RIP, Lee “Scratch” Perry

 

 

 

Quando a gente fala sobre improvisos no estúdio e a expansão dos limites e fronteiras da música popular, geralmente falamos sobre gênios mundanos que encontraram meios de encurtar gastos, viabilizar recursos e, acima de tudo, inovar musicalmente. Lee “Scratch” Perry era um desses caras.

 

Esses experimentos no estúdio estabeleceram não só o som do Roots Reggae que Bob Marley tornou famoso, como a fundação de subgêneros como o dub, com seu uso genial de espaço e eco, que teria grande influência no pós-punk, hip-hop, dance music e outros gêneros. Não por acaso, Keith Richards, um dos maiores fãs de reggae do planeta, o descreveu como “o Salvador Dalí da música”.

 

Rainford Hugh Perry nasceu em Hanover, no noroeste da Jamaica em 1936. Passou batido pela escola e logo começou a trabalhar Ele foi contratado por Clement “Coxsone” Dodd, chefe do estúdio de reggae e do selo Studio One, como assistente, depois como caçador de talentos, DJ, gerente de loja e, eventualmente, artista musical. Ele ganhou seu apelido “Scratch” de uma das primeiras gravações, The Chicken Scratch, em 1965. Em pouco tempo ele formou sua própria banda de apoio, os Upsetters, com uma série de primeiros lançamentos inspirados em westerns spaghetti: “Return of Django”, “Clint Eastwood”, “The Good, the Bad and the Upsetters” e muito mais.

 

 

Em 1973, ele construiu seu próprio estúdio, o Black Ark. Ele experimentou com baterias eletrônicas e o potencial de equipamentos de estúdio. Ele foi o pioneiro na técnica de versões dub de faixas de reggae, com o baixo proeminente, os vocais às vezes removidos e o reverb adicionado para criar um espaço sônico maior e cheio de ecos.

 

Os Upsetters acompanharam Max Romeo no álbum “War Ina Babylon”, produzido por Perry, parte da onda de reggae politizado em meados da década de 1970 e apresentando um dos maiores hinos do gênero, “Chase the Devil”. Outros clássicos que Perry produziu incluem a obra-prima cósmica dos Congos, “Heart of the Congos”, os Heptones em “Party Time” e o sucesso de Junior Murvin, “Police and Thieves”, que protestou contra a brutalidade policial e mais tarde foi regravado pelo The Clash. Perry mais tarde produziu o single do próprio Clash, “Complete Control”, em 1977.

 

Ele ganhou um prêmio Grammy pelo álbum “Jamaican ET”, de 2003; já colaborou com gente como George Clinton, Moby, The Orb, The Slits e os Beastie Boys. Além deles, influenciou definitivamente mestres contemporâneos do dub como Adrian Sherwood e Mad Professor.

 

 

Perry é um desses monstros que caracterizaram a música popular no século 20. Com sua morte, muito da história viva da música negra diaspórica se vai. Que descanse em paz.

 

 

 

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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