Para anti-democratas, fake news é liberdade de expressão

 

 

Ontem, após a execução de 29 mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal, a partir de solicitação do STF, o tema mais discutido foi a liberdade de expressão. É engraçado porque os protagonistas da discussão foram pessoas – parlamentares, blogueiros e subcelebridades – que já demonstraram desprezo, não só pela liberdade de expressão, como pela democracia, igualdade e outras instâncias que pertencem a uma visão de mundo na qual o cidadão tem o direito – e o dever – de viver em sociedade, respeitando leis e assumindo responsabilidades. Em troca, a sociedade lhe concede espaço para o convívio. São noções simples, elementares, mas que são desrespeitadas por esta gente.

 

Sendo assim, quando pessoas que não têm o traquejo democrático se veem confrontadas pelo poder público (que é guardião da ordem na sociedade, constituído a partir de preceitos e princípios legais), elas acham que sua liberdade de expressão foi aviltada. Em poucas palavras: querem o direito constitucional de falar mentiras. De enganar, trapacear, se apropriar de informações e distorcê-las. De difamar, atacar e causar dor alheia. Para essa gente, todos esses exemplos acima são … liberdade de expressão. Em miúdos: querem a liberdade para cometer crimes de injúria, difamação, calúnia e, en passant, eleger um presidente.

 

Quem não lembra da mamadeira de piroca, do kit gay? Foram mentiras criadas e difundidas por essa mesma gente, municiada de uma estrutura cibernética complexa e eficiente, que entraram nos grupos de whatsapp e outras mídias sociais, difamando e mentindo sobre o PT à época das eleições. A chapa bolsonaro-mourão foi eleita com uma provável fraude histórica, na qual as fake news contra a chapa Haddad-Manuela foram decisivas para a vitória. E, antes disso, a campanha difamatória contra Lula, que teve desdobramentos até por conta do falecimento de seu neto, Arthur, sua mulher, Dona Marisa, e toda uma enorme quantidade de calúnias e injúrias contra o ex- Presidente, que suportou tudo com altivez democrática. Mesmo ofendido ao extremo, jamais contra-atacou nos mesmos termos. A explicação é simples: Lula é um homem da democracia. Pautou seus valores de vida a partir do exercício desta. É fácil de entender.

 

As pessoas que foram alvo da ação da PF não têm esta desenvoltura democrática. Elas, mais ou ministro weintraub, outro usuário das redes sociais com postura agressiva, comungam da visão de que o contraditório, o conflito, deve ser punido. Não respeitam a opinião alheia. E, pior, se acham atacados e vítimas de um abuso em relação à própria democracia, que desprezam. Ou seja, a democracia só existe para lhes servir, para que, em seu nome, sob seu manto, possam exercer esta postura nociva. Quando as instituições DEMOCRÁTICAS, se voltam contra elas, a reclamação é sobre a falta de liberdade. As distorções são imensas e tudo é contraditório.

 

A ideia desse texto é apenas para falar que, não, fake news não são liberdade de expressão. O direito à mentira não é liberdade de expressão, mas uma exigência de pessoas que vivem melhor quando não têm que prestar contas de seus atos. E isso, gente, está em toda parte por este governo atual, seus apoiadores e participantes. Triste, mas verdadeiro.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Para anti-democratas, fake news é liberdade de expressão

  • 29 de maio de 2020 em 09:43
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    Exatamente, CEL, no país precisamos argumentar o óbvio, mesmo sendo muitas vezes ofendidos, porque para tais pessoas que pensam dessa forma, não existem base lógica para refutar argumentos, mas sim, ofensas e mentiras. Repudiam a história e fatos, é a proposta deles, pura maldade e desonestidade intelectual.

    Usam muitas vezes o conceito “politicamente correto” quando minorias ou pessoas que se sintam ofendidas por essas ofensas cobram respeito.

    Espero que continuem a investigar !!!

    Forte abraço!!

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    • 29 de maio de 2020 em 10:25
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      Obrigado, Fernando. Seguiremos com as postagens sobre política, acho que é um diferencial do site. Abraço.

      Resposta

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