1964 é pra estudar, nunca pra comemorar

 

Hoje, 31 de março, dia do mergulho do Brasil nas trevas da ditadura militar.

 

O país interrompia seu projeto nacional-desenvolvimentista e iniciava um período de retrocesso, perda de liberdades e violência institucional.

 

Quem chama o golpe de 1964 de “revolução” é a favor do que ele representou. Simples assim.

 

Que comemora a data é anti-povo e anti-Brasil.

 

Em vez de comemorar, a gente resgata este belíssimo samba de Luis Carlos da Vila, gravado em 1984 por Simone e Neguinho da Beija-Flor, em meio ao clima das Diretas Já. Luis Carlos foi um dos participantes importantes do bloco carnavalesco Cacique de Ramos em fins dos anos 1970, junto com Arlindo Cruz, Sombrinha, Almir Guineto, Sereno e tantos outros que fundaram o que seria conhecido como “moderno samba carioca”.

 

A letra  de “Por Um Dia De Graça” é uma anunciação pelo fim da ditadura militar, usando como pano de fundo a felicidade, a união de todos e manifestação das pessoas na rua, em festa.

 

Precisamos da união de pessoas em prol de um país com democracia sólida, que não pode ser aviltada por políticos notadamente corruptos, oportunista e que representam setores impopulares da sociedade brasileira, unidos para, sob termos como “flexibilização de diretos trabalhistas” ou “estado mais eficiente”, acabar com todas as conquistas sociais dos últimos 13 anos, entregando o país para o capital financeiro internacional.

 

Com o atual governo, precisamos lembrar de que somos capazes de resistir e entender que 1964 significou a entrada do Brasil numa espiral de fracassos nacionais que só foram atenuados a partir de 2002. E com o golpe de 2016, voltamos a flertar com o infortúnio.

 

Um dia, meus olhos ainda hão de ver
Na luz do olhar do amanhecer
Sorrir o dia de graça
Poesias, brindando essa manhã feliz
Do mal cortado na raiz
Do jeito que o Mestre sonhava

O não chorar
O não sofrer se alastrando
No céu da vida, o amor brilhando
A paz reinando em Santa Paz

Em cada palma de mão, cada palmo de chão
Semente de felicidade
O fim de toda a opressão, o cantar com emoção
Raiou a liberdade

Chegou o áureo tempo de justiça
Há esplendor, do preservar a Natureza
Respeito a todos os artistas
A porta aberta ao irmão
De qualquer chão, de qualquer raça
O Povo todo em louvação
Por este dia de graça.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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