Céu – 15 Anos de Modernidade Constante

“Modernizar o passado é uma evolução musical”, já dizia Chico Science em “Monólogo Ao Pé do Ouvido”, há 25 anos. A regra segue intocada e aplicável. Céu, por exemplo, é uma modernizadora de tradições tropicais e autorais típicas da música brasileira mais astuta e interessante. Sua receita é complexa e passa, necessariamente, por entender que a nossa cultura está inserida em vários contextos mundiais e ancestrais que se dobram uns sobre os outros e se movem em velocidades distintas. E dessas relações surge o que Céu leva para o disco e para o palco. Parece fácil, mas não é.

Nesta receita vão pitadas e porções de MPB, Tropicalismo, samba, reggae, afrobeat, hip hop, jazz, eletrônica, R&B, tudo junto. A compreensão dessa mistura de elementos é essencial para apreciar a música que Céu produz, bem como é indissociável do próprio processo criativo dela, Maria do Céu Whitaker Poças, enquanto artista.

São quatro álbuns de material inédito, um ao vivo e alguns EPs com remixes e versões aqui e ali. A obra de Céu tem caminho próprio mas também se aconchega numa modernidade brasileira que parece inacreditável dados os tempos que vivemos hoje no país. É uma música gentil, sinuosa e sensual, que se conecta com a própria cantora, seja em palco, seja em estúdio, ampliando sentidos e impressões. Seja em composições próprias, caso dos hits “Cangote”, “Malemolência”, “Perfume do Invisível”, em faixas obscuras e sensacionais, como “Minhas Bics” ou versões, caso de “Chico Buarque Song”, do mitológico grupo paulistano Fellini, “Concrete Jungle”, de Bob Marley, ou “Mil e Uma Noites de Amor”, de Pepeu Gomes.

Céu tem aquele toque que converte o alheio em algo seu. E isso é raro.

Em comemoração aos 15 anos de carreira, a cantora estará no Z – Largo da Batata, para uma micro-temporada de três noites, entre 20 e 22 de março. Esperamos que estes shows se convertam em espetáculos itinerantes que a levem para vários cantos do país e do mundo, logo. Por enquanto, estes felizardos paulistanos podem e devem comparecer para ver uma artista no controle de sua obra e apontando – sempre – para o futuro.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *