13 ( +2 ) Discos ao Vivo – Nacionais

 

Aqui está a segunda lista de álbuns ao vivo, dessa vez, uma seleção de lançamentos de artistas brasileiros. A ideia aqui não é privilegiar critérios como vendagem, mas tentar mostrar os discos que realmente trouxeram alguma coisa interessante para as carreiras de seus realizadores ou que revelaram canções inéditas ou marcaram fins/inícios de ciclos. Também tentamos fazer escolhas que compusessem um painel que fosse além do rock nacional, procurando trazer artistas de outros estilos, como MPB, Bossa Nova e até o soul nacional.

 

O mais legal de listas deste tipo é apresentar ao leitor obras que ele ainda não ouviu e que, caso o faça, irão levá-lo para uma nova dimensão. Certamente há discos aqui que podem fazer isso e que, por vários motivos, ficaram esquecidos no tempo.

 

Vamos à lista, sempre lembrando que você pode – e deve – apontar os seus favoritos.

 

Em tempo: a atemporalidade foi um critério decisivo para a presença dos discos na lista. Por isso que alguns artistas como RPM e Camisa de Vênus, ainda que tenham gravado álbuns ao vivo com sucesso em seu tempo, ficaram de fora.  Também não foram incluídos os registros da série Acústico MTV. Claro, você pode discordar.

 

Em tempo: aqui está o link para a lista de discos ao vivo internacionais.

 

 

15 – Barão Vermelho – Ao Vivo (1990) – O registro da fase pós-Cazuza da banda carioca exibe o peso que foi incorporado pelo Barão naquele tempo. O repertório procura aliar clássicos como “Pro Dia Nascer Feliz” com porradas recentes, caso de “Pense e Dance”, tudo com urgência e força. Eu acho que a fase 1987-89 é o melhor momento da carreira do Barão.

 

 

14 – Chico Buarque – Le Zenith (1989) – Um registro animadíssimo e clássico da turnê de 1990 de Chico Buarque na França. Ele fez este mesmo show no Canecão à época e eu tive sorte de assistir. Uma banda afiadíssima, o cantor com rara leveza e totalmente adaptado ao palco e um repertório demolidor, que trazia clássicos e novas gravações de sua fase oitentista. O medley “Sem Compromisso/Essa Moça Tá Diferente/Eu Quero Um Samba” já vale o álbum.

 

 

13 – Beto Guedes – Ao Vivo (1987) – Uma beleza de ramalhete sonoro, gravado no Morro da Urca, que enfileira vários sucessos da carreira do tímido cantor mineiro. Tem “Lumiar”, “O Sal da Terra”, “Canção do Novo Mundo” (em homenagem a John Lennon) e uma versão irretocável de “Quando Te Vi”. Se tivesse “Feira Moderna” e “Amor de Índio”, seria totalmente perfeito.

 

 

12 – Milton Nascimento – Ao Vivo (1983) – Um pequeno clássico da discografia de Milton, gravado no Palácio das Convenções do Anhembi em pleno momento das Diretas Já. O cantor mineiro estava no auge da técnica e com total controle do show, numa apresentação irretocável. Destaque para interpretações arrepiantes de “Para Lennon e McCartney”, “Nos Bailes da Vida” e “Um Gosto de Sol”, com participação de Gal Costa. Minha preferida é a versão solar e maravilhosa de “Paisagem da Janela”.

 

 

11 – Toquinho – A Luz do Solo (1985) – Os shows do Projeto Luz do Solo renderam vários discos ao vivo, todos ótimos. O de Toquinho oferece ao ouvinte a impressão nítida de que o cantor e compositor paulista está em sua sala de estar, tocando e contando histórias. Vários clássicos estão presentes mas os destaques absolutos ficam com a emocionante “O Caderno” e a versão de “Que Maravilha”, composta em parceria com Jorge Ben. Aqui fica evidente que Toquinho é um dos grandes mestres do violão no Brasil.

 

10 – João Bosco – Ao Vivo 100ª Apresentação (1982) – Falando em mestres do violão, não dá pra deixar o mineiro João Bosco dessa lista. Aqui ele enfileira o filé mignon de sua parceria com Aldir Blanc numa apresentação voz/violão, que enfatiza as letras e a habilidade ímpar de João nas seis cordas. Só por “Linha de Passe” e “Nação”, as duas primeiras faixas do álbum, isso aqui já seria um documento imprescindível da música feita aqui.

 

 

09 – Cazuza – O Tempo Não Para (1989) – Aqui está o contraponto perfeito para o disco ao vivo do Barão Vermelho que abre essa lista. Cazuza no auge da fúria por sua condição física, totalmente voltado a uma análise da conjuntura do Brasil da Era Collor, com canções irretocáveis sendo executadas em pleno Canecão, com uma banda perfeita. Tem desde o lirismo safado de “Faz Parte do Meu Show” até as porradas como a faixa-título, “Só As Mães São Felizes” e “Ideologia”.

