Quatro Bandas Sensacionais – que você não conhece
Vocês sabem, a Célula Pop é um site que tem como missão principal apresentar o novo para seu leitor. Entendemos por “novo”, um filme, um disco, um artista, um pensamento, uma forma de compreensão que você ainda não conhece, seja algo cronologicamente recente, seja algo que já existe há tempos e você … ainda não conhece. E, como já dizia Belchior, “o novo sempre vem”. Só que este encantamento pelo que chamo de “novo cronológico” é algo potencialmente nocivo. Por este critério, tudo que é recente, de agora, de amanhã, é, necessariamente legal e valioso. Este postulado pode ser verdadeiro, mas pode conferir a efemérides um valor que elas não têm. Por isso, a gente está aqui, para tentar apontar direções e gente legal, que vale à pena conhecer. No caso deste texto, a ideia é mostrar quatro bandas que se formaram recentemente e estão com discos novos – ou em via de lançar – e que apresentam sonoridades bacanas.
Talvez você as desconheça justo porque há barreiras contra a novidade. Vivemos numa lógica de mídia hegemônica que privilegia o conhecido – e seguro, para dar lucro – e o falso novo, que sugere mudança, mas que regurgita o que já conhecemos. Pense: há quanto tempo você não fica sabendo de gente nova fazendo música pop legal? Não falo de embustes como Greta Van Fleet, mas de artistas com algo a dizer que você ainda não ouviu. Abaixo estão estes quatro grupos, dois americanos, um inglês e um sueco, que podem, na pior das hipóteses, te apresentar novas músicas pro seu smartphone.
Whitney
– Folk, rock
– Parece com Fleet Foxes, The Band, Neil Young
– Chicago, USA
Formada pela dupla Julian Erlich e Max Kakacek, já conta com um disco – belíssimo – no currículo, “Light Upon The Lake” e lança o novo – “Forever Turned Around” – em agosto próximo. A sonoridade é riquíssima, trazendo píanos, metais, cordas, tudo para revestir as popíssimas composições da dupla. É música de verão segundo os veículos especializados do Hemisfério Norte, algo que é uma baita credencial. Os dois novos singles, “Valleys (My Love)” e “Giving Up” já estão disponíveis.
The Soft Calvary
– Dreampop, shoegaze
– Parece com Cocteau Twins, Slowdive, Ride
– Londres, Inglaterra
Rachael Goswell é uma das fundadoras do Slowdive e do Mojave 3, grupos que tiveram certo protagonismo nos anos 1990 a partir da interseção entre o folk e o shoegaze, aquela sonoridade enguitarrada e distorcida, porém, tímida e introspectiva. Ela montou o Soft Cavalry com o atual marido, Steve Clarke, antigo manager do Slowdive e a sonoridade que a dupla cria é uma espécie de revisitação deste padrão inicial, porém, com uma abordagem mais eletrônica e bem bonita. O disco de estreia, homônimo, saiu há poucos dias.
Night Moves
– Folk/rock, powerpop
– Parece com Big Star, Fleet Foxes, My Morning Jacket
– Minneapolis, USA
Inicialmente um trio, o Night Moves tornou-se um quinteto com o tempo. É um verdadeiro tesouro para quem ama o pop bem feito e encorpado dos anos 1970, com guitarras, teclados, melodias cristalinas e composições perfeitas. O grupo já tem três discos lançados, sendo que o ótimo, sensacional e exuberante “Can You Really Find Me” saiu há poucos dias. Como tema principal de suas canções está uma certa nostalgia consciente de um tempo que passou, mas a produção em estúdio é tão moderna e bem feita que o resultado é um cabo de guerra entre presente e passado, com cara de futuro que já chegou.
Lust For Youth
– Eletrônico, tecnopop
– Parece com New Order, Depeche Mode, Pet Shop Boys
– Gotemburgo, Suécia
Inicialmente um projeto solo do multimúsico Hannes Norrvide, o Lust For Youth também tinha sonoridade diferente quando começou há sete anos. O último disco, homônimo, marca uma guinada que Norrvide e o produtor Malthe Fischer empreenderam, incorporando a abordagem elegante e noventista de New Order e Depeche Mode quando estes se tornaram bandas com maior popularidade mundial. É tudo bem feito e bem pensado por aqui, uma boa alternativa para quem gosta de synthpop sem abrir mão da velha classe.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Voltando aqui dois meses depois apenas para dizer que Great Concerns é a minha música do ano até aqui. Obrigado, Célula.
Excelentes recomendações! Não conhecia o Lust for Youth.
Deixo a referência de três outras bandas novas que lançaram excelentes álbuns em 2019: whenyoung (Manchester), Middle Kids (Austrália; é apenas um EP, na sequência do ótimo album de 2018) e Graveyard Club (Minneapolis; não consigo imaginar algo mais apropriado para as trilhas sonoras dos filmes que o John Hughes estaria fazendo se estivesse vivo).