Alguns compactos do BRock

 

Durante algum tempo, conduzi uma coluna no Monkeybuzz chamada “Cadê?”. A ideia era resgatar alguns discos que haviam sumido das prateleiras e/ou que não tinham o valor reconhecido pela memória afetiva/coletiva. Isso foi em 2014, cinco anos atrás. A maioria ainda segue obscura e merecendo divulgação, fato que me leva a publicar um dos textos aqui, no qual eu fazia um inventário de sucessos radiofônicos que tiveram sua vida útil concentrada nos compactos. Vamos ver quantos você conhece.

 

Texto originalmente publicado em 11 de agosto de 2014.

 

Link para o original: aqui.

 

A sua coluna empoeirada preferida traz hoje alguns compactos que foram lançados ao longo dos anos 1980 por bandas e artistas que não foram muito além disso. Mesmo assim, estas canções fizeram grande sucesso nas rádios e programas de TV, contribuindo para povoar ainda mais esse ecossistema rico que foi o Rock brasileiro daquela época. Conheça algumas destas pequenas e obscuras maravilhas, cheias de ingenuidade, que, na maioria dos casos, jamais foram lançadas em CD, mesmo em compilações aleatórias.

 

Cinema A Dois – Não Me Iluda (1985) Banda do tecladista e cantor Fábio Fonseca, que saíra do grupo Brylho (responsável pelo megahit Noite do Prazer em 1983), que só registrou este compacto em 1985, fazendo grande sucesso. O grupo participou da coletânea Rock In Brazil (1984) ao lado de Lobão, Absyntho, Herva Doce, Brylho e João Penca.

 

 

Absyntho – Ursinho Blau Blau (1983) Banda carioca, formada em 1982, totalmente no clima das primeiras formações do gênero na cidade. A figura do vocalista Silvinho era bem próxima das noites do Circo Voador e dos dias nas praias da Zona Sul. Ursinho Blau Blau surgiu como um raio, tomou as rádios, invadiu o Chacrinha e vendeu 350 mil cópias de seu compacto em 1983. A banda ainda teria um outro hit, Só A Lua. O Absyntho encerraria suas atividades em 1986 e Silvinho iniciaria carreira solo.

 

 

 

Grafite – Mamma Maria (1982) A banda Grafiti surgiu no início da década com um grande sucesso radiofônico: Mamma Maria. Era presença constante no Chacrinha e tinha no trio de irmãos Chico, Paulinho de Tarso e Humberto Donghia, além das vocalistas Claudinha e Betina. Apesar de seguir com uma carreira discretíssima até 1989, a banda sempre será lembrada como one hit wonder por essa canção.

 

 

 

 

Rapazes de Vida Fácil – Adriana Na Piscina (1983) Grupo que trazia o compositor e cantor Alvin L (autor de canções para Marina Lima, Capital Inicial, entre outras), que formaria o grupo Sex Beatles mais tarde. O Rapazes era um trio, com Nelson Meireles e Antônio Watts completando a formação. Essa maravilha New Wave verde-amarela é de 1983 e foi o único compacto que o grupo registrou.

 

 

 

Luciano Bahia – Carol (1985) “Alô, Carol? Eu tô aqui no pub te esperando”. Era um inacreditável Luciano Bahia cantando uma história de amor não correspondida na noite carioca. A canção era, essencialmente, a base de Legal Tender (do grupo B-52’s , estourado na época por conta do Rock In Rio) com novas guitarras e vocais. Fez sucesso impressionante na época. Luciano jamais emplacou algo semelhante nas paradas.

 

 

 

 

Espírito da Coisa – Ligeiramente Grávida (1985) Uma tentativa de criar “a nova Blitz ” que deu errado. O Espírito da Coisa era um octeto com Cláudio (voz), Dila (voz), Victor (voz), Katita (voz), Paulo Correa (guitarra, piano, violão, flauta e voz), Guilherme (teclados, saxofone e flauta), Cláudio Matheus (baixo) e Sobral (bateria e percussão). Participou de duas coletâneas – Globo de Ouro e Indústria do Rock e lançou o compacto, pela gravadora Top Tape, não indo muito além.

 

 

 

Vestidos de Espaço – Seu Popô No Meu Pipi (1988) Inacreditavelmente produzido por Liminha e Antoine Midani, essa canção trazia Paula Toller (Kid Abelha), Jorge Mautner e os membros de Titãs Charles Gavin, Branco Mello e Arnaldo Antunes. Os sujeitos queriam provar que, com uma boa divulgação (no caso, da Warner) era possível fazer sucesso. Saiu em formato de Maxi Single, tocando regularmente nas rádios por um bom tempo.

 

 

 

Eletrodomésticos – Choveu No Meu Chip (1985) A gravadora CBS demorou a encontrar sua banda ovos de ouro na leva de artistas do Rock Nacional dos anos 1980. Em pouco tempo, porém, o RPM, maior vendedor daquela época, assinaria com o selo. Até lá, várias tentativas de encontrar algo que vendesse loucamente foram feitas. A banda Eletrodomésticos foi uma dessas aventuras que quase deram certo. Choveu No Meu Chip, robótica, bem humorada e 100% New Wave fez sucesso estrondoso entre o fim de 1985 e o começo de 1986, com grande apelo junto ao público infantil.

 

 

 

Telex – Só Delírio (1984) Os paulistas Telex surgiram em 1984 em meio ao grande volume de bandas que buscavam um lugar ao sol. Logo conseguiram contrato com a CBS e gravaram Só Delírio, que chegou a fazer relativo sucesso. Como curiosidade, o Telex era uma tentativa de atualização musical do baterista da Patrulha do Espaço, Oswaldo Gennari Filho. Em pouco mais de um ano, o grupo encerrou suas atividades.

 

 

 

 

Magazine – Sou Boy (1983) Ex-Verminose, o Magazine surgiu do nada em 1983 com esse irresistível manifesto New Wave sobre a vida miserável de um office boy no caos urbano de São Paulo. À frente vinha Kid Vinil (o jornalista Antônio Carlos Senefonte), secundado por Lu Stopa (baixo), Trinkão (bateria) e Ted Gaz (guitarra). Fizeram outro grande sucesso com Tic Tic Nervoso no ano seguinte.

 

 

SOS Miquinhos (1988) Um medley de sucessos da Jovem Guarda com a interpretação amalucada dos Miquinhos Amestrados, mas apenas versões proibidas para menores. Outra versão surgiu nas rádios cariocas, com “censura” nas partes mais pesadas, se não me engano, na Cidade FM, e se tornou um sucesso exorbitante no fim da década de 1980.  É engraçado ouvir hoje e ver o festival de machismo e preconceito que esse tipo de paródia tinha.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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