 

 

08 – Tim Maia – Ao Vivo (1992) – Um clássico da era do CD por essas bandas. Quem é fã de música e estava vivo na época, comprou esse disco, seja por sua belezura, seja pelas incontáveis promoções feitas por aí. O fato é que Tim Maia estava na ponta dos cascos, com fome de bola e com uma encarnação virtuosa da Banda Vitória Régia e enfileirou vários petardos de sua carreira com toda a sua adorável lenga-lenga no palco. O resultado: perfeição. Destaque para “Vale Tudo”, “Telefone”, “Paixão Antiga”, o interlúdio bossanovístico e vários medleys. Uma maravilha.

 

 

07 – Paralamas – D (1987) – O melhor disco ao vivo de uma banda brasileira dos anos 1980 e que teve capacidade para sobreviver longe de seu contexto. Aqui estão os Paralamas em Montreux, em plena turnê do álbum “Selvagem?”, fazendo um show cheio de balanço e com referências interessantes, caso da mistura de “Alagados” com “De Frente Pro Crime” (Joao Bosco e Aldir Blanc), “Selvagem” com “Polícia” (dos Titãs) e uma cover de “Charles Anjo 45”, de Jorge Ben. Além disso, apresentaram uma faixa inédita, a ótima “Será Que Vai Chover”.

 

 

06 – Tom Jobim – Inédito (1995) – Este disco só foi lançado oito anos após sua gravação e mostra Tom em sua fase “Passarim”, cantando com a Banda Nova, que tinha nos vocais de apoio femininos uma de suas características. Além delas, Danilo Caymmi e o próprio Tom cantam e dão um contorno humano e adorável a clássicos como “Estrada do Sol”, “Sabiá”, “Águas de Março” e “Chovendo Na Roseira”, numa apresentação praticamente perfeita.

 

 

05 – Doces Bárbaros – Doces Bárbaros (1975) – Este disco duplo com a participação de Caetano, Gil, Gal e Bethânia é um dos mais expressivos documentos musicais dos anos 1970 no Brasil. O repertório, as interpretações, o contexto e a proximidade que o ouvinte tem com os artistas é algo raro de se perceber. Não há como destacar uma ou outra faixa, mas, se fosse preciso fazê-lo, a voz de Maria Bethânia em “Um Índio” talvez seja algo de outro mundo.

 

 

04 – Gal Costa – Fa-Tal A Todo Vapor (1971) – Este disco foi o ponto final da Tropicália e resumiu tudo que o movimento trouxe: misturas, reinterpretações, remodelações e toda a força de compositores como Jards Macalé. Luiz Melodia e Wally Salomão, sem falar na perfeição da voz de Gal Costa naquele tempo. O repertório é um caso à parte: “Vapor Barato”, “Dê Um Rolê”, “Como 2 e 2”, “Pérola Negra”, “Coração Vagabundo” e tudo funciona por aqui.

 

 

03 – Jorge Ben – Ao Vivo No Rio (1990) – Vitimado por problemas contratuais, que atrapalharam sua distribuição, este álbum duplo é uma maravilha total. Ben e uma banda especialmente concisa sobem ao palco do Jazzmania, pequena casa de shows carioca no Arpoador, e engata seu repertório. As canções mais recentes são executadas na íntegra e as mais antigas recebem tratamento em formato de medley. Além disso, Ben coloca pra jogo uma faixa inédita, que seria responsável por ressuscitar sua carreira nos anos 1990: “W Brasil”. Este show e este repertório formataram os inúmeros shows que ele faria ao longo dos anos seguintes.

 

 

02 – Gilberto Gil – Em Concerto (1987) – Gilberto Gil e Jorge Mautner num palco, com instrumentos acústicos e banda mínima. Esta é a proposta de “Em Concerto”, outro registro ao vivo colhido no Projeto Luz do Solo. Gil conversa com a plateia e a brinda com versões especiais de canções como “Filhos de Gandhi”, “Soy Loco Por Ti America”, “Palco” e a melhor interpretação da história para “Procissão”, com direito a um violão em estilo sacro que dá uma nova dimensão à canção. Um mestre no palco.

 

 

01 – João Gilberto – Live At 19th Montreux Jazz Festival (1986) – Eu tive este álbum em vinil duplo e até hoje lamento que ele tenha se perdido ao longo do tempo. João sobe ao palco do Festival de Montreux com seu violão e começa uma calma caminhada pelas alamedas e jardins da música brasileira das últimas décadas. Tem espaço para “Aquarela do Brasil”, “Pra Que Discutir Com Madame”, “Tim Tim Por Tim Tim”, “O Pato”, “Estate”, ou seja, um desfile da própria ideia daquele Brasil que nunca se concretizou. Este disco é quase uma experiência transcendental e, para nossa tristeza, ainda está inédito em CD ou disponível nos serviços de streaming. Algumas faixas estão no Youtube.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *