Beach Boys: 13 (+6) Clássicos

 

Segue a dificuldade total em elaborar essas listinhas de melhores e mais queridas de artistas importantes. No caso dos Beach Boys a coisa é muito, muito complicada, não só pela avalanche de clássicos ao longo da carreira – que é enorme – mas pela quantidade de canções queridas e que nem se inserem no melhor da produção da banda. Mas não importa: os irmãos Wilson – Brian, Carl, Dennis – Al Jardine e Mike Love têm um dos mais impressionantes legados da música e da cultura do século 20 e isso ninguém tira deles.

 

Esta lista procurou cobrir toda a produção dos sujeitos e demorou pra sair, justo por conta de precisar deixar de lado algumas canções maravilhosas. Por isso, se sua preferida não está aqui ou está numa posição pouco representativa, saiba que tudo que vê-ouve nesta seleção é fruto de decisões tomadas com o coração na mão. Vamos então a estas 19 selecionadas e, desde já, você pode – e deve – dizer qual ficou de fora e qual nem deveria ter passado por perto dessa listinha.

 

 

19 – Getcha Back (1985) – eu adoro os discos dos Beach Boys que os fãs hypados adoram dizer que odeiam. O álbum de 1985, por exemplo, homônimo, é uma tentativa desesperada de se adaptar àqueles novos tempos. Esta canção aqui tem uma das passagens vocais mais belas de toda a carreira de Carl Wilson e sua melodia lembra vagamente “Hungry Heart”, de Bruce Springsteen. Amor total.

 

18 – I Can Hear Music (1969) – uma lindeza com menos de três minutos, direto de 1969, segunda faixa do álbum “20/20”. É outra amostra da excelência vocal de Carl Wilson, com melodia e arranjo perfeitos. É a banda tentando sobreviver enquanto Brian saía de cena. E conseguindo brilhantemente.

 

17 – Sail On, Sailor (1973) – típica canção da banda no início dos anos 1970, quando vários temas e timbres foram incorporados. Ela é rock, parece algo que poderia ser de Elton John, mas há detalhes no refrão e pouco antes dele, que conferem a identidade inquestionável dos Beach Boys. Do álbum “Holland”.

 

 

16 – Match Point Of Our Love (1978) – tesouro escondido no subestimadíssimo “M.I.U Album”, que pode ser entendido como o abraço do grupo ao que se entende hoje por AOR. Timbres mais maduros, visando as FMs e variações sobre temas referentes ao amor e ao sentimento. Uma lindeza ignorada e que precisa ser conhecida por muitos.

 

15 – Break Away (1969) – das sessões de gravação do “20/20”, mas que saiu em compacto e, mais tarde, na coletânea “Spirit Of America”, de 1975. Outra maravilha pop dourada, com letra sobre reerguer-se após um rompimento de relação. Beach Boys falando sobre a vida real, com amor e coração.

 

 

14 – Heroes And Villains (1967) – pérola psicodélica/cartunesca do mais que subestimado “Smiley Smile”, a versão “amputada” da obra prima enlouquecida “Smile”, que Brian Wilson concebia quando teve seu colapso emocional, retirando-se em seguida. Esta versão é sensacional e a música mistura mexicanices, timbres de desenho animado e uma narrativa enlouquecida que tangencia as obras primas do gênero.

 

 

13 – Darlin’ (1967) – do álbum “Wild Honey”, que foi a primeira prova de que os Beach Boys existiriam sem Brian Wilson, se preciso fosse. Outro vôo de brigadeiro de Carl Wilson nos vocais, nestes pouco mais de dois minutos de perfeição sonora.

 

 

12 – Surfer Girl (1963) – estas canções iniciais dos Beach Boys são todas perfeitas, belas e sensacionais. Os vocais harmonizados, o instrumental herdado do doo-wop e do rock clássico e vulnerabilidade das letras casam perfeitamente. Isso aqui é praticamente sagrado.

 

 

11 – California Girls (1965) – simplesmente uma das canções mais perfeitas de todos os tempos. Tudo está aqui: letra, patriotada, arranjo moderninho, clima praiano e a perfeição da melodia. Esta é uma das canções preferidas do próprio Brian Wilson, sendo assim, não dá pra discutir muito.

