Karen O e Danger Mouse – Lux Prima

Gênero: Pop Alternativo
Duração: 40:46
Faixas: 9
Produção: Danger Mouse
Gravadora: BMG

4 out of 5 stars (4 / 5)

Tenho um problema com álbuns como “Lux Prima”, colaboração do produtor Danger Mouse com Karen O, vocalista do Yeah Yeah Yeahs. Quase sempre eles rendem ótimas críticas da imprensa especializada, muito mais por serem bem sucedidos exercícios de estilo do que por criatividade. Tudo bem, nada errado em fazer um álbum emulando – ou se apropriando – de sonoridades já existentes, desde que isso fique claro. Do contrário, lemos resenhas e artigos elogiosos como se a pólvora fosse descoberta a cada lançamento assim. Felizmente, “Lux Prima”, ainda que tenha problemas, é um ótimo disco porque tem ótimas canções. E, como sabemos, isso é o que importa.

Karen O é uma escolha interessante para fornecer voz para as composições de DM. Ela tem inflexão vocal e afeição por músicas mais barulhentas e enguitarradas, mas acaba funcionando na maior parte do tempo, justo por precisar se reinventar/conter. Danger Mouse, por sua vez, influenciado por pop clássico sessentista, de grandes produtores do passado, com Phil Spector e por toda uma musicalidade clássica que, vez ou outra, já se chocou com este pop no passado – trilhas sonoras cinematográficas, sobretudo – mostra-se um ótimo compositor, talvez mais que produtor.

Claro, “Lux Prima” tem metais, cordas e arranjos que expõem este pop de herança clássica a climas lúgubres, cinzentos e noir, como acontecia em “Rome”, álbum anterior de DM, lançado em 2011. Mas, ao contrário deste, “Lux Prima” se assume como um disco de canções o tempo todo e seu charme está nisso. Há momentos em que Danger Mouse não resiste e mergulha nos climas e instrumentais do pop noir da virada dos anos 1960/70, caso específico de “Nox Lumina”, uma beleza classuda e de tintura eletrônica, que fecha o disco. Outro momento de grandiloquência é a faixa-título, que tem nove minutos e mistura vários climas e nuances.

O forte, como dissemos, fica com as canções. “Turn The Light” é uma faixa em midtempo, uma canção disco preguiçosa e linear, mas com muitas virtudes e ganchos melódicos. “Woman”, que só pode ser uma homenagem ao Wall Of Sound de Phil Spector, é uma fofura de quase três minutos, que traz Karen emulando uma vocalista dos anos dourados, exagerando propositalmente em muitos momentos, mostrando que a canção é uma homenagem generalizante – e bem intencionada – às mulheres. “Drown” é a melhor composição por aqui, uma prima distante do que bandas como Portishead costumavam fazer nos anos 1990, homenageando quase as mesmas fontes de inspiração que DM usa por aqui.

“Lux Prima” é um disco bem resolvido e elegante. Uma colaboração importante que nos proporciona momentos de alívio e deleite em relação ao pop eletrônico monotemático da atualidade. Ouçam com carinho.

Ouça primeiro: “Drown”.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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