Biffy Clyro – A Celebration Of Endings
Gênero: Rock
Duração: 45 min.
Faixas: 11
Produção: Biffy Clyro e Rich Costey
Gravadora: Warner
O trio escocês Biffy Clyro é uma dessas bandas que surgiram na segunda metade dos anos 1990 em meio à transição do Britpop para o som que o Radiohead empreendeu a partir de “OK Computer”. Deste jeito, há espaço para guitarras presentes, baixo e bateria fortes e uma predileção por influências setentistas que soam interessantes. Formado por Simon Neil, James Johnston e Ben Johnston, o Biffy é simpático e tem uma carreira prolífica, com este “A Celebration Of Endings” sendo seu nono álbum lançado. Uma audição das onze faixas do disco, no entanto, mostra algumas impressões conflitantes. Vejamos.
Não precisa muito para perceber que o trio é da escola Muse de rock. O diálogo entre o tripé Radiohead/anos 70/anos 90 é a mola propulsora da sonoridade bem articulada do Biffy Clyro e isso joga contra e a favor ao mesmo tempo. Há uma sensação incômoda de busca pela perfeição absoluta em cada detalhe de cada canto de cada faixa, o que chega a irritar um pouco. São coros, intervenções de instrumentos, arranjos, timbres, tudo muito, excessivamente limpo, que parece feito por computadores programados para zero erro. É como comer um hamburger com garfo e faca, entendem? É completamente asséptico, incolor, inodoro, insípido em termos de alma, conteúdo. Parece um workshop, um webinar ou algo assim.
Fica mais difícil de explicar quando é necessário admitir que não há nada fora do lugar por aqui. As guitarras são bem gravadas e mudam de timbre na hora certa. O baixo e a bateria são virtuosos e dialogam na medida certa, conferindo peso e criatividade. E a voz de Simon Neil funciona bem, dosando técnica e emoção em boas medidas. Mas uma audição na balada “Space”, vai demonstrar como esta assepsia do Biffy Clyro pode soar nociva. Tudo está no lugar, há cordas, refrão apaixonado, mas não há qualquer profundidade. Parece um showroom, uma banda de coachs de rock, algo que, sabemos bem, não funciona.
Assim como o Elbow – outra banda de sucesso na Grã-Bretanha e pertencente ao mesmo âmbito – o Biffy Clyro não é carta fora do baralho. Só é incapaz de oferecer momentos memoráveis. Algumas faixas por aqui são legais, caso de “The Champ”, por exemplo. Ou de “End Of”, que tem bons riffs e andamento aerodinâmico, mas há uma tendência pra enfiar backing vocals em cada centímetro quadrado de música, uma vontade constante de complicar enquanto Simon Neil surge, estrategicamente, para se esgoelar, fazendo tudo parecer casual. São perfeitos “casualmente”, entendem? E isso me parece totalmente premeditado, estratégico e artificial.
Para ouvidos não treinados, este disco do Biffy Clyro pode soar próximo da perfeição. Para quem já está nessa há tempos, fica a certeza de que há algo de podre em algum lugar. Mesmo assim, leva uma nota simpática só por não ser um pastiche como Twenty One Pilots ou 30 Seconds To Mars.
Ouça primeiro: “The Champ”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.