Once and Future Band – Deleted Scenes

 

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 41 min.
Faixas: 9
Produção: Joel Robinow, Raj Kumar Ojha e Eli Eckert
Gravadora: Castle Face

5 out of 5 stars (5 / 5)

 

Há algum tempo, a lista de canções que o Spotify indica a audição, feita a partir dos algoritmos gerados por nossas escolhas, continha uma faixa chamada “Rolando”, da Once And Future Band. O título me chamou a atenção e fui ouvir, dando de cara com uma baita canção instrumental com têmpera jazz-rock, bem ao sabor do Steely Dan. Salvei numa lista de melhores e ouvi o álbum original, que era a estreia epônima da banda. Não sei por que motivo eu não dei maior atenção e segui em frente. Era um som misto de Beatles, Electric Light Orchestra, Beach Boys, tinturas fortes de progressivo – no sentido Pink Floyd psicodélico do termo e Alan Parsons Project – e jazz rock, como Steely Dan, Chicago inicial e bandas similares. À frente de tudo, uma capacidade ímpar de gerar ótimas canções pop. Qual não foi minha surpresa – e felicidade – quando vi que o trio de Oakland, California, lançaria um novo trabalho. Com vocês, “Deleted Scenes”.

 

Posso afirmar que este segundo disco tem mais foco que o primeiro e mostra as mesmas exuberantes referências. Joel Robinow, Raj Kumar Ojha e Eli Eckert são três moleques, mas, cada um em seu instrumento, soam como verdadeiros monstros veteranos. A banda é contratada do selo Castle Face, de John Dwyer, líder do The Oh-Sees e um dos entusiastas/arquitetos do som garageiro/psicodélico da California atual. Só que a OFB está milhas além desta definição. O trio intercala momentos de extremo virtuosismo instrumental, dando-se ao luxo de mandar uma faixa de quase dez minutos de duração no fecho do álbum, chamada “The End And The Beginning”, com uma impressionante demonstração de técnica e habilidade do baterista Raj Kumar, um verdadeiro monstro de mil tentáculos. A melodia é dramática, cinematográfica, familiar e espacial, tudo ao mesmo tempo.

 

O resto do disco é um festival de felicidade para o ouvinte mais exigente e dedicado. Apesar das influências “velhas”, a OFB tem a noção de estar em 2020, imprimindo, seja nas performances, seja na própria gravação, detalhes que dão a noção exata de que estamos no nosso tempo. E o agradável contraste que isso nos faz sentir quando é confrontado com os sons clássicos do disco, é uma das melhores sensações no todo. Há dois tipos de faixas em “Deleted Scenes”, as de influência mais próxima do pop clássico beatlemaníaco/beachboyano, que soam lindas e as surfistas na onda do jazz-prog-rock, que vão pegando pedaços de influências abandonadas numa espécie de estante de achados e perdidos da música pop, há muito esquecidas, criando uma sensação irresistível de novidade.

 

No primeiro tipo está “Andromeda”, que abre o álbum. Numa melodia belíssima, que poderia ser da ELO, mas também poderia ser de The Polyphonic Spree, o trio vai usando teclados, pianos e corais praianos para decalcar imagens e sons atemporais. “Freaks” é outra lindeza que poderia estar num disco noventista do Jellyfish, mas está aqui, saltitante e falando de … tristeza pelo fim de um relacionamento amoroso diante da passagem do tempo. “Airplane” é outra belezura, mas tem um clima mais folk, com violões e guitarras dedilhadas e teclados progressivos que poderiam ser do Yes em “Relayer”. As outras canções são híbridas dentro do conceito “jazz-rock” e oferecem muita felicidade auditiva. “Automatic Air” é uma arrepiante canção em câmera lenta, que poderia ser trilha sonora de algum filme dos anos 1970, com marcante diálogo entre piano Fender e baixo com corais à la Jon Anderson – “I am stranger to love” – e explosões de bateria e sintetizador. “Problem Adict” e a faixa-título poderiam ser do Chicago em sua versão 1971, enquanto “Several Bullets In My Head” e “Mr.G” chegam a lembrar o Azymuth, mas sem a pancadaria percussiva dos tijucanos.

 

Mais que sensacional, “Deleted Scenes” é um álbum de gente jovem reunida, com noção e conhecimento de influências raras de se ouvir no pop/rock feito hoje. Ouçam e se apaixonem depressinha.

 

Ouça primeiro: o disco todo.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Once and Future Band – Deleted Scenes

  • 2 de maio de 2020 em 17:23
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    Ouça, é sensacional.

    Resposta
  • 2 de maio de 2020 em 02:34
    Permalink

    Puta que pariu. Com uma descrição dessas preciso ouvir imediatamente!

    Resposta

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