 

 

10 – Wouldn’t It Be Nice (1966) – faixa que abre “Pet Sounds” e que coloca na mesa todas as cartas que o disco irá oferecer: diversidade, riqueza de arranjos, precisão técnica e letras que vão longe numa seriedade alucinada que combina muito bem com a angústia existencial que Brian vivia na época. Aqui é um compêndio de planos para o futuro de um casal que entende que a vida será compartilhada entre eles. Linda.

 

 

09 – The Warmth Of The Sun (1964) – se você ouvir o falsete de Carl Wilson logo nos primeiros segundos da canção e não se arrepiar, você, provavelmente, morreu e não sabe. A letra é sobre amor, sobre vulnerabilidade e dor de cotovelo, mas, bem, há a quentura do sol para consolar. E o arranjo é puro doo-wop, influência maior da banda neste início de carreira.

 

 

08 – In My Room (1963) – uma verdadeira ode à necessidade de se ter um pequeno espaço físico no qual podemos ser o que somos. Composta por conta do assassinato de John Kennedy, esta canção é um exemplo impressionante de sensibilidade e excelência de Brian Wilson como compositor.

 

 

07 – Til’ I Die (1971) – faixa do excelente álbum “Surf’s Up”, esta canção é um apontamento sobre a mortalidade e a finitude da nossa existência. Seu arranjo inspirou a dupla Hall And Oates anos mais tarde a compor seu clássico “One In One”. Uma das mais belas composições da banda californiana em todos os tempos.

 

 

06 – God Only Knows (1966) – a canção-chave de “Pet Sounds”, a primeira a inserir “God” no título, a celebrar a realização profunda e total que é viver ao lado de alguém. Também é a canção preferida da vida de Paul McCartney, o que é muito. Ainda que tenha sido banalizada com o tempo, segue como clássico absoluto do pensamento e da criatividade humanos de todos os tempos.

 

 

05 – All This Is That (1972) – uma das mais belas e arrepiantes canções que este escriba conhece. A letra é sobre meditação transcendental, fala sobre ser tudo, se conectar com as outras pessoas e elementos, em harmonia. É um retrato fiel do seu tempo e contém a minha passagem preferida de Carl Wilson em todos os tempos, quando a música vai acabando e ele, a partir do minuto 2:37, atinge um nível angelical. Emocionante é pouco. Do álbum “Carl And The Passions”, de 1972.

 

 

04 – Good Vibrations (1967) – a “sinfonia adolescente para Deus” que Brian Wilson conseguiu terminar antes de entrar em colapso. É uma obra de arte, para poucos e raros, com mudanças de andamento, arranjo oscilante, milhares de instrumentos e detalhes e uma letra que evoca o auge do movimento hippie e contra-cultural americano. Uma Monalisa das canções pop e isso não vai mudar nunca.

 

 

03 – Surf’s Up (1971) – canção que deveria fazer parte de “Smile”, mas que entrou apenas como faixa-título do álbum de 1971. A letra é uma sucessão de passagens surrealistas e artísticas, envoltas numa das mais belas melodias que se tem notícia. Uma coisa praticamente indescritível.

 

 

02 – Don’t Worry Baby (1964) – considero este o momento em que Brian Wilson se aproxima totalmente de Phil Spector, uma de suas maiores influências. Tudo aqui é tão perfeito que chega a dar pena dos outros cantores e compositores. A letra é outra demonstração de preocupação com a vulnerabilidade das relações sentimentais diante do tempo. “Não se preoucupe, tudo vai ficar bem” é o que diz o amor de Brian na letra. Lindo é pouco.

 

 

01 – Caroline No (1966)- minha campeã absoluta, minha jóia total é a faixa que encerra “Pet Sounds”, antes de um trem passar e do latido de Bananas, o cachorro de Brian na época. A letra é sobre a passagem do tempo usando a mudança de uma mulher como campo de constatação. A melodia evoca tantas influências, de Esquivel a Tom Jobim, é tudo absolutamente perfeito e irretocável, inclusive o trocadilho com o título. Funciona demais também na versão totalmente instrumental.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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