Guia Musical para a Quarentena

 

 

Gente, temos que ficar em casa o maior tempo possível. A questão é de saúde pública (não privada) e é preciso obedecer às normas de precaução divulgadas pela Organização Mundial de Saúde. Só sair em caso de necessidade absoluta. Evitar o contato com outras pessoas, evitar multidões e aglomerações, proteger os idosos. Enquanto ficamos nessa quarentena, visando diminuir a velocidade de propagação do coronavírus, precisamos nos distrair para não enlouquecermos com as várias teorias da conspiração que já pipocam por aí. O covid-19 é uma arma da China. Há muito mais mortes do que estão sendo anunciadas. O covid-19 é isso, o covid-19 é aquilo. Portanto, por mais que a situação seja seríssima – talvez sem precedentes em nosso tempo – ficar em casa, lavar as mãos e evitar o contato já é o bastante. E, para ajudar a combater o stress crescente, fizemos um pequeno guia de música para você ouvir e gostar. É música nova, atual, que talvez você ainda não conheça.

 

– Discos

 

– Peter, Bjorn and John – “Endless Dream” – é o novo trabalho do trio sueco que emplacou mundialmente com “Young Folks” anos atrás. É pop alternativo extremamente melodioso e eficiente, com arranjos fofos e muito bem pensados. Todas as canções têm potencial radiofônico, se, claro, ainda existisse o rádio como ele costumava ser.

 

– Dead Lips – “Dead Lips” – é um projeto paralelo de Wayne Coyne e Steven Drodz (Flaming Lips) com Lindsey Troy e Julie Edwards (do Deap Valley). Ao contrário do que poderia ser, este é um disco bem amplo, muito além da psicodelia dos Flaming Lips. Tem canções estranhas, instrumentais e eletrônicas, indicadas para quem quer se aventurar em novos campos. Ouça o single “Home Thru Hell” para se ambientar.

 

 

– L.A Takedown – “Our Feeling Of Natural High” – Projeto pessoal de Aaron Olson, este é um disco praticamente instrumental, que poderia ser um álbum do duo francês Air. São belas faixas contemplativas, surreais e com uma pegada oitentista que dá gosto. Baterias eletrônicas, sintetizadores e guitarras dão a tônica.

 

– Boniface – “Boniface” – Dica do pessoal do Picanha Cultural, endossada por nós. É pop 2020, com seus erros e acertos. Tem uma coisa meio The Killers em algum lugar, um lirismo e intenção mais dramática, algo mais eletrônico – que lembra coisas como M83 – e boas ideias. É pop, é bem feito. Ouça “I Will Not Return As A Tourist” pra entender a onda.

 

– Grouplove – “Healer” – Banda de Los Angeles, o Grouplove chega com este que pode ser o seu melhor disco. De cara, uma das melhores canções do ano até agora, “Deleter” e a certeza de que há uma mistura de sons atuais – Foster The People, Cage The Elephant – com algo noventista, talvez de Weezer ou mesmo Pixies, com uma aura de produção totalmente atual. É interessante.

 

– Circa Waves – “Sad Happy” – Banda de Liverpool, o Circa Waves tem um som bastante diversificado. As três primeiras canções mostram isso: “Jacqueline” é um rock padrão Strokes; “Be Yor Drug” é algo mais eletrônico e “Move To San Francisco” é uma senhora canção pop perfeita, candidata a frequentar listas de melhores do ano. Ouça e encontre sua favorita neste belo disquitcho.

 

– Dan Lyons – “SubSuburbia” – Um dos grandes discos do ano que ninguém ouvir. Dan Lyons pega influências de Blur e Divine Comedy e faz uma crônica semi-ficcional da Inglaterra atual, do Brexit e do que não imaginamos que ocorra por lá. No meio do caminho, canções sensacionais como “Mr. Meaner” e “Biarritz” dão a tônica do disco. Há vinhetas faladas, uma riqueza instrumental inesperada e tudo dá certo.

 

– Maria McKee – “La Vita Nuova” – Lembram de uma banda que surgiu nos anos 1980 chamada Lone Justice? Maria McKee era a vocalista e, após um bom tempo afastada do disco, volta com este novo trabalho. O tempo lhe fez muito bem, ela ressurgiu com uma abordagem lírica e musical que lembra os discos jazzísticos de Joni Mitchell. Recomendada fortemente.

 

– James Hunter Six – “Nick Time” – Banda forjada na belezura do soul vintage do selo Daptone Records. Temos aquelas belas levadas híbridas de ritmos negros e alguma latinidade/bossa, especialmente na faixa de abertura, “I Can Change Your Mind”, com pianos, metais e tudo o que temos direito; “Till I Hear It From You” tem levada que poderia ser de um ensaio de “Take Five”; “Never” é trilha sonora do futuro que nunca chegou e por aí vai. Lindeza para se ouvir faxinando a casa.

