Beabadoobee evolui graciosamente em novo álbum

 

 

 

 

Beabadoobee – This Is How Tomorrow Moves
41′, 14 faixas
(Dirty Hit)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

Está lá, em 22 de julho de 2022: uma resenha feita por mim, na qual dei cinco estrelas para o álbum de Beabadoobee, no caso, “Beatopia”. Como fecho da elogiosa resenha, eu cravei: “beabadoobee é uma das mais interessantes artistas sonoras em atividade. Ela está nos festivais lá fora, dando shows, se aprimorando, maturando e fez um dos melhores discos de 2022. Uma pequena força da natureza.” Agora, pouco mais de dois anos depois, a moça retorna com este “This Is How Tomorrow Moves” e continua muito, muito boa. Seu talento para a composição segue impressionante, assim como seu bom gosto para arranjos e soluções sonoras. Mas algo mudou, como tem que ser. Se os trabalhos anteriores tinham uma adorável moldura lo-fi que funcionava para criar um ambiente de quarto de sonhos, refúgio seguro e habitat natural para uma pós-adolescente que de lá observava a vida à sua volta, este novo trabalho parece ter conferido segurança e força à jovem Beatrice Laus, a menina por trás do nome. Com a produção de Rick Rubin, a sonoridade ganhou mais força e foco, porém perdeu em singeleza. Vejamos.

 

Como outros artistas da chamada Geração Z, Beatrice não fazia muita distinção entre estilos como shoegaze, baladas despojadas ou grunge. Ela canalizou tudo isso em seu álbum de estreia, “Fake It Flowers” de 2020, usando suas influências como em sua música de 2019, “I Wish I Was Stephen Malkmus”, homenageava o vocalista do Pavement. Enquanto isso, “Coffee” se tornou a base de um hit viral de 2019 do rapper canadense Powfu (até hoje: 701 milhões de visualizações no YouTube). Nascida nas Filipinas e criada em Londres, onde teve uma adolescência difícil, Laus, agora tem 24 anos, revelou ter sido vítima de racismo e fetichização de mulheres asiáticas. A visão de mundo pessimista, as guitarras melancólicas e a postura de outsider do indie-grunge combinavam com seu estado de espírito interno. O gênero também estava passando por uma grande reinvenção representativa na época pelas mãos de outras artistas como Mitski e Japanese Breakfast.

 

Mas a estética de Laus também tinha muito espaço para coisas fofas e coloridas. Mesmo quando pisava no pedal de distorção, uma doçura nostálgica permeava sua música, combinando com sua voz infantil e seu apelido juvenil. As sensibilidades sonhadoras de Beabadoobee dominaram “Beatopia”, cujo grande sucesso, na primavera de 2023, fez Beabadoobee ser convidada para o show de abertura da turnê “Eras” de Taylor Swift, sendo apresentada para uma audiência exponencialmente maior. Este novíssimo “This Is How Tomorrow Moves” mostra detalhes muito interessantes sobre uma artista em nítida evolução/transformação em algo ainda mais instigante, numa luta para conservar alguns traços e deixar outros de lado. O álbum é mistura bem feita, bem dosada, elegantemente arranjada e melodiosa na medida certa entre a doçura e angústia.

 

Uma canção como “California” consegue trazer elementos do folk setentista, do grunge noventista e misturar tudo com uma inegável face de 2024. Por mais que esse lado noventista esteja enfatizado aqui, não só nesta, mas em outros momentos – como “Post” ou “Beaches” (que tem dedilhado de guitarra que lembra demais “Taillights Fade”, do Buffalo Tom), é a Beabadoobee mais fofa e frágil que parece funcionar melhor do que esta nova persona ainda em formação. Daí temos um pequeno diadema de lindezas leves como o vento. “Tie My Shoes”, que tem ar noventista inegável, mas prefere misturar violões grunge com voz de cristal, enquanto “Girl Song” parece canção de séries como “Buffy” ou “My So-Called Life”, unindo piano e doçura, enquanto em “Coming Home” e “This Is How It Went”, há uma nítida influência de Elliott Smith em meio aos timbres e vocalizações. Em “A Cruel Affair” há uma inesperada – e ótima – rendição à … Bossa Nova, enquanto em “Ever Seen” um clima de crescendo é criado e a canção culmina com viradas inesperadas de bateria e soluções singelas para uma melodia perfeita.

 

O resultado final deste “This Is How Tomorrow Moves” é de que ele será mais apreciado com mais tempo de audição. Ainda que seja um ótimo disco, não traz a fofura imediata do trabalho anterior, porém, inegavelmente temos a mesmíssima/novíssima Beabadoobee no comando das ações. E ela segue adorável.

 

 

Ouça primeiro: “This Is How It Went”, “A Cruel Affair”, “Tie My Shoes”, “Post”, “Beaches”, Coming Home”, “California”, “Ever Seen”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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