Whitney – Forever Turned Around

 

Gênero: Rock alternativo, country rock
Faixas: 10
Duração: 32 min
Produção: Jonathan Rado, Brad Cook
Gravadora: Secretly Canadian

5 out of 5 stars (5 / 5)

 

O Whitney lançou este seu segundo disco na sexta passada, dia 29 de agosto e a prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, cidade natal do grupo, decretou que o sábado, dia 30, seria o Dia Oficial do Whitney. Eventos com a dupla, shows, entrevista de rádio, e mais um monte de ações envolvendo o duo tiveram lugar. Vejam, não é em uma cidadezinha do interior, foi na tradicionalíssima “Windy City”, um lugar que já deu ao mundo toda uma escola de blues elétrico, grandes bandas, cantores e gente legal. Mesmo que seja um exagero marqueteiro, Whitney é uma das mais interessantes formações surgidas no cenário alternativo americano nos últimos anos. “Forever Turned Around” vem confirmar todas as expectativas.

 

Ao contrário da regra vigente no showbusiness musical, a da mudança a qualquer custo, Whitney resolveu entregar um disco praticamente igual à estreia, “Light Upon The Lake”, lançado em 2016. A diferença está nas circunstâncias de composição das faixas. A estreia fez sucesso dos dois lados do Atlântico, levando Max Kakacek e Julien Erlich – os cérebros e atores por trás do nome – a ter a estrada como musa inspiradora. Na verdade, isso não é totalmente preciso. A dupla entrou em turnê após o primeiro disco e não parou mais. Vários shows, apresentações, festivais e um ritmo alucinante levou os sujeitos a comporem onde dava. Os temas são os mesmos: sentimentos, relações, amor não correspondido e o principal traço se manteve intacto: uma doçura impressionante nos arranjos, marcados pela voz sui generis de Erlich, um falsete pouquíssimo convencional, às vezes tristíssimo, às vezes quase infantil/feminino.

 

Os arranjos privilegiam uma abordagem acústica – baixo, bateria, guitarra – mas abrem espaço para metais, cordas e teclados, todos posicionados, brifados e concebidos com a única intenção de despertar beleza em meio às canções. Não há uma única partícula de maldade, rancor, ódio ou outro sentimento negativo. O clima que paira sobre as faixas, guardando as devidas proporções, é de uma mistura celestial entre Carpenters e The Band, se isso fosse possível em 2019. Não há nada sendo feito hoje que chegue aos pés da beleza que é “Giving Up”, que tem violões entrelaçados a órgão Wurltzer e uma coda de metais ao final, que pega o ouvinte pelo braço e o leva para ver o sol se por.

 

O desfile de lindezas promovido por Whitney é inconteste. Todas as canções são muito bem pensadas, compostas com o coração na ponta da chuteira. A delicadeza de “Used To Be Lonely” abre possibilidades de felicidade após um tempo longo demais sozinho, enquanto “Before I Knew It” novamente usa metais para conceder espaço ao vôo vocal de Julien Erlich, quase uma mistura de Beto Guedes com outro vocalista estranho do passado. “Song For Ty”, com guitarrinhas que brincam de emular clima de soul music obscura, é um bichinho sob o sol de manhã, assim como “Valleys”, um dos primeiros singles a serem lançados. Após o belo instrumental “Rhododendron”, tem início o desfile final: “My Life Alone”, “Day & Night”, “Friend Of Mine” e a faixa-título sabem no braço para disputar quem é a mais bela, singela, simpática e terna de todas.

 

Passando pouco mais de meia hora na companhia de Whitney, a gente sai acreditando em paz mundial, preservação do meio ambiente e na harmonia entre os povos. Bichos, pássaros e pessoas passam brincando pela janela que dá para o jardim e o sol convida para um piquenique com seus melhores amigos, ex-amores da adolescência e tudo mais. Música também serve pra isso, gente.

 

Ouça primeiro: o disco todo.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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