 

– Swamp Dogg – “Sorry You Couldn’t Make It” – Este veteraníssimo do soul ressurgiu há dois anos por conta de um álbum autotunizado e produzido por Justin “Bon Iver” Vernon. Agora, com Vernon participando de uma faixa, ele retorna para seu ambiente original. Atenção para os duetos com o venerável John Prine, “Memories” e “Please Let Me Go Round Again”.

 

– The Saxophones – “Eternity Bay” – Alexi Erenkov e Alison Alderdice são um casal e têm fascinação pela música dos anos 1950, especialmente o easy listening. Sua fusão deste estilo com o rock alternativo noventista rende e rende muito neste seu segundo disco, que é todo belo e surpreendente. Recomendadíssimo.

 

– Brooke Bentham – “Everyday Nothing” – Cantora e compositora inglesa que surgiu há alguns anos como uma espécie de nova Alanis Morrisette, mas que sumiu com a fama rápida. Voltou agora com um belo disco de rock alternativo dos anos 1990. Parece uma versão desacelerada de Throwing Muses e daqueles grupos americanos legais. Ouça a abertura matadora com “With Love” e vá adiante.

 

– Grimes – “Miss Anthropocene” – Claire Elise Boucher, mais conhecida pelo seu nome artístico Grimes, é uma pessoa meio esquisita e isso se reflete em sua música. Aqui, no entanto, ela dá uma parada na doideira e lança um belíssimo disco de pop moderno, com ótimas canções, inspiração de Fleetwood Mac e um trocadilho no título, misturando misantropia com antropoceno. Belezura.

 

– Best Coast – “Always Tomorrow” – O duo de Bethany Consendino e Bobby Bruno volta com um novo disco que soa como um passo atrás em relação ao anterior, “California Nights”. Em vez do popão noventista, entra um rock rapidinho – “Different Light” – alusões ao Weezer inicial – “Everything Has Changed”, “For The First Time”, que é os cornos de “Naive Melody”, dos Talking Heads. É clima mais diversificado, lembrando uma versão mais pé no chão das HAIM. Vale a conferida.

 

– Arbor Labor Union – “New Petal Instants” – Banda com o selo SubPop de garantia, o ALU é da Georgia e faz um rock caipira invocadíssimo, com inflexões punk e a certeza de que estamos ouvindo uma mistura da primeira fase do Kings Of Leon com o Violent Femmes. Ouça “Give Us The Light” pra entender o esquema.

 

 

 

– Cícero – Cosmo – ver resenha aqui

– Mandy Moore – “Silver Landings” – ver resenha aqui

– Cornershop – “England Is A Garden” – ver resenha aqui

– Letrux – “Aos Prantos” – ver resenha aqui

– Lô Borges – “Dínamo” – ver resenha aqui

 

 

– Singles

 

– Mariana Volker – “Gigantesca” (versão píano) – A cantora e compositora carioca lançou versão piano/voz de sua ótima canção “Gigantesca” e isso é um motivo pra você dar uma ouvida no belo disco que ela lançou no fim do ano passado, “Órbita”.

 

 

– The Killers – “Caution” – Nova música do grupo americano, que antecipa a chegada do novo álbum, “Imploding The Mirage”. Bom pop rock tradicional dos caras, produzido pelo duo psicodélico Foxygen e com participação eminente de Lindsey Buckingham no solo de guitarra.

 

 

– Roger Eno, Brian Eno – “Slow Movement: Sand” – Terceiro single do vindouro álbum “Mixing Colours”, que os irmãos Eno estão para lançar. É música ambiente como sempre, bela como sempre, indicadíssima em tempos de nervosismo.

 

 

– Clarice Falcão – “Pra Ter O Que Fazer” – Clarice está no clima do último – e bom disco – “Tem Conserto”, no qual reinventou sua música com timbres eletrônicos. Este single antecipa um EP que deve sair em breve e segue na mesma onda de programações de baterias e visando as pistas de dança.

 

 

– Rumer – “Hard Times For Lovers” – A cantora inglesa de ascendência paquistanesa está para lançar um novo disco em breve. Este é o terceiro single que antecipa a chegada do trabalho e mostra Rumer em seu território habitual do classic pop. Ela é uma das vozes mais belas surgidas na música nos últimos dez anos e quase ninguém sabe.

 

 

– Norah Jones – “I’m Alive” – Menos de um ano após o lançamento do álbum anterior, Norah já anunciou o sucessor e já soltou um belo single engajado, chamado “I’m Alive”, falando sobre a necessidade das mulheres resistirem a este mundo machista e sinistro.

 

 

– Breakbot – “Be Mine Tonight”, “Juice” – Thibaut Berland, conhecido pelo seu nome artístico Breakbot, é um fã dos sons da disco music. Ele funciona como alternativa para os badalados Daft Punk. Aqui ele surge em dois singles, o primeiro, “Be Mine…” antecipa seu próximo disco e “Juice”, que é um remix sensacional para o sucesso da ótima Lizzo. Conheça.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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