Três vezes dez: a estreia do Pearl Jam (Parte Final)

 

 

 

O Pearl Jam assinou com a Epic (leia-se: Sony), que não economizou ações para promover a banda e seu álbum de estreia. O single com “Alive” (cuja capa trazia o boneco desenhado por Ament que viraria marca do quinteto) precede o lançamento de Ten, que ocorre no final de agosto de 1991. A música vai parar em um cassete que se adquiria juntando selos de produtos da Coca-Cola. Associados de fã-clubes da Mother Love Bone e da Soundgarden são presenteados com faixas inéditas. Rádios e revistas musicais são devidamente abastecidas.

 

A banda, de seu lado, faz o que queria fazer: botar o pé na estrada. A turnê, sem maiores produções, começa em setembro de 1991 – a essa altura, um terceiro baterista havia assumido as baquetas, o excelente Dave Abbruzzese, que ficaria com a Pearl Jam até 1994. Foi uma longa série de shows até meados de 1992, passando por Estados Unidos (em companhia de Red Hot Chili Peppers e Smashing Pumpkins), Europa, Estados Unidos de novo (quando grava um MTV Unplugged) e um retorno à Europa.

 

Na sequência, verão de 1992, a banda participa de um antológico e ainda itinerante Lollapalooza. Espécie de marco final, em setembro, foi um show gratuito em Seattle, que celebra sua relação com a cidade. Essa relação aparece também no filme Singles, dirigido por Cameron Crowe e lançado em 1992. A Pearl Jam está na trilha sonora e seus integrantes fazem algumas aparições como personagens.

 

Ten não foi um sucesso imediato, mas ao longo de 1992 galgaria posições na Billboard até conquistar o número 2. “Jeremy” foi indicada para um Grammy e seu vídeo recebeu quatro prêmios no MTV Awards de 1993. Os leitores da Rolling Stone elegeram, em 2013, Ten como o primeiro de uma lista de 10 melhores álbuns de estreia. Ele continua sendo o álbum com maior sucesso comercial da banda e em 2009 foi relançado em uma edição especial. As faixas foram remixadas e divulgadas juntamente com músicas extras (Ten Redux); vários outros materiais acompanharam o relançamento.

 

Mas o sucesso sempre tem seus custos, especialmente se alguém não está disposto a pagá-los. Na banda, ninguém mais do que Vedder sentiu isso. Contraditoriamente. Pois, por um lado, o vocalista expressou seu apreço pela ética de um Fugazi, com sua aposta no low profile e seu compromisso com os fãs; por outro, não se recusou à superexposição em eventos da MTV, em um tributo a Bob Dylan e, já no início de 1993, em uma homenagem ao The Doors que reuniu o showbizz da música nos EUA.

 

Em outros planos, Vedder buscava um equilíbrio. Suas letras encontraram ecos em sofrimentos pessoais e sociais. Performances angustiadas do vocalista eram uma demonstração disso. Mas Vedder não se fechou sobre si. Não fez segredo de suas posições pro-choice na questão do aborto e participou dos esforços contra a reeleição de George Bush. Além disso, a banda engajou-se em campanhas pelo registro de eleitores em 1992.

 

Simon Reynolds disse sobre Vedder na Melody Maker de 1993: “ele chega como uma espécie de irmão mais velho, oferecendo orientação, apoio e consolo a seu rebanho, jovens de 20 e poucos anos sem fé nem direção”. E completa: “Como no caso do Clash, a visão de rock do Pearl Jam é humanista, calorosa, inclusiva e, por isso, profundamente tradicional”.

 

A combinação era um prato cheio para dilemas, inclusive nos palcos. No MTV Awards de 1992, os rapazes cederam ao tocar “Jeremy”, mudando os planos iniciais. Na segunda parte de sua turnê europeia, a Pearl Jam deparou-se com verdadeiras multidões, como é de praxe nos festivais de verão. Um incidente levaria ao cancelamento dos demais shows dessa turnê.

 

Aconteceu na Dinamarca, como um prenúncio da tragédia maior que ocorreria em 2000 em outra edição do mesmo festival. Em 1992, um enorme fosso separava o palco do público. Mesmo assim, fãs arriscavam-se para alcançar a banda. Um deles foi espancado por seguranças. Ao ver a cena, Vedder se envolveu na confusão e foi literalmente sugado pela multidão.

 

Vedder não queria nem permanecer em um palco inacessível, nem ser sugado pela multidão. E vai tentar conviver com esses dilemas, que, em forma de fantasmas armados, vão tirar a vida de Kurt Cobain, que criticara a Pearl Jam como uma armação. Antes disso, no mesmo ano de Ten, a banda de Kurt havia gravado e lançado outro álbum de extremo sucesso, Nevermind.

 

Leia as outras partes da história de “Ten”: aqui e aqui.