Pequeno grande disco dos suecos do Club 8
Club 8 – A Year With Club 8
26′, 11 faixas
(Club 8)
O que você pode fazer em 26 minutos? Um monte de coisas, dirá alguém, e não estará errado. E há uma infinidade de outras, impossíveis de se fazer neste espaço de tempo. Até aí tudo bem. Mas, se você aceita uma dica, o novo álbum do duo sueco Club 8 tem exatos 26 minutos e pode se constituir numa ótima opção, de custo-benefício pra lá de favorável, que vai estampar um sorriso na sua cara por muito mais tempo. É dessas coisas que só acontecem com artistas suecos. Minha editora Claudia Reitberger costumava dizer que há algo na água do país escandinavo que faz com que, virtualmente, quase toda a população tenha habilidade para compor, tocar e gravar um tipo muito específico de canção pop-rock – aquela influenciada por bandas pós-punk oitentistas, mas, de algum jeito misterioso, eles subvertem o que havia de abrasivo e revoltoso nos originais e transformam numa doçura desconcertante, numa fofura além da conta, em algo realmente adorável. E isso é o que ocorre nas onze faixas de “A Year With Club 8”, álbum que a dupla sueca, composta pela cantora e compositora Karolina Komstedt e o multi-músico e produtor Johan Angergård, acaba de lançar. Senão vejamos.
Ainda que seja quase desconhecido por essas plagas, o Club 8 já tem quase trinta anos de atividade. Lançou o primeiro álbum, “Nouvelle”, em 1996. Karolina e Johan faziam parte de outros grupos e fundaram o duo como um projeto paralelo, mas logo viram que a química entre ambos e a qualidade do que faziam era mais interessante que as bandas “titulares”. Começaram com uma variante bossanovística de pop rock, muito comum nos anos 1990, e foram dando asas à imaginação ao longo do tempo, visitando terrenos tão diferentes quanto trip hop, afrobeat, dance music e por aí vai. Uma ouvida nos trabalhos que eles lançaram nesses quase trinta anos irá apontar, ao menos, uma constante inabalável: a habilidade para compor canções grudentas e inspiradíssimas, daquelas que não saem da mente do ouvinte. E isso se manteve presente na totalidade das faixas de “A Year With Club 8”, que foi gravado no estúdio caseiro da dupla e conserva um mix de sons que evoca, ao mesmo tempo, Smiths, Metric, Blondie e mais um sem-número de bandas e grupos mais ou menos querido de muita gente.
Em termos de rótulo, convencionou-se chamar esse tipo de som de “indie pop sueco”, que pesa a mão mais nessa abordagem rock dos anos 1980-90 que a variante inglesa ou americana, que soam mais contemporâneas. De qualquer forma, o resultado de álbuns como este “A Year…” é sempre gratificante. O fato da curta duração das faixas é um twist, pois exibe um poder de síntese impressionante, ainda que algumas pessoas possam achar que haja um pouco de repetição em tiques e taques melódicos aqui e ali. O fato é que há pitadas de The Smiths, Jesus And Mary Chain e Metric em vários momentos ao longo das onze faixas e os vocais de Karolina têm a medida exata entre charme e força para conduzir as melodias com satisfação e oferecer bons momentos em que o ouvinte fica dividido entre o punch dos arranjos com guitarras e teclados que emulam linhas de baixo e as baterias simples – mas eficientes, que Johan cria.
“Daylight” parece uma faixa de Jesus And Mary Chain coverizada e apropriada, com um ótimo andamento e vocais levemente soterrados por efeitos, que dão um ar gelado e contido para a canção, que é irresistível. Outra lindeza é “Something’s Wrong With My Head”, a faixa de abertura, que lembra um pouco New Order, mas sem o excesso de timbres sintetizados. A melodia é grudenta e há um ótimo trabalho de teclados, tanto na harmonia, quanto na execução de partes de guitarra. Em “Left Behind” o clima evoca aquelas canções que costumávamos ouvir no quarto, com a porta fechada, dançando ou tentando decorar a letra do encarte. As guitarras tentam reproduzir – ainda que de longe – os timbres que Johnny Marr às vezes tirava em canções dos Smiths. Em “Sunny” outra melodia celestial pontua e orienta os vocais, que são divididos pela dupla e “Getting By”, que fecha o disco, traz um arranjo mais triste, ainda que igualmente rápido e devedor de vários timbres oitentistas misturados, embalados e revisitados.
“A Year With Club 8” é uma ótima opção para ouvir belas canções, bem feitas, bem produzidas e que fascinarão neófitos enquanto encantam velhuscos. Belezura.
Ouça primeiro: “Getting By”, “Sunny”, “Daylight”, “Something’s Wrong With My Head”, “Left Behind”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.