Brigitte Calls Me Baby tem estreia de gente grande

 

 

 

 

Brigitte Calls Me Baby – The Future Is Our Way Out
38′, 11 faixas
(ATO)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

Preste bem atenção porque esta pode ser a banda que você estava esperando há muito tempo. O Brigitte Calls Me Baby é de Chicago, uma cidade com vasta tradição na formação de bons representantes dos bons sons, e vem clamar para si a chance de levar adiante um certo futuro para o rock alternativo. Parece muito e é, especialmente se levarmos em conta que estamos falando de uma banda que está debutando em disco. Na verdade, o BCMB lançou um EP em 2023 e suas cinco canções – todas incluídas aqui – eram tão boas, mas tão boas, que elas podem se tornar a grande aposta de artista estreante neste 2024. O fato é que as faixas deste “The Future Is Our Way Out”, um título que parece feito por um historiador do tempo presente indignado com a nostalgia exacerbada, são todas excelentes. Uma primeira audição irá apontar para várias referências mais ou menos conhecidas e confortáveis para quem vem ouvindo música desde os anos 1980 ou, melhor dizendo, um pouco antes. O vocalista e cérebro da banda, Wes Leavins, é um dos grandes vocalistas surgidos nos últimos tempos e, se tudo der certo, tem tudo para ser figurinha fácil no grande álbum dourado do rock. Será que é exagero? Não. É real.

 

A sonoridade do BCMB oscila num raio de ação que cobre Morrissey/Smiths, The Strokes e … Elvis Presley. Os vocais de Leavins conseguem nos fazer lembrar de todos estes sem que se valha de imitações baratas. Ele apenas “se encaixa” nos arranjos das canções e evoca esses climas tão diversos mas que se conversam esteticamente, visto que também se influenciaram ao longo do tempo. O que Leavins e seus amigos de banda fazem que, com o afago do tempo, colocar todas essas referências em perspectiva e misturá-las a seu bel prazer. O resulto é surpreendente na maior parte do tempo e a sensação de familiaridade que o álbum traz é bem prazerosa. Repito: nada aqui está no terreno da imitação, o que temos é o uso de referências que estão fortes e nítidas no imaginário do estilo. Mesmo que a impressão de “déjà ouvi” seja bem forte em alguns instantes, não chega a incomodar. O mérito da sonoridade também deve ser dividido com o produtor Dave Cobb, que já assinou álbuns de gente distinta como John Prine, Jason Isbell e Brandi Carlile, chegando a levar Grammy para casa. Wes e Dave se conheceram no set de filmagens de “Elvis”, de Baz Luhrmann, onde ambos estavam trabalhando na consultoria sonora e na pesquisa de referências.

 

Com o sucesso do EP “This House Is Made Of Corners”, o grupo manteve Cobb na produção para o álbum cheio e ele veio logo na esteira da produção anterior. É difícil pensar em qual referência o Brigitte Calls Me Baby mergulha mais fundo, mas talvez seja nos aspectos clássicos de Elvis via o filtro que os Smiths fizeram nos anos 1980. A imagem de Morrissey e seus vocais, além de identidade visual de capas de discos e mais, evocavam esse rock clássico presleyano e Wes Leavins entra exatamente nesse processo e meio que sequestra as ações. Sendo assim, uma canção como “I Wanna Die In The Suburbs” surge evocando fortemente a poesia morrisseyana mais clássica, chegando a um de seus maiores clássicos, “There Is A Light That Never Goes Out”, do álbum “The Queen Is Dead”, de 1986. O instrumental e a própria canção, além de lembrarem a sonoridade smithiana mais clássica, não recorda esta faixa em especial, dando a impressão de que estão distraindo o ouvinte com um fogo cruzado referencial. Bem, não deixa de ser.

 

“Fine Dining” já traz a abordagem strokiana de new wave, lembrando bastante a introdução do sucesso “Last Night”, do grupo de Julian Casablancas. Novamente a melodia e o arranjo, ainda que fiquem no mesmo terreno, têm vida e brilho próprios, com potencial dançante e potência pop inegável. “Pink Palace” é outra belezura que cisca no terreiro da new wave mais clássica e do início dos anos 1980, lembrando várias outras bandas inglesas daquele tempo, como, vá lá, Housemartins pré-“Build” e similares. A faixa-título, que abre o álbum, por sua vez, é puro Morrissey solo, felizmente em sua fase mais interessante, entre “Your Arsenal” e “Southpaw Grammar”, mas, novamente, com brilho próprio. “Palm Of Your Hand” também tem cheiro de início de anos 1980, soando como se o New Order estivesse gravando uma demo sem teclados com Robert Smith nos vocais. Funciona. “Impressively Average” também é totalmente smithiana, ainda que a produção dê um arranjo mais sujo do que qualquer faixa gravada por Morrissey e Marr em sua carreira. E “Eddie My Love”, outra com guitarrinhas à la Johnny Marr tem vocais bem próximos da melhor versão de Elvis que Wes Leavins consegue fazer.

 

Brigitte Calls Me Baby impressiona pelo conjunto de ótimas canções e pelo uso assertivo de suas referências. Fazem o dever de casa com êxito e deixam a gente com a pulga atrás da orelha por conta do que farão daqui pra frente. Vale conhecer.

 

 

Ouça primeiro: “Pink Palace”, “Palm Of Your Hand”, “I Wanna Die In The Suburbs”, “Impressively Average”, “The Future Is Our Way Out”, “Eddie My Love”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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