Star Trek: Picard – Estamos na torcida

 

 

Já há dois episódios disponíveis da novíssima série baseada no universo criado por Gene Roddenberry nos anos 1960. “Star Trek Picard” estreou no serviço de streaming Amazon Prime e já se mostrou um produto muito superior à malfadada franquia anterior, “Discovery”. Dava até pra ter medo, uma vez que o produtor e roteirista Akiva Goldsman também está envolvido nesta nova história. A julgar pelo que foi visto no primeiro capítulo da trama, podemos ficar – mais ou menos – sossegados e experimentar certo otimismo pelo que vem aí.

 

O motivo da segurança é a presença de Patrick Stewart, o próprio Capitão Jean-Luc Picard, que comandou as Enterprises D, E e F nos filmes e séries rodadas a partir dos anos 1990. Com ele à frente, Star Trek gerou novas séries como “Next Generation”, “Deep Space 9”, “Voyager” – todas ambientadas no mesmo espaço de tempo com Picard sendo uma figura marcante -, “Enterprise” e “Discovery”, estas últimas com ação transcorrendo antes da época dele. Além delas, quatro longas foram produzidos com a tripulação chefiada por Picard – “Generations”, “Primeiro Contato”, “Insurreição” e “Nêmesis”. É nessas obras que a nova série busca seus fatos e dados, bem como na versão de “Star Trek” de 2009, já dirigida por JJ Abrams.

 

O que temos então? Picard é um ex-Almirante da Frota Estelar e vive numa vinícola na França, vinte anos após dar baixa. Logo descobrimos que ele vive amargurado com o passado, tanto pela morte do amigo Data – que ocorre em “Nêmesis” – quanto pela postura da Frota diante da crise romulana, algo mencionado na versão cinematográfica de Abrams. Os planetas Rômulos e Remus, inimigos da Federação dos Planetas, foram destruídos por uma explosão de supernova. A população foi evacuada às pressas, causando a morte de muitos. De acordo com os esforços de Picard, a Federação deveria ajudar na evacuação/reassentamento dos refugiados, algo que acabou não acontecendo. Picard se culpa pelo acontecido e, pelo que tudo indica, tal fato motivou sua saída do serviço e aposentadoria.

 

Ao longo deste período, o velho oficial tornou-se um homem recluso, algo que ele já era quando comandava. Sério, introspectivo e extremamente culto, Picard sempre foi uma espécie de antítese do Capitão Kirk e, apesar da desconfiança original, conquistou o coração de velhos e novos fãs quando surgiu em “Nova Geração”. Muito disso se deve à ótima interpretação de Patrick Stewart. Os novos eventos vão encontrar Picard nesse autoexílio e vão cutucar seu passado, especialmente a parte em que ele se questiona sobre o sacrifício feito por Data e pelo recente incidente em que androides rebeldes atacaram instalações da Federação em Marte, destruindo-as completamente, fato que causou a proibição da construção de androides. O primeiro episódio aponta para conexões obscuras no passado do velho Capitão, que servirão de motivo para que ele saia da toca e vá atrás de redenção.

 

Mesmo que seja um clichê, “o velho oficial que vai em busca do passado para suportar e explicar o presente” parece funcionar aqui. É essencial que os atores das séries anteriores apareçam ao longo dos episódios e já é certo que teremos o Capitão Riker (Jonathan Frakes), a Conselheira Deanna Troi (Marina Sirtis), a ex-borg Sete de Nove (Jeri Ryan), o próprio Data (Brent Spinner) e novos personagens: Dahj (Isa Briones), Cris Rios (Santiago Cabrera) e Agnes Jurati (Alison Pill).

 

Com efeitos especiais bastante convincentes e um enorme respeito pelos traços e características das séries anteriores, “Picard” parece ter acertado o tom no primeiro episódio. Estamos de olho.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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