Os novos beats de Duda

*foto: Celso Tavares

 

Duda Beat – Te Amo Lá Fora

Gênero: Pop alternativo

Faixas: 11
Duração: 39 min
Produção: Tomás Tróia, Lux Ferreira
Gravadora: Independente

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

 

 

 

Os discos brasileiros de pop alternativo, um rótulo às vezes impreciso, mas ainda eficaz, deram um salto qualitativo em termos de produção nos últimos tempos. E ficou meio acertado consensualmente que a grande meta é fundir elementos de música nacional de raiz com timbres e tonalidades modernas vindas de fora. O resultado desejável é soar como este segundo álbum de Duda Beat, “Te Amo Lá Fora”, que tem doses iguais de modernidade gringa e brasilidade, igualmente contemporânea. E tem boas músicas, também, algo que Duda já havia provado ser capaz de escrever e gravar. Mas, há um pequeno problema: às vezes o desejo de obter uma sonoridade muito diferenciada e/ou cheia de referências pode colocar em risco a coesão de um disco e, infelizmente, isso também ocorre por aqui. Vejamos.

 

A primeira audição das onze faixas do álbum mostra a excelência da produção – a cargo de Tomás Tróia e Lux Ferreira – no sentido de obter uma sonoridade encorpada e forte. Tudo é bem gravado e cheio de boas intenções, mas, logo a gente se depara com tentativas de mesclar coco com trap, pagode baiano com hip hop, vaporwave com sofrência, tudo ao mesmo tempo agora, num movimento que parece querer provar algo. E essa impressão permanece ao longo da canções nas audições seguintes, com algumas exceções. Quando Duda acerta no alvo e isso casa com a produção, a sensação é de que estamos diante de uma das mais promissoras cantoras e compositoras brasileiras da atualidade. Tem identidade, pegada, linha temática nas letras e uma capacidade de encarnar personagens e personas na hora de interpretar. Tudo isso é mérito dela, especialmente a habilidade de cantar sobre o amor não correspondido.

 

O mais interessante é que uma das melhores faixas do álbum traz Duda falando sobre o amor realizado e consolidado, no caso, com Tomás Tróia. “Decisão de Te Amar” é um reggae classudo, cheio de timbres legais e uma das faixas “mais puras” do álbum. Aqui fica explícito, não só o talento de Duda como compositora, mas o quanto ela pode render num ambiente menos frenético de referências. O outro momento sublime, “50 Meninas”, é mais híbrida, porém tem sua base igualmente calcada no reggae, que mostra a necessidade nova de Duda olhar com mais carinho para o estilo, porque ela rende muito bem em composições que mergulham essas águas. A letra é sobre a homice de alguém que age errado com a mulherada, incluindo Duda e as tais 50 mulheres do título.

 

 

Ainda que estas duas canções sejam os únicos momentos de brilho intenso e diferenciado do álbum, há outras passagens legais. O single “Meu Pisêro”, é ok, surgindo como se fosse uma mistura de alguma banda de axé noventista com os timbres que Duda apresentou no primeiro álbum. A faixa que abre o disco, “Tu e Eu”, tem participação de Cila do Coco, que, mesmo pouco aproveitada, traz um bom exemplo de mistura que deu certo. E tem a balada bela e plácida “Meu Coração”, cheia de cordas e solenidade, mostrando que Duda tem muito para oferecer como intérprete de suas próprias letras e sensações. O arranjo e um gol da produção, mostrando que, se não desejasse enfiar todas as referências possíveis e apostasse na simplicidade, teria realizado um discaço.

 

 

“Te Amo Lá Fora” tem a ousadia dos segundos discos e seus erros. Mas tem muito mais méritos nas promessas que faz ao ouvinte. Vamos seguir de olhos e ouvidos em Duda Beat, que dá mais um passo firme em sua carreira.

 

Ouça primeiro: “50 Garotas” e “Decisão de Te Amar”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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