O pop perfeito e amoroso de Roberta Campos

 

 

Roberta Campos – O Amor Liberta

Gênero: Pop, rock

Duração: 36:39 min.
Faixas: 11
Produção: Paul Ralphes
Gravadora: Deck

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Roberta Campos é adorável. Muitos dirão que sua música carece de mensagem política evidente, lacração ou diversão, mas poucos serão capazes de notar o talento da cantora e compositora mineira, que chega ao quinto álbum com este “O Amor Liberta”. O que Roberta oferece a seus ouvintes neste – e nos outros trabalhos anteriores – é uma ótima mistura de pop e rock de talhe clássico, com flertes firmes com o folk mais doce. Sua voz é angelical, seu talento pra compor melodias e letras é admirável e, em tempos atuais, seu low profile é uma escolha corajosa. Ou seja, Roberta só está nessa pela música, pelo desejo genuíno de expressar-se e cativar seu público com o que sabe fazer de melhor. Boa instrumentista e ótima cantora, ela tem bom gosto necessário para oferecer ótimas canções e enxergar no galês Paul Ralphes um talentoso produtor, capaz de fazer seu som atingir uma perfeição técnica muito louvável.

 

O “problema”: Roberta, como dissemos, é só música. Ela é tímida e doce, uma pessoa que parece ser de fácil convivência. O que ela tem para dar é sua arte e ela o faz com certa cerimônia, com doçura enorme. Dizem até – e não estará errado quem pensa assim – que seu estilo antecipou artistas dessa geração pop-de boas, como Melim e Anavitória. Roberta é naturalmente legal, dá vontade de tê-la por perto, deve ser fonte inesgotável de fofura e boas frases. Seu som lembra de Skank beatle a Nando Reis e outros similares do passado, caso de Hyldon e Gilson (com o primeiro ela tem parceria e regravou ‘Casinha Branca’, o maior sucesso da carreira do segundo). É uma bem pensada mistura de anos 1990 com 1970, bem brasileira, radiofônica e muito bem amarrada. Roberta deveria ter muito mais sucesso do que tem, mas ela parece muito satisfeita em “apenas” oferecer ótimos discos ao público.

 

E se há algo em que “O Amor Liberta” é pródigo é em boas canções. Não há faixa ruim por aqui, todas são meticulosamente compostas e gravadas buscando o máximo de beleza e lirismo. O romantismo é presente, Roberta não tem qualquer medo de soar a favor das relações sólidas. Ela diz explicitamente ao longo das faixas do álbum que quer viver com a pessoa amada, que quer colocar o coração nas mãos dessa pessoa, que acredita na vida compartilhada, na união, na positividade. Ou seja, não tem espaço para essa visão fugidia e curta dos relacionamentos que marca a nossa vida em 2021. Roberta é sólida, romântica, acredita nisso com dedicação e nos convence facilmente logo na primeira palhetada em seu violão. E, como ela tem convicção do que canta e compõe, o faz com maestria e dedicação, brindando o ouvinte com pequenas maravilhas. Logo de cara, já recebemos “Pro Mundo Que Virá”, e seu arranjo exuberante – tem até flugelhorn – e clima solar, numa onda muito parecida com o Skank de “Balada do Amor Inabalável”. É uma letra otimista, de amor, acreditando na bondade e no futuro de um jeito tão convincente e sincero que não dá pra discutir.

 

O clima se mantém com “É Natural”, que entoa “eu quero viver mais, o tempo que for capaz de te fazer feliz”. Novamente o arranjo leva o clima da canção lá pra cima, tudo funciona e dá certo. “Floresço na Tua Vida” é outro hino de dedicação e doação ao amor que funciona, que justifica tudo, que dá ao outro a sustentação necessária para seguir. Mas há pequenas surpresas no céu de brigadeiro em que Roberta voa. O single “Miragem”, com tinturas reggae-pop em parceria com Natiruts, é uma bem-vinda guinada para um campo mais sensual, no qual Roberta se sai bem. E tem a parceria com Humberto Gessinger em “Começa Tudo Outra Vez”, mostrando um lado afetuoso e amoroso do ex-Engenheiro que poucas vezes ele deixou transparecer na carreira. Roberta desperta o melhor das pessoas? Pode ser.

 

Saímos da audição de “O Amor Liberta” realmente convencidos de que o título é a mais pura verdade e que acreditar nisso é uma poderosa arma. Vamos ver se os tempos bicudos de hoje nos permitem usar tal poder. Se conseguirmos, não tem pra mais ninguém. Belezinha.

Ouça primeiro: “Miragem”, “Pro Mundo Que Virá”, “É Natural”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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