Meu personalíssimo Top 20 de Rolling Stones (+1 cover)

 

 

Como o título já diz, esta lista não pretende ser representativa do consenso do que é o melhor da produção dos Rolling Stones em quase 60 anos de carreira. Mas ela é um indício de como os Glimmer Twins tiveram excelentes canções em praticamente todos os álbuns, mesmo os que foram alvo de desprezo total por parte da crítica. A minha relação com a banda é bem peculiar, eu nunca tive muita afeição pelos grandes cavalos de batalha dos Stones, como “Angie” ou “Satisfaction” (ainda que, claro, reconheça seus valores) e preferi explorar os álbuns em busca de pequenos tesouros, que, felizmente, sempre estiveram lá, esperando pra brilhar. Sendo assim, essa relação de canções preferidas é bem ilustrativa dessa característica dos Stones: são uma banda regular, confiável, esforçada e dedicada em casa disco que lança.

 

Claro, não dá pra fazer lista de Rolling Stones sem alguns clássicos, mas dá pra se livrar de outros, em favor dessas canções de divisão de acesso ou de fim de tabela da Série A. E dá pra fazer justiça a álbuns meio controversos, como o sensacional “Emotional Rescue”, de 1980, um pequeno e ensolarado clássico da carreira da banda. Aqui está a lista, concorde, discorde, manifeste-se.

 

 

– Harlem Shuffle (1986) – se há algo muito legal em “Dirty Work”, o disco enjeitado dos Stones, de 1986, é esta arrebatadora cover de Bob And Earl. A levada que a banda consegue aqui é a prova inequívoca do quanto eles são versados em negritude musical. Irresistível e maravilhosa.

 

– Terrifying (1989) – faixa de “Steel Wheels”, o “disco de retorno” dos Stones em 1989, após os discos solo de Mick e Keith (em 1987 e 1988, respectivamente).  É um ótimo álbum, com algumas canções muito legais, caso deste funkão stoneano clássico, cheio de curvas e ondulações.

 

– Tops (1981) – esta é uma favorita pessoal desde muito tempo. Incrustada em “Tattoo You”, disco de 1981, conhecido por “Start Me Up”, “Tops” não é balada e nem é música rápida, mas um flerte estranho e legal dos Stones com algo de pop mais clássico e harmonioso do início dos anos 1960. Lindeza.

 

– Hot Stuff (1976) – “Black And Blue” é um dos meus discos preferidos dos Stones. Esta canção é um clássico exemplar dos funkões tortos que a banda lançou a partir dos anos 1970. Tem tudo o que é necessário para despertar movimento em corpos, mesmo que sejam letárgicos e sedentários.

 

– Sex Drive (1990) – Canção inédita que veio contida no álbum ao vivo “Flashpoint”, de 1990. É outro “funk’n’Stones” de primeira categoria, com letra safada e levada angulosa, que mostra – como se fosse preciso – a importância de Charlie Watts na condução desse tipo de gravação.

 

– Sparks Will Fly (1994 ) – faixa do ótimo álbum “Voodoo Lounge”, lançado pela banda um pouco antes de vir ao Brasil pela primeira vez. A canção é um desses rocks em alta velocidade, bem típicos dos Stones e que estão presentes em todos os seus álbuns desde, pelo menos, 1971.

 

– Time Is On My Side (1965) – ah, um clássico sessentista…Esta canção é maravilhosa pelo seu tom de ironia, o popular “te espero na curva” que falamos quando vemos alguém fazendo algo de que irá se arrepender. Ainda serviu como trilha sonora de um filme noventista meia boca, no qual Denzel Washington tentava prender um demônio que pulava de corpo em corpo para cometer crimes terríveis e que gostava de cantá-la. “Possuídos”, é o nome do filme.

 

– Get Off Of My Cloud (1965) – a canção assinatura de Charlie Watts na banda, pelo menos, na minha cabeça. A levada de bateria é tão sensacional quanto simples e é a alma da gravação. É um single de 1965/66, mostrando como o grupo estava incorporando novas informações ao seu rock básico inicial. Maravilha.

