Vivendo do Ócio – Vivendo do Ócio

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 30 min.
Faixas: 10
Produção: Thiago Guerra e Gabriel Zander
Gravadora: Flecha Discos

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

Os baianos do Vivendo do Ócio ficaram cinco anos sem lançar um novo disco e preenchem esta lacuna agora, com seu quarto trabalho. Levando o nome da banda, o álbum tem dez faixas que mostram exatamente as virtudes e os defeitos da banda, expostos nestes treze anos de carreira. Nesta altura da cena cultural brasileira, todo esforço para lançar um disco de rock é louvável e merece nosso respeito. Poucas vezes o cenário foi tão hostil para formações do estilo. Agora imagine para uma banda baiana, de Salvador, que precisa lidar com aquela noção de que os habitantes da cidade só fazem samba, axé e qualquer outro ritmo, menos rock. É uma maldição antiga, mas que ainda é bastante presente e eficaz.

 

O disco foi produzido por Thiago Guerra e Gabriel Zander, que conseguiram proporcionar uma sonoridade convincente e bem pensada. A banda tem DNA de rock sessentista – no sentido Rolling Stones do termo – mas também mostra influências das sonoridades pós-Strokes dos anos 2000, além de alguma referência do conterrâneo Raul Seixas, devidamente reprocessada no apego guitarrístico que as canções exibem. A diferença marcante deste novo trabalho em relação aos anteriores é o desejo que a banda demonstra de misturar elementos ao rock habitual. De vez em quando entra uma levada mais lenta aqui, um naipe de metais ali, que aumentam o risco de pisada na bola. Talvez fosse melhor manter a simplicidade inspirada de antanho.

 

O que temos é um feixe de meia hora de música, dividida em dez faixas. Tudo é bem tocado por aqui, não há deslize técnico de nenhuma natureza, o que é bom. O problema está neste desejo de incorporar novos sons, algo que precisa ser feito com cuidado e real desejo. Há uma parte bossa- nova/metais no final de “O Agora”, que soa bem intencionada, mas pouco acrescenta à música. Um certo clima de r&b tradicional – no sentido sessentista do termo – surge em “O Amor Passa No Teste”, sem chegar a atrapalhar, mas talvez seja um dos momentos menos inspirados do álbum. E o momento de quase constrangimento que chega na letra em italiano (!!) de “Il Tempo”, sem falar na letra pueril de “Nova Ordem” (“ainda tem gente ignorante achando que estamos sós/você mesmo pode ser um ET/ ou ter passado por algum na rua”).

 

Os acertos compensam estes deslizes, felizmente. A abertura, com “Cê Pode”, tem uma levada que lembra alguma coisa que os Picassos Falsos poderiam ter feito em seu disco “Supercarioca”, um baita elogio. As levadas de guitarra, especialmente. “Paredes Vazias”, que tem participação de Fábio Trummer, da banda Eddie, tem boa dinâmica guitarrística e clima anos 2000, enquanto “Vestígio”, a faixa de encerramento, é a melhor canção do álbum, com clima levemente funkeado e ótimo diálogo entre baixo, bateria e guitarra, em meio a mudanças de andamento, surpresas e certa influência strokiana/loshermânica.

 

Vivendo do Ócio tem trabalho consistente e não deve ser censurada por desejar mudar de ambientes sonoros. O melhor da banda está nesta disposição em seguir gravando e mostrando seus méritos. Se o mundo fosse mais justo, seria a banda do coração de muita gente pelo país adentro.

 

Ouça primeiro: “Vestígios”.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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