novíssima série inspirada no universo de Star Wars, lançada pela Disney e exibida no serviço de streaming Disney +. Como ele ainda está indisponível no país, o jeito é apelar para o “Cine Torrent” ou, como diz meu amigo Fábio Martins, do venerável Dimensão Geek, para o “João Torrentino”. Em breve irei conferir as aventuras do caçador de recompensas que veste armadura e opera no espaço de tempo imediatamente posterior a “O Retorno de Jedi”. Independente dos méritos que a série possa ter – e parece que tem – um personagem surgiu para despertar o amor, a fofura e a curiosidade do espectador. O Baby Yoda.

 

Fiz uma pequena pesquisa e recorri aos meus outrora vastos conhecimentos sobre Guerra Nas Estrelas para tecer alguns comentários sobre esta novíssima figura. Falar que se tem alguma desconfiança sobre o Baby Yoda é passar um atestado de pessoa má. Você será execrado e amaldiçoado pelas pessoas que já o afofaram definitivamente. Bonecos de pelúcia e Funko Pop estão em pré-venda e o faturamento promete ultrapassar o PIB de pequenos países. Talvez a jogada da Disney seja muito mais certeira do que parece e isso se deve a um fato: Yoda, o velho Mestre Jedi, personagem marcante da franquia, com aparição em cinco dos seis longas das duas primeiras trilogias, sempre foi “fofo”, mas, como era velho e venerável, não era passível de um afofamento/afofagem padrão, do tipo “aperta, morde, taca na parede de tanto amor”. Era algo mais próximo da veneração, da admiração, da vontade de ser como ele quando a gente crescesse.

 

O Baby Yoda é o melhor de dois mundos. Uma criaturinha verde, orelhuda, com um manto igual ao do original, que não tem rugas e faz coisas desastradas na nave do mandaloriano mauzão. Nada pode ser mais adequado. Tem um potencial de Baby Groot, só pra citar um outro personagem que é mais legal e afofável quando jovem, neste caso, claro, falo da árvore de “Guardiões da Galáxia”. Quando ele surge no primeiro filme, adulto, é legal, mas de um jeito absolutamente normal. Porém, quando surge no vasinho, ainda muda, Groot ganha muitos pontos.

 

Baby Yoda e Baby Groot são algo tipicamente Disney. Essa gente apela para a nossa instintiva admiração por criaturas bonitinhas e cheias de características legais. Nos faz apostar que o amor dado a elas – em forma de carinho físico, cuidado e atenção – vai nos legitimar como cuidadores e dar ao objeto do amor um futuro de distinção. Em suma, a Disney apela para os nossos instintos maternais e paternais. Desperta na gente o amor que poderíamos dar a um semelhante, a um bicho de estimação, a um neném. Ao tornar esses personagens crianças, ela reafirma totalmente suas melhores características e nos faz capazes de nos espelharmos nelas. É coisa totalmente planejada, estudada e com garantia de eficácia.

 

Uma das características mais legais do Yoda original era ser membro de uma espécia nunca mostrada em nenhum longa da série. Sempre foi um mistério, nunca se falou nada a respeito da civilização dele, de onde vinha, quantos havia…Agora, com o Baby Yoda, surge a possibilidade de esclarecer o mistério. Ou não. Sinceramente, torço para que sigamos sem saber nada a respeito do bom e velho Yoda. Um dos traços terríveis da cultura pop versão neoliberal 2019 é se arvorar a desvendar os mistérios, acabando com todo o fascínio que alimenta a mente, substituindo-o por … fofura. E dela, como diria o próprio, satisfeitos estamos. Mistério nem sempre há de pintar por aí, me parece mais valioso. Enfim, enquanto eu filosofo sobre um boneco de pelúcia, milhões vão gastando seu dinheiro na pré-venda. E segue o jogo.

 

Baby Yoda, resumindo, é pirralho. 🙂

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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