The Killers – Imploding The Mirage

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 42 min.
Faixas: 10
Produção: Shawn Everett, Jonathan Rado, Stuart Price, Ariel Rechtshaid
Gravadora: Island

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

É bem provável que, caso seja necessário mencionar um único nome, The Killers seja um bom consenso para levar o título de banda mais importante do rock atual. O agora trio – Brandon Flowers, Mike Stoermer e Ronnie Vannucci – preenche várias lacunas importantes: têm capacidade para gerar grandes hits, sabem lidar com o binômio dança/guitarras, têm bom senso para dosar eletrônica e elementos acústicos, gostam de remixes e não hesitam em assumir influências oitentistas que vão de U2 a New Order, passando por Bruce Springsteen e até A-Ha. O Killers não tem muito pudor em se assumir como revivalista mas faz música com cara de 2020. São mestres discretos na hora dos shows, oferecendo o que os fãs mais desejam e não fogem dos momentos mais “arenísticos” com celulares acesos em estádios e interpretações dramáticas. Conservam um certo DNA indie após todos estes anos – já são dezesseis desde o lançamento do primeiro álbum, o insuperável “Hot Fuss”. Com a saída do guitarrista Davie Keuning, a banda precisou de uma reinvenção. E se deu bem com este ótimo “Imploding The Mirage”.

 

Em primeiro lugar, Flowers e Vannucci, os dois mais ativos participantes, recrutaram Shawn Everett e Jonathan Rado, também conhecidos como Foxygen, a dupla psicodélica que vem fazendo belos discos a cada ano. Com eles na pilotagem do estúdio, as canções compostas e elaboradas pelo grupo não ganharam ares viajantes, mas vieram mais desinibidas numa espécie de retorno a uma maneira mais simples de fazer música. Ou seja, há tanto a ostentação do rockão herdeiro do U2 mais dramático e, ao mesmo tempo, uma incorporação natural de batidas dançantes e blips eletrônicos. Tudo está naturalmente amalgamado nos arranjos. E mais: a banda não vem com canções climáticas em excesso, no máximo elas começam com introdução lenta e vão crescendo até explodirem em refrões bombásticos e esgoelantes. Isso quer dizer que The Killers estão dando o que os fãs querem, sem complicar muito e aproveitando o que tem de melhor, as alternâncias, a versatilidade e as ótimas canções. Elas estão por toda parte.

 

Há bastante gente participando do disco. O ótimo single “Caution” tem a guitarra de Lindsey Buckingham, do Fleetwood Mac, algo que causou surpresa no lançamento, mas que, uma vez conferida a parceria, fez todo sentido do mundo. Em “Lightning Fields” está a canadense k.d. Lang, uma das melhores cantoras de sua geração, algo que fez muito bem à faixa. Em “My God” há a participação de Weyes Blood, enquanto a guitarra fica nas mãos de Adam Granduciel, do The War on Drugs. Está tudo em casa e em boas mãos. Além disso, é preciso ressaltar que Brandon Flowers esteve flertando com a música do Vampire Weekend, por meio do produtor Ariel Rechtshaid, que já esteve pilotando estúdio em seus discos solo. O resultado dessa parceria se materializa na dramática e ótima “Running Towards A Place”, que tem algo que poderia estar numa canção dos Eagles, se eles tivessem começado a carreira em 2004. E ainda temos o momento “bandeira anos 80”, que chega numa canção híbrida de levadas dançantes e funky, algo que poderia ser da Madonna fase “True Blue”. Falo de “Fire In Bone”, não por acaso, parceria da banda com Stuart Price, que já trabalhou com a Material Girl.

 

O grande barato do disco é, além disso tudo, a estatura das canções apresentadas. Todas redondíssimas, ótimas para ouvir no carro, dançar, prestar atenção nas letras, equidistantes do pop e do rock. Mas Flowers e cia capricham extremamente em duas: “Dying Breed”, que poderia ser a cruza improvável – mas materializada com êxito – entre A-Ha e Bruce Springsteen, ambos em seus momentos bombásticos circa 1984/85. E, talvez no momento mais impactante de todo o álbum: “When The Dreams Run Dry”, um épico a bordo da Super-Máquina no deserto ao alvorecer, fugindo daqueles carros de polícia enormes dos anos 1980. Enquanto vamos acelerando, vão passando em flash back um monte de imagens da vida que virou filme. E tudo some com um “to be continued” em amarelo, indicando que ainda estamos longe do fim. Sim, gente, é um discão.

 

The Killers fez seu público esperar por um trabalho inédito por muito tempo. Adiou o lançamento de “Imploding The Mirage” por quatro vezes e, finalmente, entrega o que todos esperávamos: um álbum para fazer frente a seus primeiros discos, mostrando que tudo nesta vida é ciclo sobre ciclo. Ouça feliz da vida, é álbum pra guardar e ter na estante.

 

Ouça primeiro: “When The Dreams Run Dry” e “Dying Breed”

PS: e que capa linda, gente.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “The Killers – Imploding The Mirage

  • 21 de agosto de 2020 em 11:46
    Permalink

    Eles nunca decepcionam! Acho que o que mais gosto e, que citou bem na resenha, é deixar claro suas referências nos arranjos. Para mim, esse novo disco da banda está na briga para ser o melhor da banda, apesar de ainda gostar muito do Sam’town!

    Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *