Pond – Tasmania

Gênero: Rock Alternativo, Rock Psicodélico
Duração: 48 min.
Faixas: 10
Produção: Kevin Parker
Gravadora: Interscope

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

Este oitavo disco dos australianos do Pond é uma das gratas surpresas deste início de 2019. O motivo é simples e vai muito além de “ser um bom álbum”: ele é inteligentemente pensado, leva em conta a necessidade básica de equilibrar conceito com ótimas canções e oferece uma visão arejada e pra cima do que pode ser a psicodelia no rock hoje. É fruto direto da interação de Kevin Parker, o sujeito por trás do Tame Impala, que já fez parte do Pond e produz seus discos desde o início, em 2010. Parker – podemos dizer – é um dos arquitetos dessa nova psicodelia, junto com os caras do Animal Collective e alguns outros poucos e bons que estão por aí. Ele sacou a importância das tais boas canções, do quanto é importante ter um acento pop capaz de dar gás aos discos e não deixá-los perdidos em viagens enlouquecidas demais. “Tasmania” é tudo isso. Pop, psicodélico, moderno e legal.

As 10 canções são espaços abertos para o vocalista Nick Allbrook desfilar suas letras de consciência ecológica e planetária, em meio a paisagens sonoras coloridas e surpreendentes que vão sendo construídas. Há muito de funk e groove nas batidas – eletrônicas ou não – e tudo ganha uma aura dançante natural. Podemos traçar um paralelo – em termos de atitude – ao que faziam Stone Roses e Soup Dragons no segundo Verão do Amor, lá por 1988/90, a mistura de eletrônica e psicodelia que gerou o acid rock. Dá pra dançar enquanto se vê pontos coloridos voando em velocidades diferentes pelo céu.

Mas, muito além de rótulos e paralelos, “Tasmania” é um disco bom de se ouvir. E ele te surpreende. O hit “Daisy”, que abre o álbum, parece que vai flertar com barulhos e abstrações, mas deságua numa levada pop dourada de fazer sorrir até uma estátua. A faixa-título tem pulsação rítmica exuberante e linha de baixo gorducha o bastante para capturar a atenção do mais concentrado ser. “Hand Mouth Dancer” tem teclados eletrônicos, estilizados de anos 1980, emoldurando a melodia e servindo de ponte entre climas e batidas mais diretas. E tem até balada em midtempo, “Selené”, que é uma lindeza só.

Se, no entanto, você tiver que escolher uma canção de “Tasmania”, ela será “Burnt Out Sister”. É um pequeno épico de oito minutos, com um início climático de guitarras, teclados e epopeias que acenam para o rock progressivo dos anos 1970, talvez para algum momento esquecido pelo Yes em “And You And I”, ou outra canção. Daí a canção avança até os três minutos, quando é invadida por batidas eletrônicas que vão se insinuando e tentando tomar a melodia de vez, o que vai acontecer lá pelo sexto minuto, quando tem lugar uma pequena apoteose dançante, que levará o ouvinte até o fim.

“Tasmania” é um retrato das possibilidades bem aproveitadas na música de hoje. É criativo, original, bem feito e cheio de ótimos momentos. Um discaço.

Ouça primeiro: “Burnt Out Sister”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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