Três Resenhas: Ann Wilson, Bloc Party e Georgia Harmer
Ann Wilson – Fierce Bliss
(Silver Lining)
50′, 11 faixas
Se você é fã de classic rock e quer ouvir um disco bacana, que seja fiel a este gênero e, ao mesmo tempo, não soe nostálgico e bundão, o novo álbum de Ann Wilson, “Fierce Bliss”, é uma ótima pedida. Ann, pra quem não sabe, divide a liderança do Heart ao lado da irmã, Nancy, desde o início dos anos 1970. Desde então, a banda foi ganhando status e respeito, cravando sucessos como “Barracuda”, “If Looks Could Kill”, “These Dreams”, “Alone”, entre outros. A voz de Ann continua forte e presente. A vocalista, que lutou por décadas contra vício em cocaína e álcool, além de sofrer pressões para perder peso, gravou um álbum surpreendentemente forte e consistente. Todo registrado no mitológico estúdio Muscle Shoals, “Fierce Bliss”, tem composições próprias de acento zeppeliniano, caso de “Gladiator” e “Fighten For Life”, mas também tem duas versões bem sacadas: “Missionary Man”, dos Eurythmics e “Love Of My Life”, do Queen, revivida aqui num dueto bacana com Vince Gill, atualmente um dos integrantes dos Eagles. O álbum também tem as presenças dos guitarristas Warren Haynes (atualmente no Allman Brothers) e Kenny Wayne Shepherd, que dão um tom bluesy às canções. O único lançamento deste ano que pode ofuscar a ocupação do trono do classic rock por “Fierce Bliss” é o próximo trabalho do Def Leppard, com data de lançamento para o meio do ano.
Bloc Party – Alpha Games
(BMG)
39′, 12 faixas
Algumas bandas bacanas ficarem irremediavelmente datadas nos últimos tempos e este é o caso do Bloc Party. De um discaço de estreia em 2005 – “Silent Alarm” – o grupo jamais repetiu o êxito e também viu o vocalista, guitarrista e líder, Kele Okereke, inaugurar uma carreira solo que disputou espaço com os lançamentos subsequentes do Bloc Party. Agora, com 17 anos de carreira e emergindo da pandemia, o quarteto londrino retoma a trajetória com este simpático “Alpha Games”. Não dá pra negar que algumas canções presentes aqui são bacanas, caso explícito do trovejante single “Traps”, lançado no fim de 2021, passando pela suingada e eletrônica “Callum Is A Snake”, a linearidade rock de “Sex Magik” e pelo balanço meio forró (sim, isso mesmo) de “Rough Justice”, a sensação que fica é de que o BP está numa encruzilhada na qual, de um lado está o revivalismo precoce dos anos 00 e, do outro, um modernismo meio sem sentido. “Alpha Games” não é ruim, longe disso, mas deixa um vazio esquisito após sua audição.
Georgia Harmer – Stay In Touch (foto)
(Art & Crafts)
43′, 11 faixas
Georgia Harmer tem apenas 22 anos e este belo “Stay In Touch” é o seu primeiro trabalho. Calejada na movimentada cena de Toronto, a cantora oferece um álbum que cobre os terrenos do pop, do folk, do country e de gêneros adjacentes, sempre com relevância. Alguns cri-cris poderiam dizer que “Stay In Touch” carece de identidade, uma vez que Georgia passeia por estes gêneros sem se prender a nenhum, mas, pelo contrário, a diversidade é uma prova de que a moça e sua boa banda de apoio têm malandragem para passear por vários caminhos e mandar bem. Nos momentos mais pop estão os resultados mais bacanas, caso da fleetwoodmáquica “Top Down”, cheia de guitarras maravilhosas e com uma dinâmica invejável. A belezura também está presente na ótima “All In My Mind”, que tem um arranjo noventista que caberia em algum disco do Belly ou da Veruca Salt. E há “lentinhas” lindas, como a fofa “Homes”, a arrepiante e countrificada “Go Soft” e a encantadora “Talamanca”. “Stay In Touch” nem parece o disco de uma estreante. Ouça e ame.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.