Com arthur lira somos nós no paredão

 

 

 

O deputado federal arthur lira, do PP-AL, aliado do governo federal, foi eleito para a presidência da Câmara dos Deputados. Em primeiro turno. Isso significa que, por mais que a gente se iluda com bolhas em redes sociais, o governo federal – dos desmanches, do crime organizado, do genocídio da covid-19, da truculência, da burrice – está ainda mais solidificado no poder. A presença de lira assegura ao ocupante da presidência um grau a mais de tranquilidade para poder surgir nos veículos de mídia mandando todo mundo tomar no cu, dizer que não pode fazer nada sobre o problema de oxigênio no Amazonas ou pelos mortos da pandemia. A eleição de lira é uma espécie de carimbo permissivo. Afinal de contas, estes senhores deputados são os nossos representantes, certo?

 

Eu me permito extrapolar a realidade e imaginar como seria se o deputado alagoano estivesse na … casa do BBB. Será que as pessoas deixariam ele se eleger? Será que o público da atração global permitiria a aliança do Centrão, devidamente movida por liberação de verbas para os deputados fortalecerem seus mandatos? Será que os espectadores, informados por tecnologia de edição, narrativas criadas em laboratório e pirotecnia dramatúrgica, dariam este sinal verde para a total viabilidade parlamentar do governo federal? A gente sabe, é o mesmo governo que cortará o auxílio emergencial sob alegação de esgotamento orçamentário, mas, por outro lado, gastou aqueles valores estratosféricos com leite condensado, chiclete e outros docinhos no orçamento federal.

 

Se não há dinheiro envolvido, como explicar a debandada de integrantes do PSDB e do DEM da candidatura do deputado federal baleia rossi, do MDB-SP? A gente já estava na bacia das almas no apoio a ele, certo? Era o “ruim contigo, pior sem tigo” proverbial. Era uma escolha política pela manutenção da mínima civilidade parlamentar. Mas nem isso. O baleia rossi encalhou e morreu na praia. A vitória de lira sela o triunfo daquela turba patética e tragicômica que votou o impeachment de Dilma naquela sessão tristemente histórica do Congresso. Lembram? A mesma em que o atual presidente dedicou seu voto ao torturador brilhante ustra.

 

Vivemos num tempo em que as pessoas progressistas pressionam o ex-presidente da Câmara, o deputado federal rodrigo maia, pelo impeachment do atual presidente. Ora, é muita ingenuidade achar que maia, um parlamentar com carreira marcada por alianças com o que há de mais retrógrado na política, iria contra um governo que existe para desmanchar o país. Seu partido, o DEM, herdeiro do PFL, por sua vez, um mix de ARENA com PDS, é uma legenda conservadora na raiz. Só a psicodelia política que tomou conta do país faria alguém achar que parlamentares do DEM teriam ombridade e se oporiam ao governo.

 

O mesmo ocorre com o PSDB. Derrotado sucessivamente pelo PT, o partido tucano entende seu lugar de coadjuvância no atual governo e segue programaticamente aliado a ele. Afinal de contas, todos sabemos que joão dória jr é um bolsonaro que frequentou aulas da Socila. E que outras pessoas como aécio neves, josé serra e o próprio ex-presidente fhc, são meros opositores midiáticos de algumas instâncias do governo. Só acredita neles quem quer. Ou quem é burro. É só surgir alguém falando em colocar o mais humilde numa universidade pública que todos eles se unem rapidamente.

 

Eu acho que lira não seria eleito num BBB. O povo, movido pela indignação, o rechaçaria. Mas, enquanto ele era conduzido à presidência da Câmara, as redes sociais pediam em massa a saída da cantora Karol Conká da atual edição do programa. E também vi muita gente falando mal do fiuk, filho do cantor Fábio Jr. Claro que lira não está eleito por conta do BBB, mas, apenas imagine se houvesse tal engajamento do país no processo que o elegeu….

 

Num tempo em que a espetacularização da vida se tornou a linha editorial da mídia, aliar BBB e eleição da Câmara dos Deputados faz sentido, sim.

 

Na verdade, ainda em termos BBBísticos, a chegada de lira nos coloca a todos no paredão.

 

 

Em tempo: este texto não culpa o BBB pela eleição de lira, evidentemente.  A culpa disso tudo é de quem elegeu essa gente. E de quem não deu as caras na votação de 2018.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Com arthur lira somos nós no paredão

  • 2 de fevereiro de 2021 em 17:46
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    A democracia aqui nos convida a participar a cada 4 anos depois já era… é com eles “os eleitos”, por isso não condeno quem não vota. E o bbb é uma novela mais barata, só presta no primeiro dia e depois no último capítulo. Toda vez que você pensar que a pressão popular serve pra alguma coisa lembre-se das “diretas já”.
    Mas seu texto é ótimo.

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