Duran Duran lança seu melhor disco em décadas

 

 

 

Duran Duran – Future Past

Gênero: Rock, pop

Duração: 51 min.
Faixas: 12
Produção: Mark Ronson, Giorgio Moroder, Erol Alkan
Gravadora: BMG

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

Olhando em retrospecto para a carreira do Duran Duran, temos uma certeza: é bem difícil a banda inglesa decepcionar seu público. Constantemente modernos, capazes de assimilar as influências e modismos ao longo do tempo, além de ótimos músicos e compositores, Simon Le Bon, Nicky Rhodes, John Taylor e Roger Taylor são, ao mesmo tempo, autênticos remanescentes dos anos 1980. Digo isso como um elogio sincero porque, ao contrário da maioria de seus contemporâneos, o Duran conserva sua identidade sem que isso soe nostálgico. Pelo contrário. O barato de seus álbuns é perceber essa marca registrada seja em que tempo for. De alguma forma, eles sempre conseguem esta façanha e com “Future Past”, ainda mais com um título destes, não é exceção. Aqui estão as grandes características da banda, mantidas intactas: afeição permanente pela música pop dançante; tempo e talento para confecção de baladas praticamente perfeitas; luxo e glamour de um circuito Estados Unidos-Inglaterra que, se não extinguiu-se totalmente ao longo do tempo, existe sempre nas criações do Duran Duran, que remetem a desfiles de moda, salões de embarque de aeroportos em grandes cidades. suítes luxuosas de hotéis caríssimos e, claro, posters de Simon e cia ainda estampando quartos de adolescentes em todo o planeta.

 

 

Toda essa carga além-música segue aperfeiçoada em “Future Past”. Ouvimos e imaginamos o acesso a um jet-set mundial que parece cada vez mais utópico num mundo como o atual. Neste sentido, é legal conferir estes boletins durannies de tempos em tempos e isso já seria recompensador, se os sujeitos não tivessem a grande manha para compor canções. Dentre as doze faixas presentes aqui, não há desperdício ou encheção de linguiça. Tudo funciona naturalmente e tal fato é ainda mais bacana quando percebemos que “Future Past” é uma obra cheia de presenças especiais. Em primeiro lugar, os três produtores: Mark Ronson, que já trabalha com a banda há anos e entrega sempre ótimos trabalhos; Erol Alkan, DJ e remixador inglês, que já trabalhou com gente como Franz Ferdinand, Ride, Kooks, Tame Impala, entre outros, dando aquele toque de sintonia com o tempo presente além de, fechando a trinca de pilotos de estúdio, o venerável Giorgio Moroder, um dos inventores do pop eletro-dançante oitentista, colaborando em duas canções cruciais para o entendimento do disco: “Beautiful Lies” (que parece misturar teclados muito parecidos com os de “Rio” – clássico durannie seminal de 1982 – e alguma produção de eurodance recente) e “Tonight United”, outra pequena maravilha dançante atemporal.

 

 

Além deles, o álbum traz a participação de Graham Coxon (guitarrista do Blur), a cantora sueca Tove Lo, a rapper inglesa Ivorian Doll, o grupo japonês Chai e o pianista Mark Garson, que já trabalhou com David Bowie e Smashing Pumpkins. Ou seja, o que não falta aqui é gente de procedências distintas, todos devidamente inseridos no contexto do álbum de forma natural, sem traumas e jogando a favor da coletividade. O resultado é um amontoado de ótimas canções, como há muito o Duran não entregava num disco. Provavelmente, a última vez que a banda fez um álbum tão coeso foi no século passado e já notamos isso logo de cara, com a chegada da trovejante “Invisible”, que já enfia o pé na porta com bateria sintetizada, teclados e uma levada dançante que identifica a banda imediatamente e remete a um monte de criações do passado, de “Notorius” a “Wild Boys”. A partir daí, a festa é inevitável e o ouvinte só precisa escolher suas preferidas.

 

 

A faixa com Tove Lo, “Give It All Up” é pura modernidade durannie, com estes traços identitários da banda, arranjo maravilhoso e melodia linda, engatando logo em “Anniversary”, que mostra ótimo trabalho da cozinha Taylor, com John e Roger criando a cama para um riff de guitarra que parece reviver a melodia de “The Reflex”, talvez a grande canção composta pela banda em todos os tempos temporais. O ouvinte, nesta altura, já está definitivamente capturado no mundo mágico do álbum e mergulha na bonitinha faixa-título com naturalidade, típica baladinha que Simon escreve e canta com tanta naturalidade, só que ela muda do meio para fim, inserindo um solo de guitarra crocante, disparado por Coxon, cheio de autoridade. “Wing” é outra representante deste cânone baladeiro da banda, preservando esta habilidade incrível com a melodia e o arranjo sempre tão bem pensados, sensação que também temos com “Nothing Less”, mais uma balada perfeita.

 

 

As últimas três faixas são mais, digamos, experimentais, mas sem ousadias em excesso. “Hammerhead”, com a participação de Ivorian Doll, é ótima nos arranjos vocais e na linha de baixo engordada por efeitos especiais. “More Joy”, que conta com o grupo Chai, parece música de videogame a princípio e vai evoluindo para algo mais encorpado de forma natural e interessante, abrindo espaço para a última faixa, “Falling”, com o piano de Mike Garson assumindo papel de destaque e pontuando uma canção fluida e cheia de surpresas no arranjo e na melodia.

 

“Future Past” é um discaço. Tudo que um fã devotado do Duran Duran quer está aqui. E tudo que alguém que se interesse por ótima música também está em cada momento do álbum. A velha classe com a teimosia de nunca se acomodar e a habilidade em escrever excelentes pop songs. Este é o melhor trabalho que a banda lança em muitos, muitos anos.

 

Ouça primeiro: “Beautiful Lies”, “Wing”, Hammerhead”, “Nothing Less, “Tonight United”, “Invisible”, “Give It All”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Duran Duran lança seu melhor disco em décadas

  • 28 de outubro de 2021 em 13:59
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    Concordo plenamente. Gosto de todos os trabalhos da banda, mas este com certeza é um dos melhores.

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