Mate a Saudade dos 1990’s com Pinegrove

 

 

Pinegrove – 11:11

Gênero: Alt Country, Rock alternativo

Duração: 39:44 min
Faixas: 11
Produção: Evan Stephens Hall e Sam Skinner
Gravadora: Rough Trade

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Há pouco mais de dois anos, em 20 de janeiro de 2020, a Célula Pop publicou a resenha do quarto álbum do grupo americano Pinegrove, “Marigold”, com uma nota 4/5 estrelas, um bom conceito, convenhamos. Nela eu destacava a capacidade dos caras soarem como se estivessem em 1995, fazendo rock alternativo com pitadas folk e guitarrinhas espertas aqui e ali. Agora, ouvindo o sucessor daquele trabalho, “11:11” – numa trajetória que contou também com um disco ao vivo, chamado “Amperland, NY”, que saiu ano passado – é possível notar que, não só o Pinegrove continua em 1995, como se desenvolveu artisticamente tendo esta noção em vista. Não interessa para os sujeitos saírem dessa confortável dobra temporal, pelo contrário. Com esta sonoridade bem forjada e muito bem produzida, eles se comunicam com uma crescente audiência de gente jovem como com órfãos de bandas como Better Than Ezra, Goo Goo Dolls, Gin Blossoms, entre outras que povoavam as listas de clipes da MTV naquele tempo. O trunfo do Pinegrove neste vai e vem estético-temporal é o talento do vocalista e compositor Evan Stephens Hall, que tem boas sacadas na feitura das canções e tem um vocal muito convincente.

 

Há detalhes em “11:11” que são fruto dessa expansão artística. A presença de Chris Walla, ex-Death Cab For Cutie, na mixagem – excelente – do álbum, mostram que, sim, sua ex-banda também exerceu influência nas canções que Hall andou escrevendo e gravando. E isso foi incorporado de maneira espontânea no conjunto de detalhes do disco, dando uma nova camada de sentido ao som do Pinegrove. E dentro desse espaço que o grupo habita, há chance de uma canção como “Habitat”, abrir os trabalhos com quase sete minutos de duração, ostentando um instrumental que alterna silêncio e pequenas explosões de guitarras, algo que certamente fará fãs noventistas verterem uma singela lácrima de emoção. Mas, além do arranjo e da sacada, o que é mais legal nisso é assumir essa nostalgia de um tempo recente, ressignificando-o para uma audiência nova. E não há picaretagem de qualquer natureza por aqui, pelo contrário: tudo o que se ouve nas onze canções é fruto de uma musicalidade espontânea e cheia de sentido para quem canta e para quem ouve. Hall tem a manha para compor refrãos ganchudos e os coloca com naturalidade, dando ao álbum uma confortável aura pop, assim como em “Marigold”, o tal antecessor.

 

O que é bacana em “11:11”, fruto do crescente sucesso da banda, é que esta nova fornada de canções tem detalhes que são bem expressivos. Passando o “anda e para” de “Habitat”, a faixa de abertura, o ouvinte se depara com “Alaska”, que tem jeitão de canção de trilha sonora de seriados como “Party Of Five” ou “Gilmore Girls”, dado o seu andamento quase emocore, mas com detalhes de órgão e brincadeiras com guitarras e barulho/sutileza. “Iodine”, por sua vez, lembra os Goo Goo Dolls antes do sucesso mundial de “Iris”, em alguma faixa perdida. Também tem um pouco de Soul Asylum em alguns pontos do andamento, que muda e avança nos 2/3 finais da canção. E se “Orange” tem uma levada que emula uma espécie de valsa alt country, “Flora”, que vem em seguida, tem uma organização mais padronizada, pontuada pela bela melodia e pelo ótimo arranjo simples, porém eficiente.

 

O que pode ser novo para os ouvintes de “11:11” é a predileção que Hall e sua turma têm por arranjos mais contemplativos. A ideia de começar uma canção com um tom mais baixo e ir subindo à medida que o tempo avança, é a que norteia a maioria das faixas por aqui. Em “Let”, por exemplo, esta estrutura é ajudada por bons vocais de apoio e ótimo entrelace de guitarras e violões. Em “So What” isso muda para melhor e temos uma saudável caminhada rumo ao pop rock alternativo noventista, com um resultado muito satisfatório. “Swimming”, logo após, já puxa o freio de mão para o tal crescente lento de emoções. As duas finais, “Cyclone” e “11th Hour”, alternam este padrão, com momentos lentos e outros nem tanto, mas sempre dentro do que comporta esta noção alt-90s com detalhes legais aqui e ali.

 

O Pinegrove é um grupo legal e que já se tornou uma realidade para seus fãs. Sua música dá o que eles querem ouvir, um rock que ficou datado rápido demais e que, como eles mesmos provam, ainda é capaz de cativar muita gente por aí, sem que precisem recorrer a faixas dançantes, eletrônicas ou inserção de raps. Pelo menos, por enquanto. Se você gosta dessa sonoridade, esse disco e essa banda são para você.

 

Ouça primeiro: “So What”, “Habitat”, “Alaska”, “Flora”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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