White Denim – Side Effects

Gênero: Rock alternativo
Duração: 29 min
Faixas: 9
Produção: James Petralli, Steve Terebecki, Jim Vollentine
Gravadora: Transmit Sound

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

White Denim é um quarteto de Austin, Texas. Surgiu como um trio punk no início dos anos 2000 e transmutaram-se numa banda com muito mais possibilidades. Ao longo dos últimos tempos, entregaram discos excelentes, sempre com algo em mente: adaptar a urgência de hoje em dia ao rock clássico/psicodélico de antanho. A proposta, apesar de parecer simples, é ousada, uma vez que inclui tempo gasto na apreciação das canções, algo que as pessoas não dispõem hoje em dia. Sendo assim, a ideia carece de poder de síntese, habilidade, senso pop e uma dose de sorte. “Side Effects”, o nono disco da banda, é a linha de chegada, o objetivo alcançado, a fórmula perfeitamente executada. Que álbum, senhoras e senhores, moças e rapazes.

O ponto de inspiração é o rock californiano da virada dos anos 1960/70. Cabe The Doors, cabe Grateful Dead, cabe Allman Brothers e mais um monte de bandas e artistas. Daí, estas ideias e nuances musicais são enviadas para um centro de processamento, no qual são inseridas em canções de dois, três minutos, rapidíssimas, incandescentes, com altíssima octanagem, que vão brotar do instrumental enxuto do White Denim: baixo, bateria, guitarra e … sintetizadores. Este é o segrego estrutural dos caras, que apreenderam a mentalidade enxuta trazida por outros revisionistas, mais notadamente, Black Keys, que também mostraram o quanto timbres distorcidos e eletronicamente processados podem ajudar nesta construção sonora. Demorou bastante para o White Denim acertar a mão e chegar neste ponto de excelência.

“Side Effects” tem nove enxutas canções em 29 minutos. Seis delas duram menos que três minutos. As outras duas não ultrapassam quatro e uma única é um pequeno épico com precisos 6:49 minutos. Esta concisão é definitiva porque, não há dúvidas, “Sound Effects” é um disco de rock psicodélico padrão 2019, mas sem qualquer enrolação ou tique herdado do passado. É quase uma coisa nova. Talvez seja. Todas as canções são pop, têm refrãos ganchudos, ostentam ou escondem passagens e detalhes instrumentais muito bem sacados e tudo faz muito sentido no fim.

A abertura de “Small Talk (Feeling Control)”, com guitarras, cowbell e bateria precisa, é um bálsamo de belezura. “Hallelujah Strike Gold” tem samples de sapos, vacas e um timbre de guitarra que poderia ser de 1972, mas é de hoje. “Shanalala” é dançante, soturna, obsessiva e aerodinâmica. “NY Money” tem teclados espaciais e uma dinâmica de trem desgovernado, cheia de baterias extravagantes e múltiplos sons. “Out Of Doors” tem violões acústicos, passarinhos sampleados e um sentimento de que estamos ordenhando vacas na fazenda, tudo isso em pouco mais de um minuto de duração. “Reversed Mirror” é uma mistura de Allman Brothers com conexão 4,5 G, enquanto “So Emotional” é um voo sobre o terreno das canções de amor, mas sem parecer por nenhum momento. “Head Spinning” é puro riff de guitarra e vocal sem sentido, feita para pular por aí, enquanto “Introduce Me” é uma picape F-1000 desgovernada pela estrada, com batidas sampleadas de hip-hop e alguma dose de vocais espaciais. Pronto, o disco é isso.

Não perca “Side Effects”. Ele é mais uma prova do que o rock pode ser: inovador, instigante, incômodo, mas genial e exuberante em boas dosagens de passado e presente, que resultam no futuro. O rock está longe de ser o cadáver reacionário e conservador que as pessoas insistem em achar. Este disco é a prova contundente de que existe muito mais além das rádios rock e das bandas cover. Um clássico instantâneo.

Ouça primeiro: “Small Talk (Feeling Control)”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “White Denim – Side Effects

  • 24 de novembro de 2019 em 22:21
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    Rapaz, fez muito bem. É um dos grandes discos de 2019!

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  • 24 de novembro de 2019 em 21:17
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    Paguei incríveis R$90,00 no cd importado, mas valeu cada centavo hehehe…..amo essa banda e coleciono todos os discos dêles!

    Resposta

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