 

– Under My Thumb (1966) – um clássico indiscutível. Essa gravação é um pequeno marco de modernidade na carreira dos Stones. A partir dela dá pra considerar que o grupo deixava sua fase inicial mais básica e roqueira e assumia um papel de sintetizar influências de funk, mesmo que fossem bem discretas a princípio. Outro clássico.

 

– Dance Little Sister (1974) – maravilha turbinada do ótimo disco “It’s Only Rock’n’Roll”, mas que, inexplicavelmente, tem um papel secundário na trajetória setentista dos Stones. Só falta sair faísca das caixas de som enquanto a banda entabula esse groove matador e rapidíssimo.

 

– Dance pt.1 (1980) – canção de “Emotional Rescue”, um dos discos mais injustiçados da carreira do grupo. Aqui dá pra ver como os Stones amadureceram rápido na confecção desses funkões tortos. Este é, talvez, o mais poderoso que já gravaram. Uma porrada.

 

– Shattered (1978) – uma maravilha subaproveitada de “Some Girls”, outro disco bem mais bacana do que se supõe. A letra de Mick fala da vida na Nova York do meio dos anos 1970 e a guitarra de Keith dialoga com ele, num riff constante. A batida é quebrada, dançante, estranha. Genial.

 

– Can’t You Hear Me Knocking (1971) – uma das canções mais poderosas da carreira dos Stones. As guitarras de Keith e Mick Taylor em dueto, oposição e diálogo, além da bateria de Charlie, são os destaques por aqui. E olha que ela tem um dos melhores vocais de Mick nos anos 1970. Do sensacional “Sitcky Fingers”.

 

– Happy (1972) – adoro Keith Richards cantando e essa canção é uma espécie de hino pessoal. Seu riff é tão marcante, ela é tão boa e emblemática que persiste nos setlists da banda até hoje. Do grande “Exile On Main Street”, de 1972.

 

– Bitch (1971) – adoro canções dos Stones com metais. Essa é uma porradaria sonora, rítmica, sacana, safada e genial, mais uma faixa de “Sticky Fingers”. O riff de guitarra, dobrado pelos metais e o clima de esbórnia sonora mostram como os Stones evoluíram décadas entre 1969 e 1971. Impressionante.

 

– Street Fighting Man (1968) – a clássica canção de protesto que Mick Jagger escreveu após testemunhar a violência da polícia inglesa ao dispersar uma manifestação de rua em 1968. Tudo aqui é perfeito e a canção tornou-se um dos documentos históricos mais poderosos sobre as transformações que o mundo viveu no fim dos anos 1960. Do álbum “Beggars Banquet”.

 

– She’s So Cold (1980)  – mais uma canção ótima de “Emotional Rescue”, clássica em sua levada aerodinâmica e com a letra que beira a indigência. Mas tudo é tão dançante, perfeito e alegre por aqui, que a faixa galga os píncaros da perfeição nessa listinha.

 

– Time Waits For No One (1974) – amo as baladas dos Stones e fico triste por deixar lindezas como ‘Factory Girl”, “You Can’t Always Get What You Want” ou “Memory Motel” de fora dessa lista, mas as minhas preferidas estão aqui e esta é uma delas. Lindeza de arranjo meio rápido e meio lento, cheia de climas, efeitos e a letra que fala sobre a inexorável passagem do tempo, sem falar na coda impressionante de guitarra no final. Direto de “It’s Only Rock’n’Roll”, de 1974.

 

– Sympathy For The Devil (1968) – isso aqui é um colosso e ponto final. Nem dá pra dizer o quanto é genial, seja pela batucada voodoo do início, pela letra impressionante, pelo groove, tudo é maravilhoso e superlativo nesta gravação e ponto final. Mais uma de “Beggars Banquet”.

 

– Fool To Cry (1976) – minha balada preferida dos Stones e ponto final. Triste, agridoce, emocionante e derramada, como tem que ser. Presente em “Black And Blue”.

 

– Jumping Jack Flash (1969) – o protótipo de canção eterna do rock como ele deve ser. O riff de “Satisfaction” é meio que reaproveitado e redimensionado, soando ainda melhor. Perfeição e ponto. Surgiu como single em 1969 e entrou na história.

 

 

 

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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