Wall of Eyes: o The Smile ainda mais autêntico

 

 

 

 

The Smile – Wall Of Eyes
45′, 08 faixas
(XL)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

Considerando que o The Smile é um projeto liderado por Thom Yorke, Jonny Greenwood e Tom Skinner, não é difícil imaginar que desde o início, o grupo incorporou elementos do pós-punk, rock progressivo, afrobeat, jazz e música eletrônica. Não é surpreendente, portanto, que ao ouvir o primeiro álbum do The Smile, muitos tenham sentido uma semelhança com o Radiohead.

 

Embora encontremos críticas tratando da comparação exagerada entre o Radiohead e o trabalho inicial do The Smile, é inegável que muitos sentiram a presença de um irmão mais novo e estilisticamente semelhante ao Radiohead. A melancolia, ansiedade e assombração pós-moderna comuns ao Radiohead estavam presentes. Mas ao ampliar nossa sensibilidade, percebemos a assinatura única de Tom Skinner, que enriqueceu “A Light For Attracting Attention” com elementos progressivos, psicodélicos, expansão sonora e uma névoa hipnótica, destacando o The Smile como mais do que uma simples versão alternativa do Radiohead – e é por essa razão que eu sou uma daquelas que criticam a opinião de quem exageradamente compara o The Smile com o Radiohead.

 

Agora, com o segundo álbum “Wall of Eyes”, a teoria de que o The Smile é mais do que uma simples releitura do Radiohead se fortalece. O segundo álbum do grupo é genuinamente autêntico, apresentando músicas com uma aura livre, experimental e imprevisível que surpreende o ouvinte, levando-o a locais inesperados no seu imaginário.

 

Meses atrás, o grupo lançou as faixas “Wall of Eyes” e “Bending Hectic”. Posteriormente, incorporaram singles como a belíssima “Friend of a Friend”, que transporta os ouvintes para um ambiente íntimo de beleza e delicadeza, utilizando a London Contemporary Orchestra.

 

Com o segundo álbum oficialmente lançado, o The Smile incorpora características encantadoras, inovadoras, esquisitas e idiossincráticas. Os membros do Radiohead, cansados dos grandes shows, talvez tenham encontrado no The Smile um projeto inevitável durante as pausas para explorar seu eu mais profundo.

 

“Wall of Eyes” se revela como um álbum com harmonias intrigantes, ritmos voláteis e profundamente interessantes. Sam Petts-Davies, o produtor, destaca a diversidade das composições de Yorke e Greenwood, enquanto o baterista Tom Skinner deixa sua marca de forma inovadora e até um pouco hostil.

 

A faixa de abertura, “Wall of Eyes”, destaca a voz etérea de Thom Yorke, lembrando um certo Radiohead de “In Rainbows”. “Teleharmonic” cria uma atmosfera onírica, enquanto “Read the Room” apresenta variações sonoras e psicodelia crua. “Under Our Pillows” é esquisita e exploradora, e “Friend of a Friend” cativa com sua beleza única. “I Quit” traz uma sensação fantasmagórica e redentora, enquanto “Bending Hectic” possui uma assinatura lindíssima, avassaladora e melancólica – e cito esta como uma das melhores performances de Thom Yorke. O álbum encerra com a belíssima “You Know Me!”, um momento de beleza crua e radiante.

 

Um disco difícil, talvez, mas, antes de tudo, autêntico na perfeita definição de que essa palavra fornece. “Wall of Eyes” é indiscutivelmente um álbum que merece total atenção na primeira audição. E destaco o motivo: a imprevisibilidade dessas músicas é onde reside a beleza da arte. É um álbum desordenado, belo, exótico, com uma assinatura expressionista – características que o torna extremamente interessante, poético, incomum e, desde já, visionário, incorporando os espíritos inquietos de Yorke, Greenwood e Skinner. Se a busca pela beleza vem da busca pela verdade, e se a ideia do cineasta Terrence Malick de que a verdade deve nos perturbar de alguma forma é válida, então “Wall of Eyes” cumpre excelentemente esse papel.

 

Ouça primeiro: “Bending Hectic”, “Friend Of A Friend”

 

 

Maisa Carvalho

Maísa Mendes de Carvalho é piauiense com toques paulistas, advogada, criadora e apresentadora do Distorção Podcast, amante das artes humanas e apaixonada por música.

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