Soledad – Revoada

Gênero: Alternativo, Eletrônico
Duração: 30 min
Faixas: 8
Produção: Fernando Catatau
Gravadora: Independente

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

A cantora e compositora cearense Soledad é mais uma dessas interessantes artistas brasileiras surgidas na década de 2010. Faz parte de uma geração que precisou dominar as redes sociais, os editais de incentivo, timbres eletrônicos, assoviar e chupar cana, bater escanteio e cabecear a bola, tudo ao mesmo tempo. Tal necessidade histórica fez essa gente ganhar uma desenvoltura imensa, tanto na arte, quanto na própria carreira. A música que oferecem é de difícil classificação, pois tem uma grande estrutura poética, mas que sobrevive na introspecção, na penumbra. “Revoada” é assim, contraditório, com equilíbrio de extremos, sutil e barulhento.

O álbum é produzido pelo guitarrista Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, que também comanda a banda que acompanha Soledad ao longo das oito faixas do disco. As canções vão se sucedendo e revelando detalhes, timbres sobrepostos e uma teatralidade que confere à cantora um outro diferencial em relação a seus pares por aí. A pluralidade de arranjos também é algo que se nota em meio à alternância das composições, que trazem um timaço de parceiros: Alzíra E e Arruda (“Próximos ao Máximo”), de Alessandra Leão e Xico Sá (“Pássaros, Mulheres e Peixes”), de Jonas Sá, Negro Leo e Santiago Botero Rodriguez (“2013”), de Junio Barreto, Otto e Bactéria (“Amigos Bons”), de Giovani Cidreira (“Dança na Chuva”), de Luis Capucho (“Céu”), de Vitor Colares (“O Silêncio é o Espaço Vazio Entre as Bocas”) e até do próprio Fernando Catatau (“Por Amor)”. Este último foi lançado como single e que ganhou um clipe..

Soledad parte do minimalismo claustrofóbico de “Próximos Ao Máximo”, que tem sonoridades esparsas, pequenas pepitas eletrônicas aqui e ali, chegando, já na faixa seguinte, “O Silêncio É O Espaço Vazio Entre As Bocas”, a um pop límpido, eletroacústico, com ótimas guitarras e um registro vocal que mostra doçura em meio a uma letra áspera “me abandone, me descarte, me resgate já”. Ambas, no entanto, revelam uma influência: Marina Lima, seja em sua fase mais recente, seja em seus momentos mais acessíveis, dos anos 1980/90. Soledad, no entanto, consegue imprimir sua marca em meio às referências estéticas.

Ao longo do álbum o ouvinte vai sendo apresentado a várias possibilidades de um “pop rebuscado”, que pode surgir na linearidade de “Dança na Chuva”, bem como no semi-blues “2013”, que tem bela presença de pianos e guitarras no arranjo. Detalhes legais também surgem nas batidas eletrônicas de “Pássaros, Mulheres e Peixes”, que se vale do silêncio e dos contrastes, enquanto “Amigos Bons”, logo em seguida, tem arranjo bossanovista e classudo, que remonta a tardes cinzas na cidade grande, com saudade de casa. A letra, no entanto, é o oposto do que se espera: “hoje acordei de susto, do ronco da minha barriga com fome”.

Soledad faz show de lançamento de “Revoada”, hoje, dia 2 de maio, às 21h com entrada gratuita na sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo. Os ingressos começam a ser distribuídos uma hora antes do show. O CCSP fica na rua Vergueiro, 1000.

Ouça Primeiro: “O Silêncio É O Espaço Entre As Bocas”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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