Com Los Hermanos no Sofá do Maracanã
Local: Maracanã
Dia: 04 de maio de 2019.
Foto: Leo Aversa
Olhando o quarteto carioca Los Hermanos no palco montado no Maracanã, do conforto do meu sofá, me dei conta de algo: já se vão 20 anos de carreira. No caso deles é ainda mais estranha a sensação, uma vez que os álbuns inéditos pararam de vir em 2005 e nem Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, os dois vocalistas, que entraram em carreiras solo ou em projetos paralelos, violam o espaço do grupo com criações adjacentes. Los Hermanos é Los Hermanos e não tem caô.
Tocando para um Macaranã bastante cheio, especialmente para tempos de governo bolsonaro a perseguir as possibilidades do povo em relação à cultura, o grupo não conseguia esconder sua felicidade. Devem ter passado mil vezes do lado de fora do estádio, ou frequentado suas arquibancadas em outros tempos, portanto, é plenamente justificável. Se talvez tivessem lançado mais álbuns, a banda seria, indubitavelmente, a maior do Brasil. Por mais que alguém deteste a música deles, seria bem melhor do que cogitar o Capital Inicial para ocupar tal posto, convenhamos.
O show foi bom, na medida em que pode ser bom uma apresentação de uma banda esquisita. A mistura que faz a sonoridade do quarteto tinha tudo para dar errado: dois vocalistas de voz curta, músicos medianos, influências tortas de rock alternativo americano noventista, hardcore e ska em meio a letras românticas, depois, mutação sônica incorporando elementos de samba, pop sessentista brasileiro e anglófono a partir do segundo álbum…tudo é muito confuso. Porém, esta receita caiu no gosto de uma geração de fãs tão dedicados que as canções são entoadas como se fossem “A Marselhesa” no dia da tomada da Bastilha.
Dentro desta lógica, temos um show de 27 músicas, ou seja, mais da metade do repertório possível da banda. Dentre este universo de possibilidades, duas das minhas favoritas ficaram de fora – pense num azar grande: “Primavera” e “Casa Pré-Fabricada”. De resto, não faltou (quase) nada. “A Flor”, “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, “Conversa de Botas Batidas”, “O Vento”, “Sentimental”, “O Vencedor”, “Anna Julia”… Pouca ou nenhuma mudança de arranjo, exceto pela latinidade simpática em “Paquetá”, tudo é como no disco, ou melhor, pior do que no disco, uma vez que o estúdio ajuda bastante na questão do cansaço dos vocalistas, que é evidente do meio pro fim. Nada disso, no entanto, parece irritar o público. Ele canta, vibra, chora, olha pro céu, entoa os versos, tudo num ritual de muito amor e respeito. E conhece tudo do grupo, inclusive quando os quatro engatam canções do primeiro disco, como “Azedume”, “Tenha Dó”, “Pierrot” com se sentissem saudades daqueles tempos mais simples.
Ao fim de quase duas horas de show, uma multidão de pessoas vão felizes pra casa, certas de que viram um dos melhores shows de suas vidas. Certo que é questão de experiência e referencial, porém, não dá pra negar a eficiência dos Los Hermanos, de seu repertório e, especialmente, a dedicação e o amor de seus fãs.
PS: “Cara Estranho”, outra canção simpática, ficou de fora.
Setlist:
A Flor
Alem Do Que Se Vê
Retrato Pra Iaiá
O Vencedor
O Vento
Todo Carnaval Tem Seu Fim
Condicional
Corre-Corre
Primeiro Andar
A Outra
Morena
Pois É
Sentimental
Samba A Dois
Tenha Dó
Quem Sabe
Descoberta
Anna Júlia
O Velho e o Moço
Paquetá
Do Sétimo Andar
Último Romance
De Onde Vem A Calma
Conversa de Botas Batidas
Deixa O Verão
Azedume
Pierrot
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Dani, obrigado pelo comentário. É isso, a banda acerta em cheio o coração dos fãs e, para eles – banda e fãs – é isso o que mais importa. Beijo, obrigado pelo comentário feito com o coração na ponta do teclado. 🙂
Acredito que o amor pela banda de seus fervorosos fãs, dá-se a autenticidade de deixar -se levar pela poesia que a banda incoscientemente manifesta. (Meu Deus o que eu disse?)
Acho que essa mistura doida que deu música é a marca dessa mistura que nasceu numa época de poucas bandas novas de peso e muitas referências das décadas passadas.
Resumindo:
Depois de Ventura e alguns outros discos importantes, menos no meu ponto de vista, Los Hermanos é uma banda com um público sólido e muito fiel ao trabalho que musicos propõe. A banda tem uma marca curiosa, quem gosta gosta muito! Quem não gosta não consegue nem passar perto!
Obrigada Célula Pop!
CEL que maravilha!