Rodrigo y Gabriela – Mettavolution

Gênero: Instrumental
Duração: 41 min
Faixas: 7
Produção: Dave Sardy
Gravadora: ATO
4 out of 5 stars (4 / 5)

Este “Mettavolution” é um disco importantíssimo. Antes de qualquer coisa, saibam que a regravação que a dupla mexicana Rodrigo y Gabriela fez de “Echoes”, canção emblemática do Pink Floyd, safra 1972, última faixa deste álbum, é uma das coisas mais belas que você ouvirá em 2019. Portanto, ouça. Agora, vai lá. Ouviu? Então vamos continuar.

Rodrigo Sanchez e Gabriela Quintero são dois violonistas/guitarristas. Têm uma formação musical que inclui flamenco e heavy metal. Estão na estrada há mais de 20 anos, lançando álbuns com elegante regularidade, sempre procurando encontrar um elo perdido/suposto entre a música instrumental mais tradicional e os ritmos urbanos surgidos no planeta nos últimos tempos. Só que, no meio do caminho, encontraram algo próprio e totalmente diferente de ambos os polos de comparação. Não é flamenco, nem heavy metal. É melhor. Ótimos músicos, sem preconceitos estéticos, os dois proporcionam momentos de rara beleza em seus álbuns, mas parecem viver uma espécie de auge com “Mettavolution”.

O disco tem sete faixas, sendo que seis são composições próprias e a última, a já mencionada cover de “Echoes”, com 19 minutos de duração. Em sua composição estrutural, o álbum traz um conceito: é um pequeno e delicado tratado sobre o budismo e o potencial adormecido do ser humano. Tem a ver com uma vida longe dos espertalhões que cobram pedágio pra ir pro céu ou que te fazem crer que a espiritualidade está ligada, diretamente, a uma conduta em que a dívida moral é condição para fazer ou não fazer algo em vida. É o que a dupla diz no release do disco. “Desenvolver nosso potencial como espécie”.

Dentre os originais, a faixa-título inicia os trabalhos com uma pegada inegavelmente rock, na qual as credenciais da dupla são apresentadas: virtuosismo que nunca enche o saco do ouvinte, sempre colocado a favor do ritmo e da beleza. Assim eles seguem ao longo desta “primeira metade” do álbum, com destaque absoluto para a influência de Santana em “Electric Soul”, uma faixa belíssima e delicada, que poderia estar em “Borboletta”, clássico trabalho do mexicano de 1974. Mas é com “Echoes” que tudo faz sentido. A dupla bolou um arranjo que, ao mesmo tempo, é totalmente fiel ao original – na medida em que duas guitarras poderiam reproduzir o Floyd de 1972 – e capaz de ampliar as nuances e detalhes, como se estivéssemos vendo tudo por um microscópio. O efeito é impressionante e os 19 minutos de duração passam num piscar de olhos.

“Mettavolution” é o tipo de trabalho que surge como reação a tempos péssimos como os que estamos vivendo. Do caos e da burrice surgem pequenos tratados de compreensão e beleza, que contrabalançam onde – e como – podem a vida diária. E dela, da vida diária, surgem as meditações da dupla, dando ao todo uma sensação se ciclo completo. Ouçam, é um dos grandes discos do ano.

Ouça primeiro: “Echoes”.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *