O Nosso Listão de Neil Young
O nosso querido Neil Young é um dos artistas mais falados na Célula Pop desde a sua criação, há quase três anos. A gente adora o homem, mesmo com a ressalva de que Neil não vinha fazendo discos bacanas há quase 20 anos, rotina quebrada com o ótimo “Barn”, lançado no fim de 2021. E, bem, todo mundo já sabe da treta dele com o Spotify, que o fez retirar seu conteúdo do serviço de streaming, por conta da manutenção do podcast de Joe Rogan. Young se referiu ao apresentador como um portavoz da desinformação sobre a eficácia das vacinas anti-covid e deu um ultimato à plataforma, dizendo que ela não poderia ter os dois conteúdos, ou ele, ou Rogan. Diante da negativa do Spotify em tirar o show de Rogan do ar, Neil ordenou que seu conteúdo fosse removido, ato que foi imitado, até agora, por Nils Lofgren, David Crosby, Graham Nash, Stephen Stills e Joni Mitchell. A polêmica ainda está na mesa e não sabemos o que pode acontecer, mas o ato de Neil é extremamente emblemático e forte. Torçemos aqui por uma solução em que a informação sobre a doença e o acesso das pessoas à arte de Young sejam prioridades.
Enquanto isso não acontece e diante da enxurrada de postagens de pessoas ostentando seus discos de Neil Young em casa, resolvemos fazer uma de nossas listas de melhores canções com composições do homem, levando em conta sua carreira de quase seis décadas e várias bandas e projetos. Aqui estão nossas escolhas com direito a bônus e tudo mais. Quais são as suas preferidas da carreira de Neil Young?
15 – Cowgirl In The Sand (1969) – adoramos o segundo disco de Neil, “Everybody Knows This Is Nowhere”, que marca o início de sua marca registrada de canção mais rock, com longa duração e tempestades de guitarras. É seu primeiro trabalho com a Crazy Horse.
14 – Cortez The Killer (1975) – esta canção fez Neil ser proibido de pisar na Espanha durante muito tempo por atacar sem dó a imagem do “conquistador” hernan cortez, responsável pela matança de vários incas em sua chegada à América do Sul.
13 – Cinnamon Girl (1969) – outra belezura roqueira de “Everybody Knows…”, bem mais curta e cheia de guitarras e vocais sobrepostos.
12 – Sugar Mountain (1969-1977) – canção que Neil compôs em seu decimo-nono aniversário, em 12/11/64, mas que só foi lançada mais tarde. Foi lado-B do compacto de “Cowgirl In The Sand”, de 1969, mas foi incluída na coletânea tripla “Decade”, de 1977. Uma das mais belas canções folk do homem.
11 – Everybody Knows This Is Nowhere (1969) – a faixa-título do segundo disco de Neil sintetiza bem a vontade hippie de deixar a cidade grande e o corre-corre da vida de artista em favor de um lugar mais tranquilo.
10 – Heart Of Gold (1973) – talvez a faixa mais bela de “Harvest”, o álbum que marca um aumento grande na popularidade de Neil. O verso “I crossed the ocean for a heart of gold” quer dizer tanto em tão pouco…
9 – Harvest Moon (1992) – disco noventista mais interessante que Neil lançou e cuja faixa-título consegue encapsular grande parte de sua carreira folk pregressa. Beleza de gravação, lindeza de arranjo.
8 – The Old Laughing Lady (1968) – essa é uma das gravações mais arrepiantes da carreira de Neil Young e privilégio de fãs mais curiosos. O arranjo é impressionante, o clima, a beleza, tudo é superlativo aqui. De seu álbum de estreia, “Neil Young”, de 1968.
7 – Hey Babe (1976) – um dos momentos country perdidos na carreira setentista de Neil, antecipando um estilo que ele abraçaria com mais força nos anos 1980. A melodia é bela, tem Emmylou Harris no vocal de apoio e uma letra sobre amor irrestrito. Do álbum “American Stars’n’Bars”.
6 – Hey Hey My My (Into the Black) (1979) – o grande hino de homenagem ao punk rock veio de um “roqueiro clássico” como Neil. Ao mencionar Johnny Rotten nesta letra, Neil meio que fazia uma ponte entre estilos e tempos. A versão elétrica é imbatível. Do álbum “Rust Never Sleeps”, de 1979.
5 – Like A Hurricane (1976) – mais uma faixa de “American Stars’n’Bars, álbum meio sem eira, nem beira, que marca um período de muita criatividade de Neil, lidando com várias canções gravadas, arquivadas, regravadas. Esta é mais uma tempestade de guitarras em meio a uma melodia marcante.
4 – Only Love Can Break Your Heart (1970) – esta valsinha de amor dilacerado e pungente é também uma das mais belas canções, não só de Young, mas sobre o impacto do amor em jovens seres humanos que se tem notícia. Do ótimo “After The Gold Rush”, de 1970.
3 – Tell Me Why (1970) – outra canção de “After The Gold Rush”, ela e “Only Love Can Break Your Heart” existem juntas na minha mente confusa de fã de longa data. Outra lindeza, sutil e perene como o vento da manhã.
2 – Lotta Love (1978) – do álbum “Comes A Time”, um dos discos que mais ouvi na vida. Essa gravação de Neil ou a versão disco, de Nicolette Larson, são duas maravilhas intactas perante a ação do tempo. A letra fala sobre precisar de muito amor para as coisas darem certo. Isso não mudou.
1 – Powderfinger (1979) – minha preferida de todo o repertório de Young é este conto sobre tornar-se adulto nas circunstâncias mais adversas. Pode ser uma metáfora, pode ser um conto, pode ser o que for, “Powderfinger” é perfeita. Do álbum “Rust Never Sleeps”.
Bonus Tracks
– Nowadays Clancy Can’t Even Sing (1966 – 1968) – A gravação original desta canção foi feita por Neil ainda no Buffalo Springfield, em 1966. Prefiro a versão ao vivo, de 1968, só com voz e violão.
– Long May You Run (1976) – do álbum “Stills-Young”, de 1976, lançado, como o nome diz, em parceria com Stephen Stills. É mais uma doçura country-folk como só esses caras sabem fazer.
– Ohio (1974) – a canção que fala do barril de pólvora da discriminação racial nos Estados Unidos continua tristemente atual. A versão ao vivo, gravada no álbum “Four Way Street”, é imbatível.
– Expecting To Fly – canção do álbum “Buffalo Springfield Again”, de 1966, que ressurgiu na coletânea “Decade”, de 1977. A psicodelia desta gravação é raridade na obra de Young.
– Broken Arrow – outra canção dos tempos do Buffalo Springfield que ressurgiu em “Decade”. O arranjo psicodélico é muito bacana e ousado para alguém tão “roots” como Neil.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.