Clássicos da minha infância revistos, parte 1 – “Deadly Prey”

 

Olá, amigos(as)! Meu objetivo hoje era fugir um pouco do assunto tosqueiras, juro que era, porém resolvi de última hora alongá-lo só mais um pouquinho porque recentemente revi uma bomba que marcou minha infância e me senti quase que obrigado a partilhar minhas impressões com vocês!

Todo mundo tem um filme que assistiu quando era criança pelo qual guarda um certo carinho, não é mesmo? Pena que o tempo passa, a gente amadurece, inevitavelmente a magia se esvai e o que parecia tão bacana revela-se uma bela porcaria. Destes, os “clássicos” exibidos na saudosa “Sessão das Dez” no SBT têm um lugar especial na minha memória afetiva. Cresci assistindo tralhas como “A Gangue dos Doberman”, “Caçadores de Atlântida”, “Thunder – Um Homem Chamado Trovão”, etc e, por alguma razão que até hoje não sei explicar, adorava todos eles.

 

Alguns como o já citado “Caçadores de Atlântida” eu gostava tanto que gravei no meu saudoso videocassete Philco (com controle remoto COM FIO! Coisa inimaginável nos dias de hoje) e cheguei ao cúmulo de decorar os diálogos! Acreditem se quiser, eu sabia o filme quase de cór! Porém, dentre todos eles, uma obra-prima sempre se sobressaiu e me chamou a atenção: “Deadly Prey”! Naqueles tempos em que Stallone, Schwarzenegger e Chuck Norris eram a onda do momento fazendo uma ode à truculência com suas obras no melhor estilo “exército de um homem só” , Mike Danton, o protagonista dessa bagaça, conseguia a proeza de fazer todos esses atores citados juntos parecerem um bando de bunda mole!

 

Reprisado diversas vezes na emissora do Silvio Santos e sempre com um título diferente para confundir os telespectadores (“Extermínio de Mercenários”, “Isca Mortal”, “Presa Mortal”, “Danton – Sozinho e Armado” e por aí vai), o filme conta a história de um grupo de mercenários que treina sua pontaria e táticas de guerrilha capturando pessoas comuns e soltando-as no meio da floresta para serem caçadas (só não consigo imaginar que serventia pode haver para os tais mercenários caçar pessoas sem treinamento militar algum, despreparadas, desarmadas e indefesas, mas deixemos esse detalhe pra lá). Tudo ia bem até que um dia eles capturaram Mike Danton (o homem, o mito), um sujeito capaz de façanhas tão extraordinárias e inacreditáveis que merecem um capítulo a parte:

1- Ele consegue botar seu braço quebrado de volta no lugar colocando uma pedra embaixo do sovaco;

2- Ele consegue matar um soldado cravando um GRAVETO em seu peito;

3- Fica completamente invisível apenas amarrando galhos em seus ombros (e você achando que o Predador era o máximo em camuflagem, tsc, tsc..);

4- Sabe-se lá como, consegue escapar de tiros disparados a centímetros de distância (ou talvez ele seja imune aos tiros, vai saber);

5- Aparentemente, ele também é capaz de prever o futuro, porque além de montar armadilhas altamente elaboradas (que deixariam o Jigsaw da série “Jogos Mortais” com inveja), ele parece saber de antemão onde alguém pode vir a descobrir os dispositivos e monta outras armadilhas logo em seguida para que a vítima não escape;

6- Fica no máximo atordoado quando explodem granadas perto dele ou quando pisa em minas;

7- Mesmo andando descalço, sem camisa e com um shortinho que beira o pornográfico de tão minúsculo, parece ter um estoque infinito de munição para seu arsenal. Ou ele consegue materializá-la como que por encanto ou deve guardá-la em locais impublicáveis…

Óbvio que ninguém no mundo pode ser páreo para alguém com tais habilidades e em questão de minutos, mais de vinte soldados viram picadinho. Os malvadões não sabiam, mas eles capturaram uma verdadeira máquina de matar (só não dá pra entender como alguém assim foi raptado de modo tão estúpido, ao levar o lixo pra fora de casa) treinada no Vietnã pelo líder dos tais mercenários, um cara chamado Hogan, que ao olhar um dos cadáveres estatelados no chão, tem uma epifania: “Calma aí, eu conheço esse estilo, é aquele cara que treinei no Vietnã, Mike Danton!”! HAHAHAHAHAHAHAHA! Quem precisa de CSI quando temos uma pessoa capaz de reconhecer um assassino só olhando superficialmente um corpo? Nesse momento, Danton, que supostamente estava perdido, conseguiu chegar na sua casa (que diga-se de passagem tem tantas armas que faz aquele supermercado onde Schwarzenegger se equipou em “Comando Para Matar” parecer o armazém do Seu Tinoco), mas Hogan jamais poderia deixar isso barato: Ele telefona para o nosso herói (convenientemente no exato instante em que ele chega na residência), diz que raptou sua namorada e manda ele se entregar.

Danton, claro, como qualquer pessoa “sensata” faria numa situação dessas, não liga para as autoridades e volta para lá sozinho para resolver a questão (não sem antes se arrumar no melhor estilo Rambo, com pintura na cara, calça camuflada, fitinha amarrada no mullet e por aí vai). Segue-se então mais meia hora onde o herói mata um montão de figurantes de todas as formas possíveis e imagináveis, chegando até a encarar um tanque de guerra frente a frente (e vencendo, óbvio), nos preparando assim para a sequencia final, um dos momentos mais sublimes e absurdos da história da sétima arte: Danton encontra um dos capangas de Hogan no meio da floresta e o cara, por pura maldade, mata a namorada do protagonista na sua frente. Mike fica tão possesso que simplesmente arranca o braço do sujeito com um facão (mas curioso constatar como nessa hora não sai uma gota de sangue sequer) e surra o infeliz até a morte usando o membro decepado como porrete! E sim, isso passava nos anos 1980 em horários que a molecada podia assistir! Surreal, para dizer o mínimo… Revoltado, ele pega Hogan e decide se vingar caçando-o da mesma forma que fizeram com ele. Fim!

O curioso é que esse desastre dirigido por David A. Prior (falecido em 2015 e que, durante toda sua carreira, não fez absolutamente NADA que preste) com o passar dos anos acabou ganhando status de cult nos EUA no melhor estilo “é tão ruim que é bom”, a ponto de em 2013 sair uma continuação chamada “The Deadliest Prey”, que era legal também, mas não tinha o mesmo charme e espontaneidade do antecessor. E por que eu resolvi escrever sobre ele? Porque, ao revê-lo, me diverti tanto quanto na época em que era moleque! Claro, agora por outros motivos, mas ainda assim continua um excelente passatempo! Me fez rir mais que muita pretensa comédia por aí! Acreditem, por mais que eu escreva, não vou conseguir transmitir só com palavras o quão ridículo, absurdo e hilário “Deadly Prey” é! Infelizmente ele não saiu em DVD por aqui, apenas lá fora tardiamente em 2015, porém mesmo por lá é uma joia rara de encontrar. Ainda assim, não tem problema: Apelem para os bons e velhos torrents e preparem-se para ficar com a barriga doendo de tanto gargalhar!

Luciano Milhouse

Luciano Milhouse é flamenguista, pensa que sabe escrever, tem 6 cachorros e aceita doações de CDs, DVDs, videogames e carrinhos (para desespero de sua esposa)!

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