Trilha de filme sobre Brian Wilson tem brilho próprio

 

 

Brian Wilson – Long Promised Road (OST)

Gênero: Rock

Duração: 39 min
Faixas: 12
Produção: Brian Wilson
Gravadora: Lakeshore

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

Fãs de Brian Wilson não têm do que reclamar. Poucos dias após o lançamento do belíssimo “At My Piano”, o beach boy coloca no mercado a trilha sonora do documentário “Long Promised Road”, lançado lá fora há pouco pela Apple TV. O álbum é composto por sobras de gravações que Brian fez ao longo dos anos 1990, no tempo em que estava retomando sua carreira efetivamente. Além dessas canções, temos uma maravilhosa gravação ao vivo de “In My Room”, feita no Rhyman Auditorium. E há uma maravilhosa canção inédita, composta por Brian em pareceria com Jim James, líder do My Morning Jacket, chamada “Right Where I Belong”, que consegue evocar toda a beleza e doçura das composições de Wilson, seja com o grupo, seja em carreira solo. Tudo aqui é bem bonito e emocionante.

 

O filme foi dirigido por Brent Wilson (que não é parente) e mostra Brian passeando pela cidade de Los Angeles com o editor da Rolling Stone Jason Fine, com a missão de visitar locais importantes para os Beach Boys no passado. Enquanto passeia, a dupla vai conversando e relembrando momentos importantes da carreira do grupo e da trajetória solo de Brian. O projeto foi originalmente concebido como um documentário mais direto no qual Brent entrevistaria Brian em uma sala, mas Brian não estava disposto a falar nesse formato. Foi então sugerido que as entrevistas fossem conduzidas pelo editor da Rolling Stone Jason Fine, que já havia escrito artigos sobre Wilson e havia planejado escrever a segunda memória dele, “I Am Brian Wilson”. E como um dos artigos recentes de Fine sobre Wilson fora escrito a partir de discussões que os dois tiveram enquanto dirigiam juntos por Los Angeles, um formato semelhante foi adotado para o filme, com mais de 70 horas de filmagem em três fins de semana.

 

“Long Promised Road” também apresenta trechos de entrevistas com fãs como Bruce Springsteen, Elton John, Jim James, Nick Jonas, Taylor Hawkins e Jakob Dylan mas a trilha sonora se sustenta sem o filme. Ela traz dez composições feitas por Brian em parceria com Andy Paley, produtor e multinstrumentista com quem trabalhou entre 1988 e o fim da década de 1990. Algumas das canções compostas pela dupla foram incluídas em álbuns lançados por Brian neste perído, como “Brian Wilson” (1988), “I Just Wasn’t Made For These Times” (1995) e “Imagination” (1997), sem falar na canção que dá título ao filme, uma das últimas gravações que Brian fez com seu irmão, Carl Wilson, que morreria em 1998. Tanto a faixa inédita, com Jim James, quanto a versão ao vivo de “In My Room” já valem a empreitada, mas ainda há a lindíssima “Must Be A Miracle”, que é uma das baladas climáticas tradicionais que Brian faz desde que o mundo é mundo, sempre com muito talento. Além dela, “Slightly American Music” e “It’s OK” são totalmente inseridas no cânon beachboyano sessentista, duas delícias de parque de diversão.

 

Sobre a nova composição, “Right Were I Belong”, Jason Fine explicou como ela nasceu: “Brian tinha escrito essa melodia realmente linda, mas não tinha palavras para acompanhá-la. E ele queria colaborar com Jim James do My Morning Jacket, que é um grande fã dos Beach Boys e entende o tipo de nível espiritual da música de Brian. E Jim escreveu essas letras, algumas das quais vieram na voz de Brian em entrevistas que Brian e eu fizemos, e então Jim escreveu em torno dessas linhas.” O resultado é belo.

 

“Long Promised Road” é mais um documento essencial para que os fãs de Brian e dos Beach Boys consigam montar o quebra-cabeças em que se transformou sua trajetória, tristemente marcada por problemas emocionais, disputas legais e rompimento de relações entre parentes e ex-amigos de décadas. A mísica, felizmente, manteve-se à parte, linda e espiritual. E ela segue viva aqui.

 

Ouça primeiro: “Right Where I Belong”, “Slightly American Music”, “In My Room”, “Must Be A Miracle”

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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