Banda de Jack Antonoff é antídoto para insônia

 

 

 

Bleachers – Bleachers
48′, 14 faixas
(Dirty Hit)

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

 

 

Você já ouviu e, provavelmente, gosta bastante do trabalho de Jack Antonoff, o líder dos Bleachers. Pense em quem ele tem produzido nos últimos dez anos: Taylor Swift, Lorde, Lana del Rey, Florence + The Machine, St. Vincent e até Diana Ross, quando esta gravou uma faixa para a trilha sonora do último filme dos Minions. Sim, Antonoff, nascido em 1984, é um produtor de muito renome, que traz na bagagem a responsa por ter aproximado as sonoridades do pop e do indie. Ou vice-versa. O fato é que ele forjou uma liga sonora característica, que alimentou e propulsionou a carreira dessas cantoras, cada uma à sua maneira, grande no que se dispõem a fazer. E, como se não bastasse, ele tem o Bleachers, banda “de estimação”, herdeira do fun, grupo que ele integrava no início dos anos 2000. E o herói artístico do homem é Bruce Springsteen. Ou, pelo menos, é agora. O fato é que este álbum homônimo não tem muitos atributos para ser considerado seriamente. Vejamos.

 

Antonoff não é um bom cantor, é desses que quebram o galho. Com ele produzindo e tocando vários instrumentos no estúdio, além de um grupo de músicos que o acompanham ao vivo, o álbum dos Bleachers é quase um portfólio de habilidades pop contemporâneas despidas de truques mercadológicos e/ou talentos alheios. Explico: sem a presença dos artistas que produz e com os quais troca, Antonoff não se sustenta como criador e realizador solo. Não é culpa dele, afinal de contas, sua marca sonora está presente em vários álbuns que se tornaram “clássicos modernos”. Não há aqui o enigma de uma Lorde ou a megalomania de uma Taylor ou, muito menos, uma coolzice irônica como a de uma Lana del Rey. Sobra pouco, muito pouco.

 

Para se ter uma ideia, as três faixas que merecem algum destaque em “Bleachers”, o álbum, são aquelas em que Antonoff tenta soar como se trouxesse a E-Street Band, de vocês sabem bem quem, para tocar informalmente no estúdio. Digo “informalmente” porque o resultado é vago e com pouco punch. Mesmo em “Modern Girl”, o hit do álbum, o vigor é dispersado por um arranjo que impede alguma centelha rock genuína. O saxofone onipresente dá as caras, tocado por Evan Smith, mas o resultado final é de uma fita demo, mal mixado, ou, melhor dizendo, com um “estilo” que soa desleixado, bagunçado e diluído “de propósito”, cool, blasé ou qualquer outro termo que você encontre como eufemismo para “modernidade vazia”. É isso, a música oferecida por aqui é de baixíssima caloria. Em “Me Before You” ele parte do arranjo de três canções de Bruce: “Streets Of Philadelphia”, “Secret Garden” e “I’m On Fire”, e o resultado não honra nenhuma delas, novamente resvalando no resultado aguado.

 

A melhor faixa do álbum é “Tiny Moves”, que é boa porque lembra algo que poderia ser de Fitz And The Tantruns ou outro grupo pop com um pouco mais de sangue nas veias. É um r&b cadenciado e com um elemento dançante bacaninha. E se essas três supra-citadas são as melhores faixas de “Bleachers”, o que dizer do resto? Um pop à meia voz, banal e que soa refém de uma coolzice que não dá as caras. Tente não bocejar com o romantismo raso de “Alma Mater” ou a péssima “The Waiter”, que encerra os longuíssimos 48 minutos de duração.

 

Antonoff é um cara com talento e deve ser capaz de fazer melhor que isso. Se os outros álbuns dos Bleachers soavam um pouco mais interessantes, este aqui pode significar um bloqueio ou algo do gênero. Sonolento e desnecessário.

 

 

Ouça primeiro: “Tiny Moves”, “Modern Girl”, “Me Before You”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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