Três Resenhas: Toro Y Moi, Sofi Tukker e Eli “Paperboy” Reed

 

Toro y Moi – MAHAL (foto)
(Dead Oceans)
40′, 13 fauxas

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Toda a psicodelia californiana possível em 2022 está nas faixas de “MAHAL”, o novo trabalho de Toro y Moi. Chaz Bundick, o cérebro por trás do nome, recrutou colaboradores legais como a Unknown Mortal Orchestra, Alan Palomo (Neon Indians), a cantora iraniana-austríaca Sofie Royer e outros elementos e, juntos, criaram essa paisagem maravilhosa. Tem um pouco de anos 1970, guitarras cheias de wah-wah saturados, melodias maravilhosas e um baixo sinuoso, gordo e constante, que surge como uma espécie de fio condutor entre as canções do álbum. Bundick tem a manha de compor melodias e arranjos que experimentam mas não perdem o foco no elemento pop, fazendo de canções como “Postman”, “Last Year” e “Magazine”, momentos realmente iluminados e dignos de almejar as listinhas de melhores discos do ano. Este que é o sétimo lançamento do Toro y Moi, pode ser um divisor de águas na carreira da banda, talvez para um lado mais orgânico e que usa a eletrônica de um modo mais econômico que das vezes anteriores. Veremos com o tempo. Por enquanto, “MAHAL” é belezura ensolarada que merece grudar na sua mente.

 

 

 

 

 

Sofi Tukker – WET TENNIS
(Ultra Records)
34′, 12 faixas

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Sofi Tukker é um duo de Nova York, formado por Sophie Hawley-Weld e Tucker Halpern e eles fazem música dançante e moderna, com certo viés alternativo. Ou seja, tem eletrônica, tem anos 1980, tem um pouco de hip hop, referências, samples e tudo mais. Mas tem um algo mais que faz a diferença – os caras são realmente bons compositores e têm ótimas sacadas. Por exemplo: abrir o disco com “Kakki”, com uma letra … em português. Ou enfiar uma menção a “Tom’s Dinner”, da Suzanne Vega, no meio de “Summer In New York”. Ou ainda enfiar violinos e uma pegada árabe em “Forgive Me”, com participação de Mahmut Orhan, que nasceu no … Butão. E tem um monte de canções legais, como a faixa-título, que tem metais sintetizados e uma aura de funk latino. Tem “Mon Cheri” novamente em português), o flerte com a house noventista de “Larry Bird”, além da inusitada cover para “What A Wonderful World”, imortalizada por Louis Armstrong. O single “Sun Come Up” é um ótimo exemplo dessa síntese sendo bem feita e bem executada. A música do duo é a prova definitiva que não é necessário abdicar da inteligência ou das ótimas referências musicais para sair dançando por aí sem ter hora pra parar.

 

 

 

Eli “Paperboy” Reed – Down Every Road
(Yep Roc)
34′, 12 faixas

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Muita gente pode estranhar, mas o soul e o country são gêneros que têm interseções importantes ao longo do tempo. Gente como, por exemplo, Solomon Burke, Dan Penn, Arthur Alexander, Brook Benton, Dusty Springfield e, mais recentemente, a cantora inglesa Yola, são artistas que têm em suas carreiras um pouco de ambos, pendendo para um dos lados ocasionalmente, ao longo do tempo. Além disso, o próprio Ray Charles foi um mestre em andar por esta escruzilhada. Eli “Paperboy” Reed poderia ter escolhido um deles para prestar um tributo, mas escolheu um dos gigantes do country americano, Merle Haggard, que, curiosamente, não tem nenhuma incursão no terreno soul. Quem conhece a obra dele, no entanto, sabe que ele escreveu e gravou uma canção chamada “Irma Jackson”, que narra um romance interracial, a primeira do country. Faz então total sentido que a obra do homem seja escrutinada por Paperboy, um esteta do chamado “vintage soul” de hoje. Ele transforma as canções de Haggard em versões cheias de metais e groove, dando um acento que funciona totalmente e, mais que isso, complementa muitos dos arranjos originais, funcionando como uma espécie de reimaginação das canções. Dentre estes doze originais de Haggard, tem a lindeza de “It’s Not Love But It’s Not Bad”, turbinada por metais em brasa e o andamento perfeito de “If We Make It Through December”, uma lindeza sem par. Ouça e conheça a obra dos dois, Haggard e Paperboy.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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