Dario Julio e os Franciscanos – O Menino Velho da Fronteira
Gênero: Rock alternativo
Duração: 39 min
Faixas: 10
Produção: Bruno Sguissardi
Gravadora: Independente
(4 / 5)
Dary Jr está no Facebook como Dary de Corumbá mas morou muito tempo no Paraná. Foi, voltou, partiu novamente. É um sujeito orgulhoso de sua terra e origem e se vale desta vivência para fazer sua música. Foi assim com lorena foi embora e Terminal Guadalupe, suas duas ótimas bandas, que povoavam coletâneas secretas em CD-R no início do milênio, é assim com seu novo projeto, Dario Julio e os Franciscanos. Coração na ponta da guitarra, sentimento e capacidade de olhar a vida de uma perspectiva mais, digamos, adulta, Dary virou Dario e nos oferta suas impressões sobre o amor, os relacionamentos, a vida pelas BR-040 do destino. Sobre isso que trata o ótimo “Menino Velho da Fronteira”. No caso, ele mesmo, Dary.
A ideia é fazer um inventário casual de emoções tendo por base um “pop radiofônico popular brasileiro”. É um gênero musical existente, porém pouco mapeado e que se perde nas fronteiras borradas entre pós-Jovem Guarda, brega, pop romântico, Roberto Carlos, Belchior e outros trovadores setentistas que se foram na poeira desta estrada triste, seja de fato, seja em sentido figurado. Dary já fazia algo semelhante em suas bandas do passado, porém, talvez pela juventude e a proximidade com influências do pós-punk inglês oitentista, isso ficara, digamos, oculto. Agora, mais cascudo, ele assume esta faceta e abraça a sonoridade AM pop nacional com carinho e sinceridade. Pra quem conhece seu trabalho de longe, há conforto em vez de surpresa. Pra quem nunca o ouviu, a probabilidade de ter as canções de “Menino…” grudadas na mente é grande.
Os Franciscanos constituem a melhor banda que já acompanhou Dary. Os arranjos são ótimos e as faixas são muito bem produzidas pelo Bruno Sguissardi. As referências estão todas na mesa, de uma forma ou de outra. Por exemplo, “O Nome do Jogo” tem uma pegada funk, no sentido Roberto Carlos do termo, emulando clássicos como “Todos Estão Surdos” ou “Além do Horizonte”. “Como Diria O Poeta”, com pianos e lirismo beatle, tem versos como “as estações serão todas primaveras” ou “aquele menino, seu destino rumo a Cuibá”. “Oi” também vai por um caminho semelhante, mas abraçando os tropeços da vida, com bom trabalho de vocais de apoio e baixo/bateria.
“Arco-Íris” brinca com as cores usando-as em cada verso: “tarja preta, agente vermelho, sorriso amarelo”, com um toque de ironia e humor que é bem vindo em meio ao todo. No instrumental um bom trabalho de slide guitar. “Eu e Julio no Pátio da Escola” não é uma versão do clássico de Paul Simon, mas uma canção soturna e contemplativa, com boas guitarras e vocais no limite. Em seguida vem outra bela canção com algum acento beatle, “Tempo e Placar no Roseiral (é Você)”, com metáforas futebolísticas sobre os relacionamentos: “o que você fez, não entendi qual foi o lance, eu não tive a menor chance, estava fora de alcance”. “Horas Quentes” tem uma levada dançante e enguitarrada com alguma influência de “A Town Called Malice”, do The Jam no arranjo e ótimo trabalho de órgãos. Fechando os trabalhos, “Ensaio Sobre a Lealdade”, outra canção enguitarrada e cheia de intensidade, com nítida influência de Belchior em versos como “eu não tenho nem quinze reais, sou um mito do IBGE”.
“O Menino Velho da Fronteira” é um desses discos maduros, líricos e cheios de boas intenções. Tem conceito, tem sentimento, tem ótimas canções. Ouçam e passem adiante.
Ouça primeiro: “O Nome do Jogo”
Foto: Thais Mallon
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.