Dia D + Hora H = B de Burrice

 

 

Vamos falar a verdade: o Brasil está num momento trágico de sua história. Talvez só encontremos paralelos no infame governo collor, no inacreditável governo janio ou em algum ponto da República Velha, quando o país viveu uma versão 2.0 do seu período imperial, que, por definição, foi injusto, infame e … lamentável. Mas agora tudo parece pior porque, se pensarmos em progresso e evolução, é próprio das civilizações e sociedades aprenderem com seus erros e não cometê-los mais. No Brasil seguimos cometendo os mesmos erros, criminalizando as mesmas pessoas e elegendo outras, igualmente repetidas, que surgem como os mesmos salvadores da pátria, que irão, a partir da valorização/exaltação do que “é nosso”, punir os bandidos, prender os discordantes e, por que não, enfiar a porrada em quem não é semelhante.

 

Isto é o Brasil de hoje. Em que um presidente é eleito por 57 milhões de pessoas que enxergam na porrada e na violência a solução para os problemas. A punição como meio de avançar. Claro, a sociedade deve punir, desde que não restem dúvidas sobre culpa, dolo e vivamos num estado democrático de direito, que é aquele em que não há interferências de outros poderes no Judiciário, que, autônomo, julga e define punições. Isso não aconteceu aqui nos últimos anos, certo? E não acontece, do contrário, várias acusações já teriam sido formalizadas, investigadas e os responsáveis, punidos. Pense apenas na família do atual ocupante da presidência. Pois é. Outro reflexo desta parcialidade veio no desmantelamento da maior farsa midiática recente, encenada no país: a Lava-Jato. Serviu de kit de propaganda para uma suposta cruzada justicialista que só puniu um lado da laranja. E que tais sentenças estão sendo revistas e redefinidas, agora que o estrago já está muito feito.

 

Mas este governo atual quebrou paradigmas que, pelo menos no meu caso, eram sólidos e fortes. A questão da covid-19, por exemplo. Eu jamais pensei que o tratamento a uma doença grave e mortal pudesse gerar divergências. Como me disse outro dia uma amiga:

 

– Vacina é vacina, gente. Toma e pronto. Não se discute vacina.

 

Não é? Como assim tomar um remédio para impedir a sua morte e a de seus semelhantes pode se tornar um ponto de divergência política e existencial? Pois neste governo foi possível e está acontecendo. Previnir-se e tratar-se na pandemia tornou-se etiqueta para definir um comportamento que é contraposto a outro. E diverge-se sobre, acusa-se e, pior, as pessoas andam por aí sem imaginar que podem estar matando as outras. Bem, numa sociedade violenta em diversos níveis, o que isso tem de diferente? Nada.

 

O mais novo episódio desta nossa lamentável saga da covid-19, que já nos levou mais de DUZENTAS E TRÊS MIL PESSOAS, foi o pronunciamento do general ocupante da pasta do Ministério da Saúde, eduardo pazuello. Em entrevista dada ontem, ele disparou:

 

– A vacinação vai começar NO DIA D, NA HORA H.

 

Este é um jargão militar, que foi utilizado pelo grupo gaúcho Engenheiros do Hawai na sua canção “A Verdade A Ver Navios”, de 1988, presente em seu terceiro disco, “Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém”. Humberto Gessinger e, acho, pazuello, se inspiraram na denominação dada ao desembarque das tropas aliadas na Normandia, litoral francês, em 6 de junho de 1944, batizada de Operação Overlord. O dia e a hora foram mantidos como segredos vitais para a empreitada funcionar, algo que não poderia ser revelado a ninguém. Se pensarmos ao pé da letra e da história, pazuello e o governo já saberiam a data da vacinação e, para não criar expectativas ou pânico, estariam mantendo-na em sigilo. Mas me permito pensar que essa gente não tem a menor ideia do que está fazendo quando se trata de pensar na população brasileira.

 

 

Basta olhar o preço do gás, do dólar, a perda de emprego, a penúria da população, a volta da fome, da miséria, de todas as agruras que pensávamos ter ido embora da vida brasileira no início dos anos 2000. Que nada.

 

O atual governo brasileiro é inacreditável. É um ponto baixíssimo na nossa vida como país e como sociedade. Seus ocupantes são ineptos, maus e toscos, sem exceção.

 

Não temos B, de Brasil. Este governo começa com B, de burrice.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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