The Strokes – The New Abnormal

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 45 min.
Faixas: 9
Produção: Rick Rubin
Gravadora: RCA

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

Eu já disse em algum lugar (aqui) que eu não sou exatamente fã dos Strokes. Apesar do engajamento recente dos sujeitos na campanha do Senador Bernie Sanders e de um ou outro momento ao longo de seus álbuns anteriores, a banda nunca me atraiu totalmente. Até agora. Este “The New Abnormal”, sexto disco de inéditas do quinteto americano, não só é seu melhor trabalho, como enterra de vez a imagem que a banda tinha quando surgiu, mostrando a fãs e ao mundo que os sujeitos de 20 e poucos anos se foram e hoje têm entre 30 e tantos e 40 e poucos anos. Pense: o que você fazia aos 20 que faz aos 40 da mesma forma? Quase nada. Além disso, as nove canções do álbum são mais bem produzidas, detalhadas e interessantes que tudo já feito pelos Strokes.

 

Felizmente não há nenhum traço daquela sonoridade do início dos anos 2000, que mostrou ter fôlego curtíssimo e só serviu como uma alternativa ao rock alternativo da época. Saiu de cena o britpop e seus filhotes; o grunge e seus filhotes e uma sonoridade crua assumiu o protagonismo. Não há nada cru em “The New Abnormal”, pelo contrário. Tudo aqui é bem pensado, bem tocado, com ótimos arranjos e com o uso extensivo de sintetizadores e teclados. Talvez a única constante em relação aos outros discos da banda seja o amor pelos anos 1980, mas até isso foi transformado, seja na maneira de servir como influência, seja na maneira como a banda vê a própria sonoridade. E há tristeza por aqui, algo que só surgia raramente em algumas canções do passado distante. Aliás, é bom lembrar: “The New Abnormal” é o primeiro disco dos Strokes desde 2013, sem contar o EP que a banda lançou em 2016. É bastante tempo sem algo a dizer.

 

Quem não admira a banda, provavelmente não será fisgado pelo novo trabalho. E quem acha que o melhor deles já passou, dirá que nenhuma das nove faixas vale a pena. Erro crasso. Cada canção tem uma função específica nesta declaração de existência da banda. A última faixa, “Ode To The Mets” é quase totalmente impulsionada por sintetizadores, tem melodia tristonha e fala de passado, de saudade. O título alude ao time de baseball, NY Mets, sediado no Queens, um ícone da cidade de Nova York, lar da banda. É um olhar para trás com doçura e noção de inevitabilidade, tudo muito bonito. “The Adults Are Talking”, a faixa de abertura, é reconhecivelmente strokiana, seja pelo entrelace de guitarras e pelos riffs que vão surgindo, com andamento rápido fornecido pela competente bateria de Fabricio Moretti. O vocal de Julian Casablancas é baixo, crescendo de intensidade no refrão, que revela a beleza simples da melodia da canção.

 

“Brooklyn Bridge To Chorus” é uma ensolarada faixa que tem o máximo de influência do revisionismo oitentista de gente como o Daft Punk. Há riffs de teclado e baixo sintetizado que dão charme e dimensão à melodia, com refrão bonito e bem feito. “Bad Decisions” é quase uma canção neworderiana, com guitarras cheia de timbres saudosos, mas a impressão se desfaz num refrão que lembra “Dancing With Myself”, de Billy Idol. “Eternal Summer” é dolente, solene, com Casablancas cantando em falsete, algo que é legal e estranho ao mesmo tempo. “At The Door”, um dos singles de lançamento, tem melodia tristonha puxada pelos sintetizadores e letra falando de não escapar, de não ter escolha, de bater na porta e ninguém atender. Há algo na melodia do refrão que lembra Los Hermanos, com um efeito bom no resultado final da canção. “Why Are The Sunday’s So Depressing” é outra lindeza em midtempo, com guitarras e andamento levemente funkeados, num efeito novo e bacana para a obra do grupo. O refrão deságua em outro andamento, com sintetizadores subterrâneos, enquanto “Not The Same Anymore”, a faixa seguinte, tem melancolia já expressa nas guitarras da abertura, na constatação do tempo passando, tanto para nós quanto para os outros à nossa volta.

 

“The New Abnormal” é uma beleza de disco, surpreendente e que mostra uma banda ciente de seu tempo, de sua carreira e apostando na sinceridade para recuperar sua relevância. Se os Strokes passaram mais de uma década fazendo música qualquer nota, aqui eles vieram com sede e disposição para reivindicar sua relevância. Só que os motivos para isso não serão os mesmos de 2000, este disco é o melhor que já fizeram e tem força para recolocá-los no mapa num lugar inteiramente novo. Bravo.

 

Ouça primeiro: “Ode To The Mets”

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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