Mandy Moore – Silver Landings

 

 

 

Gênero: Pop, rock

Duração: 41 min.
Faixas: 10
Produção: Mike Viola
Gravadora: Verve

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Mandy Moore já era adorável muito antes de viver a Rebecca Pierson em “This Is Us”. Ainda que este papel tenha dado a ela indicações para o Globo de Ouro, Mandy é uma cantora e já tem uma carreira respeitável. Começou nos moldes das teenage pop singers do início dos anos 2000, gravou um belo álbum de covers em 2003 (“Coverage”), seguiu em frente até 2012, quando deu uma parada no ofício musical para se dedicar às telinhas. Agora, devidamente consolidada como uma boa atriz, ela retorna ao que parece gostar mais de fazer: cantar. Mandy, no entanto, não é só mais um rostinho (muito) bonito por trás do microfone. Ela canta, compõe, co- produz e, a exemplo de sua personagem, tem um bom gosto em termos de influências e parâmetros para seu canto. “Silver Landings” é um exemplo disso.

 

A ideia aqui é dar uma voltinha pela Costa Oeste americana do fim dos anos 1970, usando como parâmetro o Fleetwood Mac da fase Lindsey Buckingham/Stevie Nicks. Para isso, ela tem no bolso do colete a participação de Mike Viola, ex-colaborador do Mac, coassinando faixas e a coproduzindo o disco. O som tem aquele ponto de partida folk rock harmonioso, com base de guitarras, baixo e bateria, intervenções de pianos e teclados, tudo com aquele gosto inegável de sol, amor e o fusquinha amarelo de Goldie Hawn passeando pela Pacific Coast Highway numa tarde de sol, na abertura de “Golpe Sujo”, passando numa TV mental qualquer. É nostalgia boa de se viver e revolver, mas não tem qualquer cheiro de mofo.

 

Mandy é boa cantora. Suas canções são especialmente bonitas, sua voz alcança tons e nuances, interpreta com carinho e sentimento as letras e tudo funciona de forma sincera. A maioria das faixas tem andamento em midtempo, mas há espaço para baladas e momentos mais intensos. “Fifteen”, por exemplo, é um ótimo cartão de visitas para o fã que deseja ouvir algo além do pop atual. Tem violão e guitarra dedilhados, tem estrutura de standard pop setentista, bons toques de violinos e uma letra que pode ser autobiográfica nos versos “No regrets/With a few exceptions/Every wrong turn/Was the right direction”. Poderia ser a grande balada de 2020, se isso ainda existisse.

 

Os momentos em midtempo são os meus pessoais favoritos. A abertura com “I’d Rather Lose” tem um arranjo elegantíssimo, que também pode lembrar a produção de James Taylor no início de sua fase CBS ou algo daquele início de anos 1980. “Save A Little For Yourself” já opera numa outra base, com linha de baixo sinuosa, riff delicadíssimo e pinta de faixa perdida num programa de FM da vida. “When I Wasn’t Watching” é outra pequena pepita perdida, que parece, sim, alguma faixa obscura do Fleetwood Mac de “Mirage”, lá em 1982. “Stories Reminding Myself Of Me” também vai por este caminho, unindo melodia e letra numa pegada de tema de abertura de série que há muito não é reprisada. A faixa-título arremata a conta com outro exemplo de bela canção contemplativa e eletroacústica.

 

Mandy Moore dá provas de talento inegável como cantora e compositora. Seu disco é um acerto do início ao fim, configurando-a como uma improvável figurante em listas de melhores produções de 2020. Belo, emocional e muito bem feito, “Silver Landings” é uma surpresa.

 

Ouça primeiro: “Fifteen”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Mandy Moore – Silver Landings

  • 17 de março de 2020 em 14:07
    Permalink

    Adorei sua resenha. O álbum dela realmente é ótimo. Ela realmente tem um bom gosto e amadureceu brilhantemente. Viva Mandy! <3

    Resposta
    • 17 de março de 2020 em 14:14
      Permalink

      Mandy é sensacional. Vc conhece o disco dela de 2002, o Coverage? Recomendo muito a audição!

      Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *