Diga-me com quem andas

 

O Brasil tomou conhecimento da existência do doutor jairinho. Não por seu trabalho como vereador cinco vezes eleito no município do Rio de Janeiro, nem por sua participação em cultos evangélicos, mas por sua provável participação no assassinato do menino Henry Borel, seu enteado, no dia 08 de março. A criança, de quatro anos de idade, foi levada por jairinho e monique medeiros, mãe do menino, ao hospital Barra D’or, supostamente por ter caído da cama e não conseguir respirar. Logo percebeu-se que Henry estava cheio de lesões pelo corpo, equimoses, hematomas e todo tipo de indício que dava conta de sucessivas agressões físicas sofridas recentemente. Ontem o casal foi preso por suspeição na morte de Henry, sob acusação de tortura e homicídio duplamente qualificado.

 

Não vou me ater às questões do relacionamento entre monique e jairinho, mas sim ao fato de como é possível que uma pessoa como ele seja reeleita cinco vezes para o mandato de vereador. Disputando as últimas eleições pelo partido Solidariedade – uma dessas legendas que não significam nada em termos programáticos ou ideológicos – ele ocupava posto na Comissão de Ética da Câmara de Vereadores do Rio, na qual transitava há anos, sempre com proximidade ao governo municipal, fosse ele ocupado pelo grupo do atual prefeito, Eduardo Paes, ou do anterior, marcelo crivella. Não por acaso, o pai de jairinho, coronel jairo, deputado estadual, foi preso na Operação Furna da Onça, que apurou relações criminosas no governo do ex-governador sério cabral filho. Também sem qualquer sombra de casualidade, jairo e jairinho são produto da lógica das milícias cariocas, grupos armados que se beneficiam da inoperância do estado – ou que contribuem e agem para que ela ocorra – e se estabelecem como detentores de poder em certas regiões da cidade, no caso dos dois, a Zona Oeste do Rio.

 

Com este currículo e antecedentes, claro, jairinho – e jairo – são “homens de fé e de bem”, transitando por aí com o rótulo de defensores da família e dos bons costumes.  Além disso, pautas como “escola sem partido” e “ideologia de gênero” também estão no cardápio e, no caso do vereador, ainda há um diploma de medicina, profissão que ele jamais exerceu. Ele se formou na Unigranrio, uma universidade particular da Baixada Fluminense aos 27 anos, em 2004, ano em que foi eleito vereador pela primeira vez. Por conta das acusações no caso Henry, o registro de médico de jairinho está sob inquérito no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro – Cremerj – e ele pode perdê-lo.

 

Pois bem. Como essa gente consegue transitar na nossa sociedade? Como eles chegam ao poder? Como a defesa da família e da fé cristã, instâncias que, à primeira vista, significam paz e harmonia, escondem pessoas com potencial para cometer crimes hediondos? São perguntas impossíveis de comportar apenas uma resposta. Não por acaso, o atual ocupante da presidência e seus filhos, todos marcados por declarações terríveis, atos imperdoáveis, posturas reprováveis e condutas manchadas desde sempre, são autoproclamados “homens de fé”. São “religiosos”. Não por acaso, jairinho exibia em seus santinhos na última campanha para vereador, um “fechado com bolsonaro” bem grande, indicando que apoiava e gozava do apoio do clã ocupante da presidência. Mais ainda, era colega do vereador carlos bolsonaro, figura notória na triste vida pública do país, cujos tuítes incompreensíveis e manifestações pró-AI-5 são mais conhecidas do que qualquer obra que seu mandato tenha proporcionado à cidade.

 

O mandato de jairinho esteve a serviço de cabral, pezão, crivella e witzel (todos com problemas sérios com a justiça) e Paes (acusado mas inocentado). Há videos dele com ex-secretário municipal de obras, pedro paulo, outro acusado de violência contra a ex-esposa. Não é possível que o trânsito dessas pessoas em conjunto, em grupo, em bando, não seja indício de que constituem uma associação minimamente suspeita, questionável.

 

Enquanto seguimos assim, a população do Rio – e do Brasil – continua optando por abraçar essas pessoas a optar por um candidato progressista, sob a alegação de que este vai colocar vermelho na bandeira nacional. Ou instaurar o comunismo, ou algo que signifique a derrocada de uma suposta liberdade escolha ou conduta. As mesmas que são cooptadas por estes bandidos, que impõem sua existência baseados na fraqueza do estado, erodido por seus sucessivos mandatos.

 

Antes de tudo, a existência dessas pessoas é um sintoma inevitável do quão doente e terrível é a nossa sociedade.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Diga-me com quem andas

  • 9 de abril de 2021 em 10:47
    Permalink

    Infelizmente e em todo o Brasil, mais triste e que o Rio e o cartão postal do Brasil e há décadas esta sendo usurpado por essas “familicias” !!!!

    Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *