A dance music classuda de Jungle

 

 

Jungle – Loving In Stereo

Gênero: Funk, pop, dance

Duração: 40:07 min.
Faixas: 14
Produção: Josh Lloyd-Watson, Tom McFarland
Gravadora: AWAL Recordings

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

Vocês já conhecem o Jungle? É um duo do oeste de Londres, formado por Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland, dois sujeitos que gostam muito de dance music, hip-hop e disco, com um bom gosto considerável. Os caras são daqueles maníacos bem anos 1990, produtores, fuçadores musicais, ratos de sebos, pensadores e arquitetos de misturas e remixes, tudo junto. Também são nerds sonoros, daqueles que pensam as músicas em várias dimensões e não se fazem de rogados diante da chance de enfiar samplers legais aqui e ali. Este “Loving In Stereo” é o terceiro disco da dupla, que chega agora no mundo civilizado e já credencia o Jungle para assumir um papel de protagonista nesta nova-velha onda de artistas dançantes do Reino Unido.

 

 

Aliás, “dançante” não é bem o termo. Ainda que a música do Jungle – e do Sault, outro sensacional artista surgido por lá – seja de nítido apelo sacolejante e totalmente imersa num imaginário disco-funk-rap, há mais para ouvir e ver por aqui. Mas, ao contrário do Sault, que não revela participantes e colaboradores em seus misteriosos álbuns (ainda vamos falar deles por aqui), o Jungle é feito para o gosto mais popular e tudo aqui funciona lindamente. Ao longo das 14 faixas de “Loving In Stereo”, a gente vai topando com as referências mais procedimentais sobre música desta natureza: cordas luxuriantes, vocalistas com versatilidade, batidas rodopiantes que se alternam com pitadas de hip-hop, reggae e disco e, por cima, temperando tudo, um bom gosto de fazer inveja a muita gente. Josh e Tom, como se dizia antigamente, têm a manha.

 

 

O grande hit do Jungle até hoje, “Casio”, presente no seu segundo álbum, “Forever”, de 2017, é uma das faixas mais Michael Jackson que foram feitas sem a presença do homem em questão. Tudo ali funciona perfeitamente, mas um dos grandes charmes do duo é não se repetir. Então, ainda que tenhamos dívidas para com grandes canções contemporâneas do melhor de MJ no início dos anos 1980, não há nada como “Casio” em “Loving In Stereo”, o que acaba sendo bom. De cara o ouvinte topa com o single “Keep Moving”, uma lindeza superlativa, cheia de cordas e samples espertos, que coloca o ouvinte no bom caminho. A partir daí, a coisa não demora muito pra engatar, o que vai acontecer lá com “Romeo”, a quarta faixa, que pega tinturas hip-hopescas e ressignifica de várias formas. “Lifting You”, logo em seguida, usa um fraseado de teclado/guitarra muito familiar, quase de inconsciente coletivo, para manter o asfalto limpo.

 

 

E o percurso comporta até algumas excentricidades. Tem o aceno ao Gorillaz do em “Bonnie Hill”, tem o flerte techno de “Fire”, tem big beat de baixos orçamentos de “Talk About It” e, supresa total: o roquinho strokiano mirradinho e esguio de “Truth”, que a gente nunca imagina ver por aqui. De alguma forma, como é o caso dos bons, tudo tem coesão e faz sentido no caminho que o Jungle oferece ao ouvinte e, antes que o álbum acabe, há uma belezura de canção chamada “Goodbye My Love”, com vocais de Pryia Ragu, que tem um talhe clássico e soul setentista que é coisa bem rara de ver e o fecho glorioso com o sacolejo apoteótico de “Can’t Stop The Stars”, que é um looping de cordas que ganhou vida e batida próprias, rodopiando no salão. Maravilha.

 

 

“Loving In Stereo” é um belo disco. É dançante, tem profundidade, produção bem bacana e boas canções, condição sine qua non para um álbum ser bacana. Ouça e vá atrás dos outros trabalhos do Jungle e conheça um novo velho conhecido.

 

 

Ouça primeiro: “Keep Moving”, “Lifting You”, “Romeo”, “Can’t Stope The Stars”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *